As síndromes comportamentais relacionadas à alimentação têm sido campo de estudos aprofundados, resultando em diversas pesquisas sobre os pacientes e suas condições, bem como uma melhor delimitação dos diferentes distúrbios.
Especialmente nos últimos 30 anos, houve uma manifestação médica e psicológica grande para melhor compreender os fatores desencadeantes e relacionados, além das suas consequentes complicações, sobretudo, nos casos de bulimia nervosa, anorexia nervosa e transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP).
Estudos indicam que até 5% da população mundial sofre com algum tipo de distúrbio da alimentação. Mas os índices podem ser ainda maiores, porque a maioria dos pacientes não buscam ajuda profissional.
Comer, que carrega um vínculo social e afetivo, torna-se então um ato de sofrimento e entra no campo das patologias.
Continue acompanhando o artigo para mais informações sobre a compulsão alimentar, causas, sintomas e o como tratar!
Índice – neste artigo você vai encontrar as seguintes informações:
A condição, denominada transtorno de compulsão alimentar periódica (TCAP) está relacionada com distúrbios químicos cerebrais, em que as percepções de fome e saciedade são alteradas.
Em 1959, Stunkard descreveu o transtorno de compulsão alimentar a partir de um grupo de pessoas obesas que apresentavam quadros de ingestão compulsiva, mas sem métodos compensatórios.
Há diversas denominações, como “comer compulsivo”, “crises de voracidade alimentar” ou “Binge Eating”, mas todas designam o TCAP, Transtorno Compulsivo Alimentar Periódico.
As causas do distúrbio alimentar são multifatoriais, podendo ser acarretados e influenciados por fatores genéticos, socioculturais e vulnerabilidades biológicas e psicológicas. Em geral, há uma predisposição individual para desordens alimentares, que podem ser acentuadas por fatores externos.
A maioria das pessoas já exagerou no almoço de família ou comeu muito chocolate após um dia estressante. Mesmo quando há o sentimento de gula pela própria pessoa, esses quadros esporádicos não são classificados como compulsão.Para se configurar como transtorno alimentar compulsivo, as refeições exageradas devem ser acompanhadas de arrependimento ou culpa. Ainda que possam ocorrer com frequências variadas, em geral, estipula-se ao menos 2 episódios semanais de crise compulsiva (refeições exageradas).
Os ataques são, também, seguidos de uma grande frustração ou dor emocional. Mas a perda de controle diante da comida é o principal aspecto a ser observado.
Não é como se o paciente desejasse comer um pouco a mais ou sentisse que deveria não comer tanto. A compulsão é como uma necessidade insuportável de ingerir grandes quantidades de comida, geralmente, a fim de compensar algum conflito emocional.
O paciente compulsivo pode ser acometido com frequência pelo sentimento de impotência perante os alimentos, além de desenvolver pensamentos obsessivos com a comida. Nesses casos, as refeições ficam cada vez menos espaçadas e toda a concentração do paciente se volta à ingestão de alimentos.
Em alguns casos, há produtos que tendem a despertar mais facilmente o episódio de compulsão, como doces e alimentos ricos em gordura saturada. Mas em alguns casos, os pacientes apenas sentem a necessidade de comer exageradamente qualquer tipo de comida, incluindo aquelas consideradas saudáveis.As refeições são seguidas de uma incapacidade de interromper a refeição quando a saciedade é alcançada. Assim, o paciente é acometido por arrependimento, culpa e vergonha por não manter o controle.
Geralmente os episódios ocorrem sem o conhecimento da família ou amigos devido ao sentimento de constrangimento perante à ação.
Apesar de haver uma aproximação com o quadro de bulimia nervosa, na compulsão alimentar não há presença de atos compensatórios (evitando o ganho de peso) após as crises e, por isso, a tendência é acarretar no ganho de peso.
A condição está listada sob o apêndice B do DSM IV - Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais -, que abrange transtornos alimentares sem outra especificação, e sob o CID F50.9, de transtorno de alimentação não especificado.
Em suma, comer exageradamente se caracteriza como um distúrbio alimentar quando há ingestão de quantias muito maiores do que as demais refeições, em períodos curtos e limitados de tempo, seguidos de apreensão emocional.
Leia mais: Como ter uma relação saudável com a comida?
De um lado, temos uma grande oferta alimentar, de outro, temos a ascensão das dietas e restrições. Entre os dois extremos, encontram-se indivíduos cada vez mais vulneráveis, aprisionados nos padrões e suscetíveis aos transtornos psicológicos e alimentares.
A partir da revolução industrial, a sociedade passou a viver em uma lógica capitalista de acumulação que inclui, entre os bens acumulados, o alimento. A maior oferta no comércio e a relativa ascensão econômica, fizeram com que os hábitos de consumo fossem gradativamente alterados.
Passados os períodos de crise, a indústria alimentar também se modificou. Os mercados, que antes eram compostos sobretudo de alimentos perecíveis, começaram a ofertar produtos cada vez mais duráveis: congelados, enlatados, desidratados.
Necessitando aumentar a durabilidade, os produtos são acrescidos de conservantes e reguladores, que alteram também a constituição nutricional.
As pessoas também mudaram seus ritmos de vida e rotina. Comer fora ficou cada vez mais comum, o número de restaurantes cresceu consideravelmente nos últimos anos, os fast-foods eclodiram e a falta de tempo para uma alimentação mais equilibrada e natural foi devorada pelas necessidades urbanas.
Tornou-se cada vez mais difícil optar pela comida caseira e balanceada quando ela disputa espaço com tantas redes de produtos industrializados, muito mais fáceis, rápidos e acessíveis.
A vilã da alimentação urbana é, sobretudo, a mudança da composição alimentar. Em pesquisa realizada pela Nielsen Global, mais da metade dos entrevistados, cerca de 53% prefere almoçar fast-foods. A grande quantidade de sódio, calorias e gorduras presentes nessa alimentação resultou em mudanças na balança.
A média de peso do brasileiro subiu 60% nos últimos 10 anos, advinda principalmente da má alimentação e dos hábitos sedentários. O sobrepeso e a obesidade são problemas visíveis dessas alterações alimentares, mas e quando os riscos à saúde não estão tão visíveis?Enquanto cerca de 57% da sociedade apresenta sobrepeso, há um crescente - e preocupante - aumento dos diagnósticos de transtorno alimentar. Entre eles, a compulsão alimentar, que representa 4,7% dos casos no Brasil.
Muitas vezes a condição é confundida com gula, exagero ou preguiça de iniciar uma dieta. Mas a compulsão é exatamente o que o nome sugere: a falta de controle patológica diante da comida.
Os transtornos alimentares são extremamente debatidos no meio psiquiátrico e social. Há uma série de fatores que se ligam, compondo possíveis origens do problema. Mas determinar o agente causador ainda é bastante complexo.
Não há conhecimento de um gene que desencadeia o comer compulsivo ou os demais transtornos alimentares. A herança genética, conduto, é um fator bastante presente na propensão aos diversos distúrbios.
Isso porque o formato corporal, os atributos físicos e a dificuldade em perder peso podem ser incidências que encaminham o paciente à baixa autoestima e distorções de imagem.
Quando há uma intensa insatisfação corporal ou uma dificuldade acentuada em emagrecer, a condição física se torna um fator de sofrimento e angústia.
Muitas vezes, a pressão e a cobrança que há sobre a pessoa com sobrepeso é tamanha, que o transtorno compulsivo alimentar pode se desenvolver, associado ou não a outros problemas emocionais, como ansiedade e depressão.
Estudos recentes apontam alterações nas atividades neurais nas regiões do córtex cingulado, frontal, temporal e parietal. Essas atividades cerebrais são relacionadas com o controle de comportamentos naturais, como o alimentar e o sexual.
As pesquisas apontam que diferentes transtornos alimentares apresentam comportamento neurológico diferenciado. Ou seja, o cérebro de uma paciente com anorexia responde de modos diferentes se comparado ao paciente com compulsão, indicando a presença de alteração neuroquímica relacionada à condição compulsiva.
Há sinais de que os sistemas de recompensa (que dão sensação de prazer) estão relacionados diretamente com os comportamentos compulsivos. Portanto, pessoas com vícios ou compulsões têm sua capacidade de escolha e autocontrole reduzidas.
Pesquisas realizadas também apontam que os valores metabólicos se mostram alterados nos pacientes com TCAP. Em que os hormônios leptina, grelina e colecistocinina, relacionados às funções de saciedade, regulação de taxas metabólicas e a percepção de ingestão alimentar, apresentam alterações significativas.
Os alimentos e o ato de comer estão fortemente relacionados com as emoções, por isso, há uma alta incidência de alterações alimentares relacionadas aos estados emocionais.
Assim como há pessoas que perdem a fome em momentos de estresse a ansiedade, outras recorrem aos alimentos para descontar emoções e frustrações.
Além disso, pacientes em tratamento de depressão ou transtorno de ansiedade generalizada tendem a apresentar distúrbios pontuais na alimentação, como dificuldade em comer ou fome acentuada.
Nesses casos, as disfunções de apetite são condicionadas à depressão ou ansiedade, não compondo um transtorno alimentar.
No entanto, como as doenças psicológicas apresentam, com certa regularidade, interdependência com alterações da alimentação (descontar as emoções nas refeições), elas podem predispor o paciente ao hábito compulsivo alimentar.
A baixa autoestima, a auto cobrança excessiva, a vontade de emagrecer ou se enquadrar em padrões estéticos se tornam comportamentos de risco numa sociedade que tende a exercer grande pressão estética.
A cobrança e imposição da familiares e amigos, bem como a convivência em ambientes que supervalorizam dietas e a estética podem favorecer os distúrbios de imagem, fazendo com que a pessoa se sinta desajustada e desenvolva hábitos alimentares inadequados e não saudáveis.
Pesquisas apontam que até 95% das pessoas que já realizam algum tipo de dieta restritiva (aquelas em que se reduz drasticamente a ingestão de pelo menos um nutriente) voltam a engordar.
Estudos de revisão apontam que a maioria das pessoas que realizou dieta, a fez sem acompanhamento médico ou nutricional. Geralmente, optando por cardápios restritivos, que são aqueles em que se corta ou se restringe drasticamente algum alimento ou nutriente, visando diminuir a ingestão calórica.
Além da grande maioria voltar a engordar, em alguns casos, o paciente chega a um peso maior do que tinha antes de iniciar a dieta.
Esses fatores - dificuldade em manter o cardápio e o posterior aumento de peso - incidem numa descompensação emocional, sentimento de frustração e alterações neuroquímicas, que podem alterar a relação saudável com a comida.
Somando com a pressão sociocultural, há contextos que favorecem o desenvolvimento de comportamentos alimentares perigosos.
Os mais comuns envolvem profissões de atuação pública, como modelos, atrizes e atores, e cantores, que geralmente possuem severas cobranças quanto ao corpo e aparência.
Em 2015, o Senado francês adotou emendas para a Saúde Nacional em que modelos abaixo de IMC 18 (índice de massa corporal), não podem ser contratadas ou vinculadas a campanhas. A medida visa desincentivar a cobrança das agências e a publicidade da magreza exacerbada e a influência nas demais esferas sociais, sobretudo em crianças e adolescentes.A medida se mostra eficaz, pois pesquisas realizadas entre 2007 e 2011 apontam que crianças que presenciam dietas rígidas em ambientes familiares (dos pais ou irmãos) ou através da mídia estão mais propensas a desenvolver distúrbios de alimentação durante a infância, que pode durar até a adolescência ou se estender à fase adulta.
Os alimentos industrializados são acrescidos de diversos compostos químicos que atuam conservando o alimento, acentuando ou conferindo aromas e sabores artificiais. Além disso, pesquisas em nutrição apontam o alto índice de açúcares e gorduras adicionados neles.
Especialmente a gordura saturada e o açúcar refinado atuam diretamente no cérebro, causando sensações de bem-estar. Estudos publicados apontam que ingerir chocolate ao leite promove sensações aproximadas aos efeitos de medicamentos relaxantes.
Esses efeitos vêm da alta quantidade de triptofano, advinda do leite, e feniletilamina, presente no cacau.
Ao ingerir o produto, sobretudo se houver altas concentrações de açúcar, há uma promoção de conforto e relaxamento, mas que rapidamente se esgota. Assim, o organismo, que deseja novamente a sensação de bem-estar, estimula a vontade de comer aquele alimento outra vez.
O desejo de ingerir mais doces ou comidas ricas em gordura é, até certo ponto, normal. Sendo uma resposta natural do corpo em busca de prazer. Mas quando a pessoa possui predisposição ao distúrbio alimentar, esse desejo não é processado de forma saudável.
A vontade se torna uma necessidade e acomete a pessoa de modo incontrolável, sendo carregada de culpa.
Além disso, dietas muito rígidas podem atuar despertando um desejo exagerado sobre o ato de comer. Portanto, quando a dieta reduz muito as o tamanho ou qualidade das refeições, sobretudo proibindo determinado alimento (como o açúcar), há a possibilidade de se criar uma necessidade latente, como se o organismo entrasse em abstinência.
Fatores individuais que representam riscos pode ser:
No entanto, pessoas envolvidas em atividades de grande exposição corporal (como pessoas públicas) e que se submetem a dietas rígidas constantes também compõem grupos susceptíveis.
Em geral, relata-se a perda de controle diante das refeições. O paciente se sente incapaz de parar de comer mesmo quando já está saciado.
O quadro de compulsão alimentar se qualifica quando há episódios recorrentes de ingestão exagerada de alimentos em períodos curtos de tempo, cerca de 2 horas.
Enquanto a recomendação diária média de calorias fica em torno de 2 mil kcal, uma pessoa em compulsão pode ingerir mais de 5 mil kcal em uma única refeição. Os alimentos são mal mastigados, às vezes até engolidos quase inteiros.
Muitos pacientes comem escondido, criando rotinas alimentares que envolvem comer sozinhos, guardar ou esconder alimentos e evitar ocasiões públicas em que haverá comida.
O sentimento de angústia e arrependimento segue imediatamente após uma crise compulsiva, fazendo com que a pessoa entre num ciclo de culpa e autodepreciação.
Ansiedade, depressão e outros transtornos compulsivos podem se apresentar. A insatisfação corporal pode acarretar no sentimento de inadequação social, que se torna uma agravante para o quadro depressivo.
Também é possível que ocasiões sociais, sobretudo que envolvam alimentação, passem a ser evitadas pelo paciente, devido à ansiedade e à vergonha de comer em público. Acarretando em quadros de isolamento social, familiar e afetivo.
Assim, em síntese, pode-se ter um quadro associado de, pelo menos, 3 sintomas listados abaixo:
Entre os sintomas clínicos:
Entre os sintomas emocionais:
Estudos apontam que pessoas com distúrbio de alimentação compulsiva estejam mais predispostas a se tornarem obesas, devido a alta ingestão calórica, no entanto a condição não está, obrigatoriamente, relacionada à obesidade.
Enquanto o transtorno acomete cerca de 1,5% da população em geral, o índice sobe para 8% nos obesos, 30% em pacientes que fazem tratamento ou dietas para perda de peso, e chega a 50% em quem tem obesidade mórbida.
Segundo os critérios da Organização Mundial de Saúde, a obesidade é diagnosticada a partir do Índice de Massa Corporal (IMC). Além disso, a circunferência abdominal e avaliações cardiovasculares ajudam a compor o quadro de obesidade.O IMC é determinado através da divisão do peso (em quilos) pela altura (em centímetros) ao quadrado. Ou seja, peso ÷ altura x altura.Confira o IMC abaixo:
A obesidade também pode ser resultado de uma soma de fatores que dificultam o emagrecimento ou favorecem o acúmulo de gorduras.
Há pessoas mais predispostas geneticamente a engordar, com metabolismo mais lento, sedentárias ou comportamentos nutricionais inadequados (alta ingestão de calorias e gorduras, por exemplo).
Estudos na área de psicologia nutricional indicam a necessidade de desvincular a obesidade do ato de comer compulsivamente. É possível que pessoas com IMC dentro da faixa normal apresentam o distúrbio, que é caracterizado mais pelo sofrimento emocional envolvido do que pelo peso.
A bulimia nervosa se caracteriza por episódios de ingestão excessiva de alimentos seguidos de quadros compensatórios, como vômitos, uso de laxantes, longos períodos de jejum ou prática exaustiva de atividades físicas, a fim de evitar o ganho de peso.
Assim como na compulsão alimentar, as refeições são, geralmente, acompanhadas de angústia, vergonha e a sensação de perder o controle diante da comida.
Como não há mudança perceptível de peso, o diagnóstico tende a ser ainda mais demorado. A alimentação é realizada, frequentemente, escondida para evitar os sentimentos de culpa e julgamento alheio.
Apesar do comer compulsivo não ser seguido por quadros compensatórios, a bulimia pode se apresentar como uma condição posterior. Quando as crises se tornam mais frequentes e acarretam no ganho de peso, alguns pacientes recorrem aos métodos compensatórios, desenvolvendo o quadro bulímico.
O distúrbio tende a apresentar consequências mais graves devido às práticas adotadas para evitar o aumento de peso.
Os vômitos podem lesionar o estômago e esôfago, enfraquecer os dentes (devido ao suco gástrico), causar desequilíbrio de nutrientes e sais minerais. O uso de laxantes pode agredir a flora intestinal e ocasionar alterações na absorção nutricional.
Assim como os demais transtornos alimentares, ainda é recente o aprofundamento sobre a síndrome alimentar noturna, chamada também de compulsão alimentar noturna.
Em geral, os pacientes apresentam hábitos e rotinas alimentares adequadas durante o dia. Não há grandes esforços ou dificuldades emocionais em seguir o cardápio ou realizar as refeições moderadamente durante o período diurno.
Mas à noite o comportamento muda e os quadros compulsivos ocorrem depois do paciente ter adormecido, geralmente, entre 2 e 3 horas depois. Nessa condição, a pessoa desperta com a necessidade de se alimentar e, normalmente, se sente incapaz de retornar ao sono sem ingerir algum alimento.
Diferente da compulsão alimentar periódica, a síndrome alimentar noturna não é caracterizadas obrigatoriamente por ingestão excessiva de alimentos. Ou seja, pode ser que comer uma porção pequena seja suficiente. Ainda assim, a tendência é que sejam ingeridos alimentos hipercalóricos, ricos em gordura, açúcares ou sódio.
O distúrbio é classificado como uma parassonia, que se configura por comportamentos, movimentos e hábitos diferentes que ocorrem enquanto a pessoa dorme.
Ainda há diferentes relatos quanto ao nível perceptivo. Alguns pacientes relatam total consciência quanto à ação e outros que não são capazes de lembrar da ação.
Muitas vezes, se não houver alimentos acessíveis próximos, o paciente é capaz de se deslocar em grandes distâncias, inclusive saindo de casa (tendo consciência ou não). Em geral, o sono é rapidamente restabelecido após a alimentação.
Estudos identificaram que pessoas acometidas pela síndrome noturna apresentam taxas menores de melatonina - responsável pela indução e manutenção do sono -, e leptina - encarregada pela sensação de saciedade durante à noite.
Os níveis adequados e leptina impedem que o sono seja interrompido devido à falta de alimentação, mas ainda não se sabe se a fome é responsável pela interrupção do sono ou se ela é percebida somente após o despertar.
A compulsão alimentar pode agravar ou desencadear quadros depressivos, ansiosos ou outras compulsões, além de propiciar outros transtornos alimentares, sobretudo a bulimia.
No que se refere às condições biológicas e fisiológicas, há prevalência das seguintes doenças e condições:
As condições acima são resultado, sobretudo, do excesso de nutriente ingeridos.
Sódio, gorduras, carboidratos e cálcio são alguns dos componentes que podem sobrecarregar o organismo e resultar em patologias ou distúrbios de metabolização e, em geral, são os mais consumidos nas crises compulsivas.
Além disso, quanto maior a frequência de compulsão, maiores as chances de haver alteração do peso. Nesse caso, além dos nutrientes em excesso, há os riscos advindos do aumento de peso, que incide em complicações.
O aumento de peso pode trazer sensação de fadiga acentuada, diminuir a capacidade motora e ocasionar ou agravar o sedentarismo.
O diagnóstico compreende uma etapa difícil da vida do paciente. Em geral, há resistência em admitir o problema, que é permeado pela culpa e vergonha.
Muitas vezes, há ainda a desinformação e a falta de percepção. Ou seja, o paciente não compreende que há um distúrbio alimentar e persiste na ideia de que necessita de uma dieta.
A desinformação, muitas vezes, é reforçada pelos estereótipos de que pessoas obesas são preguiçosas ou que basta empenho para emagrecer.
Pesquisas de acompanhamento relatam que grande parte dos pacientes recorre a um endocrinologista ou nutricionista em busca de tratamentos para emagrecer, sem o prévio conhecimento do TCAP. O distúrbio então é inicialmente diagnosticado e encaminhado para psicólogos e psiquiatras.
Profissionais de nutrição, nutricionistas e nutrólogos, psicólogos, psiquiatras e endocrinologistas são aptos a diagnosticar os casos de compulsão.
Em geral, no que se refere aos transtornos alimentares, fala-se em condições de múltiplas interferências, com poucas possibilidades de cura, mas que tendem a apresentar bons resultados se corretamente tratadas.
Assim como as causas são diversas, o tratamento da compulsão alimentar é multidisciplinar. Em geral, é necessário realizar acompanhamento psicológico e nutricional, sendo que, em alguns casos, a utilização de medicamentos psiquiátricos é necessária também.
Na maior parte dos diagnósticos, o acompanhamento conjunto com o psicólogo, nutricionista e endocrinologista é indicado a longo prazo. É difícil mensurar o período de tratamento, mas especialistas sugerem que seja feito durante anos ou toda a vida, pois os transtornos alimentares são quadros que se estabilizam, mas não necessariamente se curam.
Já a terapia psiquiátrica, com a utilização de medicamentos, normalmente, é utilizada em períodos mais curtos e a tendência é diminuir gradativamente o uso de remédios e inibidores de apetite, quando o quadro do paciente permite o descarte deles.
A área psicológica é bastante ampla e a escolha da linha de tratamento deve considerar também as características do paciente.
Entre as opções aplicadas no TCAP, os métodos que apresentam bons resultados são:
Cada método mobiliza diferentes linhas de abordagem, sendo necessário englobar todo o quadro emocional do paciente. Ou seja, mais do que tratar pontualmente os episódios compulsivos alimentares, é importante verificar os agentes causadores.
Possíveis traumas relacionados, insatisfação corporal, insegurança e baixa autoestima, além de outros transtornos psicológicos, como depressão e ansiedade podem ser os desencadeantes das crises.
Há diversos tipos de psicoterapia, que trabalham pontos e aspectos diferentes. Em geral, o método atua sobretudo auxiliando o paciente a compreender e a lidar melhor com as situações que fazem parte da sua vida.
Através de sessões individuais ou em grupos, os profissionais psicoterapeutas visam a modificação comportamental da pessoa através da autoconsciência, identificação e controle das emoções. Ou seja, a terapia visa controlar as variações emocionais para que não sejam desencadeadas as compulsões alimentares.
Estudos apontam que a psicoterapia apresenta bons resultados através da identificação de um tema do transtorno. Ou seja, com as sessões de conversa e investigação emocional, o profissional é capaz de traçar um ponto central de conflito.
Em geral, esse tema está sempre relacionado às crises compulsivas de forma mais ou menos perceptível. Assim, se o aspecto conflitante for a não aceitação do sobrepeso, são trabalhadas todas as relações que levam a isso, como a interiorização de padrões de beleza, a cobrança externa quanto à aparência e a comparação com corpos estereotipados (modelos magros ou musculosos, por exemplo).
A terapia cognitivo-comportamental é umas das intervenções mais investigadas no TCAP, bem como seus efeitos. Os estudos sugerem que os resultados são bastante efetivos e, por isso, a indicação da abordagem para os transtornos alimentares tem sido crescente.
Revisão de estudos apontam que o método incide tanto nos episódios compulsivos quanto na autopercepção do paciente, melhorando os sintomas associados (baixa autoestima, depressão, ansiedade, insegurança, por exemplo).
Em síntese, o método parte da noção que os transtornos e disfunções emocionais (no caso, alimentares), estão associados a outras percepções distorcidas. Assim, o paciente come exageradamente como modo de compensar outros sentimentos ruins, frustrações ou inseguranças.
Também há técnicas comportamentais envolvidas na abordagem a fim de melhorar ou modificar os hábitos alimentares do paciente. Nesse aspecto, o paciente é incentivado a observar seus padrões na hora de comer, registrar o cardápio, apontar quais alimentos ou ocasiões despertam mais facilmente as compulsões.
A auto-observação implica numa melhor consciência sobre si mesmo e favorece as respostas à terapia, já que cada pessoa tem motivações compulsivas diferentes.
A terapia envolve a compreensão de todo o contexto e vivência do paciente. Nesse caso, são englobadas questões escolares, profissionais, familiares e individuais.
Todas as situações são mobilizadas a fim de auxiliar o tratamento do paciente, promovendo o conhecimento dos familiares, colegas e amigos sobre os distúrbios compulsivos alimentares, que podem contribuir no tratamento sistêmico, ajudando a reduzir as situações conflitantes.
Através de um tratamento conjunto com o psicólogo, o nutricionista visa diminuir os quadros compulsivos através de uma alimentação equilibrada. Sendo fundamental para reorganizar a rotina alimentar do paciente.
Em geral, o profissional irá auxiliar na montagem de um cardápio adequado, considerando o quadro compulsivo e a rotina do paciente. Os horários das refeições, bem como a quantidade, é ajustada a fim de facilitar a adoção da reeducação alimentar.
Também podem ser estipuladas rotinas a fim de reduzir o peso, suplementar nutrientes e auxiliar nas patologias (como diabetes, controlando os carboidratos, ou colesterol alto, reduzindo gorduras).
Estudos na área psiquiátrica sugerem que os transtornos alimentares não podem ser classificados unicamente como distúrbios psiquiátricos, logo que há, muitas vezes, a presença de alterações biológicas, como alterações hormonais.
Por exemplo, identifica-se que pacientes com compulsão alimentar apresentam menos secreção de leptina, hormônio que promove a sensação de saciedade. Normalmente, é difícil definir se as mudanças fisiológicas e neurológicas são causa ou consequência dos distúrbios alimentares.
O profissional psiquiatra pode receitar medicamentos que auxiliem na redução da fome, no aumento da saciedade e no emagrecimento. Além disso, são tratados os demais fatores envolvidos, como a depressão e ansiedade.
Com o tratamento psiquiátrico, o profissional pode indicar medicamentos a fim de melhorar os quadros emocionais, como a depressão, ansiedade, síndrome do pânico e fobia social.
Além disso, medicamentos que reduzem a fome se mostram eficazes na evolução do quadro, e podem ser indicados também por endocrinologistas.
Os mais indicados são:
Atenção!
NUNCA se automedique ou interrompa o uso de um medicamento sem antes consultar um médico. Somente ele poderá dizer qual medicamento, dosagem e duração do tratamento é o mais indicado para o seu caso em específico. As informações contidas neste site têm apenas a intenção de informar, não pretendendo, de forma alguma, substituir as orientações de um especialista ou servir como recomendação para qualquer tipo de tratamento. Siga sempre as instruções da bula e, se os sintomas persistirem, procure orientação médica ou farmacêutica.
Algumas pessoas são resistentes em buscar ajuda, tentado amenizar o sofrimento sozinhas, mas o TCAP é um transtorno que necessita de tratamento médico e psicológico.
Alguns métodos indicados por profissionais de saúde são técnicas de autoconhecimento e autocontrole, a fim de minimizar a compulsão. São técnicas que visam auxiliar o paciente no cotidiano se acompanhadas do correto tratamento médico.
É indicado que o paciente analise as causas que favorecem as compulsões. Situações de estresse e ansiedade, dificuldade em lidar com problemas, piora da autoestima, além de perceber se há algum alimento que favorece a ingestão exagerada, devem ser percebidos pelo paciente.
Quando há mais conhecimento sobre os fatores desencadeantes, melhores são as possibilidades de trabalhar com eles na terapia e evitá-los ou reduzi-los.
Diferente de compulsões por álcool, em que o paciente não deve mais ingerir bebidas, o paciente com compulsão por comida não pode deixar de comer. Mas é necessário diferenciar a fome fisiológica da fome emocional.
Alguns nutricionistas e psicólogos sugerem escalabilizar a fome, ou seja, num critério de 0 à 10, quão urgente deve ser a próxima refeição. Isso evita que o paciente coma por ansiedade, tédio ou sem fome.
Essa é uma tarefa gradual, mas necessária. Ainda que no início do tratamento, geralmente, se indique evitar alimentos mais gordurosos e ricos em açúcar, aprender a comê-los moderadamente é fundamental para reconstruir a boa relação com a comida.
Estudos indicam que comer em frente à televisão, com pressa ou fazendo outras atividades incide numa maior ingestão alimentar. Isso porque o organismo não está atento à refeição.
Além da desatenção, as pessoas pesquisadas mastigaram menos e comeram mais rápido, apreciando menos o sabor.
Então, comer pausadamente, mastigando bem e atento à refeição auxilia a controlar a compulsão.
Relatos indicam que que, antes de iniciar o tratamento ou nos primeiros meses, pacientes tendem a pular refeições ou ficar longos períodos sem comer para evitar possíveis compulsões.
Porém, além de desorganizar a rotina alimentar, causando carências nutricionais, a estratégia pode acentuar o quadro compulsivo, já que a fome se acentua e a tendência é comer mais para saciar o apetite.
É fundamental associar à rotina hábitos que proporcionem prazer e bem-estar ao paciente. Realizar cursos, atividades físicas e dedicar um tempo diário ou semanal ao autocuidado é pode amenizar o desgaste emocional.
Nem sempre é possível evitar ou eliminar os fatores desencadeantes, mas a estabilização dos níveis de ansiedade facilita na manutenção alimentar.
Saber lidar com as situações cotidianas também faz com que quadros depressivos, de baixa autoestima e ansiosos sejam minimizados, melhorando a saúde mental como um todo.
A realização frequente de atividades físicas promove inúmeros benefícios ao organismo. Os exercícios estimulam a serotonina e a dopamina, hormônios que envolvem a sensação de prazer e bem-estar.
Com o aumento das substâncias, os quadros compulsivos advindos de variações de humor são amenizados, logo que o organismo não necessita recorrer a outras fontes de prazer.
Além disso, as atividades atuam diretamente no peso do paciente, podendo favorecer o emagrecimento. Como há uma relação direta entre a insatisfação corporal e os quadros de ingestão exagerada de alimentos, a redução de peso pode auxiliar no tratamento.
Há atividades que podem reduzir a ansiedade e promover o relaxamento, como meditação, yoga, pilates e terapias alternativas, como a naturoterapia.
Praticar alguma dessas atividades favorece o bem-estar, promove a socialização, diminui quadros de ansiedade e, como consequência, ameniza os quadros de compulsão.
Enquanto os exercícios aeróbicos (com alto gasto calórico) auxiliam na redução de peso, as aulas de yoga e alongamento auxiliam na flexibilidade, no relaxamento e trazem benefícios também à saúde física. Além disso, por serem atividades de menor impacto, tendem a ser praticadas com mais facilidade por paciente obesos ou com sobrepeso.
Pacientes que realizam adequadamente os acompanhamentos terapêuticos e nutricionais tendem a apresentar bons prognósticos.
Em geral, pessoas com sobrepeso ou obesidade tendem a reduzir gradativamente o peso, minimizando os riscos à saúde.
Os quadros psicológicos e emocionais também são estabilizados, apresentando melhorias de humor, autoestima, bem-estar e ansiedade.
Os episódios de ingestão exagerada de alimentos podem ocasionar alterações gastrointestinais, dificuldade de digestão, refluxo e azia.
Mais frequente é o aumento de peso, que pode chegar à obesidade.
Nesse aspecto, o organismo é comprometido pela alteração alimentar, que tende a ser rica em gorduras, calorias, carboidratos e açúcares. Há maior tendência de desencadear colesterol alto, diabetes, hipertensão e problemas cardíacos.
A osteoartrite, que é uma condição grave de artrite degenerativa, também está relacionada à obesidade e, portanto, pode acometer o paciente que apresentar ganho acentuado de peso.
Outras complicações advindas da obesidade estão relacionadas à rotina, pois há uma dificuldade de mobilidade e independência ocasionada pelo peso excessivo.
No aspecto emocional, a compulsão alimentar pode agravar ou desencadear quadros depressivos e fóbicos. O que tende a prejudicar a rotina do paciente, que geralmente deixa de frequentar ambientes públicos, eventos sociais, podendo afetar também o ambiente profissional e familiar.
Além da associação às emoções (predisposições individuais e genéticas), o contexto social, familiar e profissional podem ser desencadeantes.
A prevenção, portanto, envolve a adoção de cuidados à saúde mental e a adoção de hábitos saudáveis, sobretudo os alimentares, evitando dietas sem acompanhamento especializado.
Estar atento às mudanças emocionais e psicológicas, seguidas ou não de episódios traumáticos, auxilia na manutenção da saúde mental como um todo.
Não. Nem sempre o paciente com compulsão alimentar apresenta sobrepeso ou obesidade.
Isso ocorre porque, apesar de se estipular pelo menos 3 quadros compulsivos alimentares durante a semana, as outras refeições podem ser equilibradas, aliadas à atividade física ou a quantidade de calorias ingerida durante as crises não é suficiente para gerar um aumento excessivo de peso.
Quando há medicamentos associados ao tratamento, sempre que possível, a tendência é diminuí-los e encerrar o uso.
Porém, o tratamento psicológico e nutricional é constante e não possui tempo determinado. Alguns pacientes podem responder mais rapidamente à terapia, enquanto outros requerem acompanhamentos mais longos e constantes.
Quando se trata de transtornos alimentares, dificilmente se estabelece uma cura, mas sim uma manutenção constante do tratamento e dos resultados. Por isso, é preciso que o paciente realize acompanhamento constante a fim de não remeter ao quadro de desordem nutricional.
Apesar de ainda ser uma condição bastante estigmatizada, a compulsão alimentar periódica recentemente tem ganhado espaço entre os debates médicos e nutricionais.
A caracterização como distúrbio alimentar não associado à bulimia ou à obesidade permitiu que melhores tratamentos e conhecimentos sobre a condição se desenvolvessem.
Sendo um transtorno multifatorial, permeado por condições genéticas, psicológicas, sociais, o TCAP necessita de intervenções específicas e um acompanhamento efetivo, visando restabelecer a saúde física e mental do paciente.
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Dr. Emerson Barbosa
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