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Covid-19: por que não existe remédio específico para vírus?

Publicado em: 09/05/2020Última atualização: 15/09/2020
Publicado em: 09/05/2020Última atualização: 15/09/2020
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Muito se sabe sobre doenças e medicamentos utilizados para tratar doenças causadas por microrganismos como as bactérias — tais como tuberculose, cólera, sífilis, tétano, etc.

Porém, quando se trata de uma infecção viral (popularmente conhecidas como viroses), os remédios no geral não têm um direcionamento específico para a doença em questão. Mas por que isso ocorre?

Entenda melhor o que é um vírus e como são estudados os remédios utilizados para tratar condições causadas por eles — como, por exemplo, a Covid-19:

O que é um vírus?

Antes de mais nada, é importante entender que os vírus não são realmente considerados seres vivos, já que não possuem uma estrutura celular.

Dessa forma, é possível defini-los como parasitas intracelulares obrigatórios. Isso significa que eles são seres totalmente dependentes de outras células para se reproduzir e, assim, replicar-se. Ou seja, não têm metabolismo independente do seu hospedeiro.

Com relação à estrutura, os vírus são composto de um tipo de ácido nucleico e um envoltório feito de proteínas (capsídeo) — a esse conjunto dá-se o nome de nucleocapsídeo.

Vale destacar que alguns vírus, em especial os que infectam animais, têm também um envoltório externo chamado de envelope. Essa estrutura é derivada da membrana celular do hospedeiro do vírus.

Então, basicamente, os vírus são compostos pela cápsula proteica que envolve o material genético — o qual pode ser DNA, RNA ou os dois juntos, variando conforme o tipo do vírus.

Também é importante saber que os vírus podem parasitar todos os tipos de células: procariontes (como arqueias e bactérias) e eucariontes (como fungos, microalgas, plantas e animais).

O que é o novo coronavírus (SARS-CoV-2)?

O novo coronavírus, que causa a Covid-19, é apenas um tipo dentre os coronavírus existentes. Essa família de vírus recebe esse nome justamente porque seu envelope (envoltório externo), possui proteínas S — que têm formato bastão e, com isso, dão aspecto de coroa ao vírus.

Por ser envelopado, ou seja, ter essa estrutura externa, as medidas preventivas ao coronavírus incluem práticas como lavar as mãos com sabão e utiliza álcool 70%. Isso porque, essa estrutura, é composta por uma camada de fosfolipídeos (gordura). 

Sendo assim, a ação de agentes como sabão e álcool 70%, quimicamente, remove o envelope e desnatura os ácidos nucleicos — o que inativa a ação do vírus.

Vale destacar, ainda, que o SARS-CoV-2 (novo coronavírus) invade as células do trato respiratório através da interação das proteínas dos espinhos (proteína S) com um receptor para a angiotensina 2 (ACE2) nas células humanas. Então, uma vez dentro da célula, ele inicia seu processo de replicação e, com isso, causa a morte da célula infectada.

Qual é a diferença entre os vírus e as bactérias?

Claro que existem muitas diferenças biológicas entre vírus e bactérias. Porém, de maneira geral, há um fator principal que distingue os vírus de outros microrganismos: o fato de que os outros são seres com estruturas celulares completas.

Conforme mencionado, os vírus não são nem mesmo considerados seres vivos. Eles são mais primitivos e não apresentam as estruturas que fazem as células funcionarem. Em contrapartida, as bactérias são unicelulares (composta de uma única célula), mas sua célula pode funcionar plenamente sozinha.

Já no caso dos vírus, para se multiplicar, precisam invadir outras células (do seu hospedeiro), garantindo sua existência a partir de um outro ser.

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Por que não existem remédios específicos para combater vírus?

Diferentemente das bactérias, os vírus não têm uma estrutura celular completa, o que faz com que necessitem de um hospedeiro — a fim de se infiltrar em sua célula e, assim, atuar no organismo.

Então, como as bactérias apresentam estrutura celular, os remédios utilizados para tratar doenças causadas por elas (antibióticos) atuam direto em sua parede celular. Com isso, ao identificar a bactéria, o medicamento consegue destruí-la por completo.

Porém, como os vírus precisam de outras células (de um hospedeiro, como os seres humanos), torna-se mais difícil criar um remédio para combatê-los. Pois, para destruir esse microorganismo infeccioso seria necessário destruir também a célula infectada. Dessa forma, o remédio não é apenas prejudicial ao vírus, mas também é tóxico ao ser humano.

Vale reforçar, então, que basicamente a dificuldade está resumida ao fato de que é muito difícil criar um remédio que faça a separação entre o vírus e a célula infectada. Pois é um processo que, quando realizado, precisa ser feito de maneira extremamente meticulosa, com muita avaliação e estudo.

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Como são estudados os remédios contra vírus?

Para o tratamento de novos vírus (como o SARS-CoV-2), é comum que especialistas tentem utilizar remédios já existentes — criados para tratar de outras patologias.

Essa testagem não é feita ao acaso, mas sim a partir de análises laboratoriais. Primeiramente, é feita a comparação da ação de alguns medicamentos e, a partir de analogia, os(as) especialistas selecionam os remédios que aparentam ter maior potencial para tratar a nova doença.

Há casos em que o uso de um único remédio não é o suficiente, podendo ser necessário o uso de coquetéis (várias medicações), como no caso do HIV ou da Hepatite C.

Mas é preciso ter em mente que os testes são inicialmente feitos in-vitro (em laboratório) e que não necessariamente vão apresentar resultados promissores quando utilizados em humanos.

Por isso, os experimentos começam em laboratório, depois são feitos em animais e, por último, em seres humanos. Quando isso ocorre, primeiro os testes são realizados em grupos menores e, apenas se der tudo certo, passam a ser utilizados em grupos maiores. 

Durante esse período de testes, muitos medicamentos que se mostraram promissores em laboratório podem acabar se mostrando ineficientes.

Sendo assim, é possível perceber que se trata de um longo processo que envolve muita tentativa e erro, além de diversos estudos e análises — até, finalmente, encontrar o melhor tratamento para a doença viral. 

Como é o tratamento das doenças virais?

Considerando a dificuldade de criar medicamentos específicos para o tratamento de doenças causadas por vírus, de forma geral, o tratamento dessas patologias é voltado ao cuidado dos sintomas.

Então, os remédios não são utilizados para eliminar o vírus em si, mas para aliviar os sintomas que a infecção viral causou. 

Por exemplo, quando o organismo está sofrendo com alguma infecção, é comum que a pessoa apresente febre e desconforto corporal. Nesse caso, podem ser indicados analgésicos e antitérmicos.

Além disso, dependendo da doença, podem ser indicados cuidados básicos como repouso e hidratação (beber água).

Vale destacar que, de maneira geral, as doenças virais podem ser prevenidas de forma simples e prática: cuidados com a higiene. Isso pois muitas doenças (resfriados, gripe, diarreia, etc) podem ser transmitidas por meio das mãos, ao tocar em superfícies contaminadas, por exemplo. 

Assim, é muito fácil que as mãos fiquem com o vírus e, ao encostar nas mucosas (boca, nariz e olhos), a pessoa é infectada.

A higienização das mãos já é mundialmente reconhecida como uma medida eficaz para a prevenção de infecções virais. Então, ao chegar em casa, após o uso de sanitários ou antes das refeições, é imprescindível esse cuidado. 

Nesse caso, opte sempre pela água e sabão. Quando não for possível, o álcool 70% (líquido ou em gel) também é igualmente eficaz nessa prática.

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Quais os medicamentos usados para coronavírus?

Muitos estudiosos e especialistas pelo mundo inteiro estão em busca de medicamentos para tratar o novo coronavírus. Até o momento, alguns pesquisadores norte-americanos e de Hong Kong identificaram aproximadamente 30 medicamentos que podem ser eficazes contra a Covid-19.

Assim, esses remédios passam a ser possíveis candidatas para tratar o novo coronavírus. No momento, três estão em fase de ensaios clínicos — dentre eles, está o Remdesivir, que foi aprovado pelos EUA para ser usado em casos graves da doença.

Porém, tudo que se tem até o momento são estudos e pesquisas. Não há nada comprovado.

No Brasil, o Ministério da Saúde disponibilizou um documento chamado “Diretrizes para Diagnóstico e Tratamento da COVID-19”, a fim de fornecer orientações aos profissionais da área da saúde.

A partir do documento, é possível encontrar orientações sobre tratamentos experimentais que estão em fase inicial e ainda não possuem maiores evidências de eficácia — como o Tocilizumabe, a Ivermectina e o Atazanavir.

https://minutosaudavel.com.br/ivermectina/

Há, ainda, remédios que foram utilizados em alguns pacientes mas que também não apresentam nenhuma real comprovação de eficácia. Entenda melhor:

Hidroxicloroquina e Cloroquina

A Cloroquina e Hidroxicloroquina são dois remédios diferentes, ambos utilizados no tratamento da Malária e de algumas doenças autoimunes — como a artrite reumatoide.

De forma geral, essas medicações têm indicação bastante semelhante. Sua principal diferença está no fato de que a Hidroxicloroquina é derivada da Cloroquina e sua ação é menos tóxica ao organismo.

No caso do tratamento da Covid-19, o Ministério da Saúde reitera que ainda não existem evidências o suficiente que levem à indicação desses remédios nesse caso.

Porém, indica que a Hidroxicloroquina e a Cloroquina podem ser utilizadas em casos confirmados de Covid-19 e a partir de critério médico. Nessas circunstâncias, o uso é recomendado como terapia auxiliar para pacientes em estado grave e hospitalizados.

Essa definição tem como base estudos de caso clínico realizados por instituições nacionais.

A partir dessas análises, foi possível constatar que em alguns pacientes o uso da Cloroquina (ou Hidroxicloroquina) reduziu a capacidade do vírus liberar seu material genético dentro das células. Com isso, evitando a evolução da doença para um caso mais grave.

Corticosteroides

Os medicamentos do tipo corticosteroides (também conhecidos como corticoides ou cortisona), são hormônios com uma potente ação anti-inflamatória. Assim, são frequentemente usados para tratar problemas como asma, artrite, lúpus, etc.

Como em todos os casos, não é recomendada nunca a automedicação com o uso de corticosteroides. Além dos possíveis efeitos colaterais e outros perigos de se automedicar, em especial os remédios dessa classe podem causar problemas como catarata ou glaucoma.

Quanto ao uso dessas medicações durante o tratamento da Covid-19, o Ministério da Saúde indica que há controvérsias sobre usá-los ou não. 

Isso porque existem estudos que apontam que o uso dos corticosteroides pode causar aumento de carga viral, tempo de internação e risco de infecção secundária. Em contrapartida, outros estudos indicam benefícios para subpopulações específicas.

Dessa forma, no documento do Ministério da Saúde consta que o uso desses remédios pode ser considerado no tratamento de pacientes graves, com SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), que estejam hospitalizados e dentro de um contexto de pesquisa clínica. 

Lembrando que não há comprovações de eficácia e, de maneira alguma, a automedicação é recomendada — tanto com esses quanto com outros medicamentos.

Antibioticoterapia

Os antibióticos são utilizados para tratar doenças causadas por bactérias, tais como tuberculose, tétano, coqueluche, entre outras.

Sendo assim, não são indicados para o tratamento de infecções virais, considerando que seu uso inapropriado poderia inclusive gerar resistência do organismo a esses medicamentos. 

No caso do tratamento da Covid-19, o Ministério da Saúde reforça sobre não usar de forma indevida esse tipo de medicação, além do fato de que não há nenhuma real evidência positiva no uso de antibióticos contra o novo coronavírus.

Porém, em caso do(a) paciente apresentar indícios de infecção bacteriana associada ao caso de Covid-19, há a indicação de que em quadros leves pode ser considerado o uso de medicamentos antibacterianos contra a pneumonia adquirida.

Dentre esses remédios, o documento menciona alguns como Amoxicilina e Azitromicina.

Além disso, reforça também que as evidências são limitadas quanto ao uso da Azitromicina com a Cloroquina (ou Hidroxicloroquina). Lembrando sobre a necessidade de ter cautela no uso dessa associação — a qual pode levar a um aumento do risco de complicações cardíacas.

Por fim, é importante reiterar que nenhum tipo de automedicação é recomendada e que não há (até o momento) alguma medicação que tenha eficácia realmente comprovada contra o novo coronavírus. Todos os dados obtidos até então são com base em estudos.

Remdesivir

O medicamento Remdesivir é um antiviral, testado inicialmente (sem sucesso) durante a epidemia de Ebola entre 2013 e 2016.

Conforme mencionado, essa medicação está sendo analisada por pesquisadores e seu uso foi aprovado nos Estados Unidos para pacientes em estado grave de Covid-19.

No Brasil, porém, esse remédio não tem registro na ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Além disso, o documento publicado pelo Ministério da Saúde menciona o Remdesivir, reforçando que os estudos são preliminares e não há evidências o suficiente para aprovar seu uso no momento.

De forma geral, os estudos que apresentaram eficácia dessa medicação no tratamento contra o novo coronavírus indicam que a substância bloqueou a enzima responsável pela replicação do vírus dentro das células.

Assim, bem como as outras medicações, não há nada efetivamente comprovado. Trata-se de estudos e análises de alguns casos isolados.

Nitazoxanida

A Nitazoxanida é uma substância medicamentosa que atua como princípio ativo em remédios (antiparasitários) utilizados para tratar doenças como:

  • Gastroenterites virais — inflamação do trato gastrointestinal que afeta o estômago e o intestino delgado;
  • Helmintíases (verminose);
  • Amebíase — infecção parasitária do cólon;
  • Giardíase — infecção intestinal causada pelo parasita giárdia;
  • Criptosporidíase — doença infecciosa causada por parasita, que afeta o sistema gastrointestinal.

Apesar do documento publicado pelo Ministério da Saúde não mencionar essa medicação, ela tem sido testada por pesquisadores quanto ao tratamento do novo coronavírus.

Nesse sentido, o que se sabe é que em algumas análises, foi possível notar que o uso da Nitazoxanida mostrou eficácia na redução da carga viral do SARS-CoV-2. Com isso, após os testes in-vitro, começaram as testagens em humanos — inclusive no Brasil.

Ainda não se tem maiores evidências da eficácia deste remédio. Considerando que está em fase de testes e estudos.


Entender como funciona o vírus e o estudo de remédios utilizados para tratar doenças causadas por ele, pode ajudar a diminuir a ansiedade na espera de um tratamento para a Covid-19.

Esperamos que essa matéria possa ter sido esclarecedora e reforçamos: não pratique a automedicação. Siga as orientações do Ministério da Saúde quanto às medidas preventivas e aos cuidados em caso de contaminação.

Continue acompanhando o Minuto Saudável para mais informações!

Fontes Consultadas

Imagem do profissional Rafaela Sarturi Sitiniki
Este artigo foi escrito por:

Rafaela Sarturi Sitiniki

CRF/PR: 37364Farmacêutica generalista graduada pela Faculdade ParananseLeia mais artigos de Rafaela
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