Muito conhecida por ser endêmica em algumas regiões, a malária ainda é motivo de preocupação para autoridades da saúde. De acordo com o Ministério de Saúde, a maioria dos casos que ocorrem no Brasil são na região Amazônica, nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
Mas, ainda assim, outras regiões devem ficar atentas às ocorrências. Continue a leitura do artigo para encontrar mais informações.
Índice
A malária é uma infecção causada por protozoários do gênero Plasmodium, transmitida por mosquitos Anopheles. É caracterizada por episódios de febre, calafrios, sudorese, tremedeiras e taquicardia. Como a presença do parasita leva à destruição das hemácias (glóbulos vermelhos), é possível que provoque casos de anemia.
Trata-se de uma doença ainda muito comum, especialmente em países pobres da faixa tropical do planeta, onde há pouco acesso a medidas preventivas e o tratamento é defasado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) possui um programa para melhorar o quadro e, todos os anos, lança um relatório com dados sobre a doença a nível mundial.
A doença é tratada como uma emergência médica, pois a demora para iniciar o tratamento dá margem para que se desenvolva até afetar seriamente órgãos vitais, inclusive o cérebro.
No CID 10 (Classificação Internacional de Doenças, décima edição), a malária é encontrada a partir do código B50, variando dependendo do tipo de parasita causador da infecção.
A malária é causada por protozoários do gênero Plasmodium, ou seja, existe mais de um microrganismo causador da doença: P. falciparum, P. malariae, P. vivax e P. ovale. No Brasil, encontram-se 3 dessas espécies, e as predominantes são P. vivax e P. falciparum.
Esses microorganismos atacam o fígado e a corrente sanguínea, destruindo os glóbulos vermelhos. É essa destruição que leva aos sintomas da doença. O Plasmodium é transmitido pela picada das fêmeas do gênero Anopheles, que se alimentam do sangue humano.
Existem mais de 400 espécies desse gênero que podem transmitir a doença. Vale lembrar que o macho não transmite a doença pois se alimenta de seiva e néctares das plantas. Nomes populares para o inseto transmissor são: muriçoca, carapanã, sovela, mosquito-prego e bicuda.
O principal vetor da malária no Brasil é o mosquito Anopheles darlingi. Porém, é possível encontrar as espécies:
A transmissão da malária se dá, geralmente, por meio de um ciclo, ou seja, o microrganismo não afeta diretamente uma pessoa, mas precisa de um vetor para isso. O ciclo da malária ocorre da seguinte maneira:
A malária nem sempre é transmitida dentro do ciclo. Em casos raros, ela também pode ser passada por meio da exposição ao sangue infectado. Isso significa que os protozoários podem ser facilmente transmitidos nas seguintes situações:
São chamadas áreas endêmicas aquelas nas quais há registros contínuos de casos da malária durante todo o ano. Ou seja, áreas onde, independente da época do ano, o número de casos se mantém estável.
Existem 84 países onde a doença é endêmica, incluindo na América Central, América do Sul, América do Norte, Índia, Sudeste da Ásia e Oriente Médio. Contudo, são os países africanos que apresentam a maior incidência e o maior número de mortes relacionadas à doença.
Vale lembrar que, no Brasil, as áreas mais afetadas são os estados da Amazônia Legal: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, oeste do Maranhão, noroeste do Tocantins e norte do Mato Grosso.
O mosquito não costuma viver em altitudes maiores de 1500 metros acima do nível do mar. Para sobreviver, ele precisa estar em um local com uma média de temperatura mínima superior a 15º C.
Qualquer pessoa pode ser infectada, mas existem alguns fatores de risco que aumentam as chances de encontrar os mosquitos vetores. São eles:
Além disso, existem alguns grupos que sofrem mais consequências quando contraem a doença. São eles:
Pessoas que vivem em áreas onde há maior exposição ao Plasmodium tendem a sofrer menos quando contraem a doença. Por quê? Basicamente, a exposição frequente ao protozoário é capaz de criar uma imunidade parcial, o que melhora o prognóstico da doença, embora não impeça novas infecções.
Ou seja, o paciente ainda poderá ser infectado novamente, mas os sintomas e complicações não tendem a ser tão graves quanto em pessoas que nunca foram infectadas.
Porém, essa imunidade parcial não é para sempre: ela dura apenas enquanto ainda houver muito contato com o parasita.
Caso a pessoa mude para uma área onde não há a propagação da doença, ela pode perder essa imunidade, e, ao entrar em contato com o protozoário novamente, sofrer consequências tão graves quanto outras pessoas.
Vale lembrar, também, que nunca foi registrado nenhum caso de imunidade total. Assim sendo, mesmo pessoas que foram infectadas muitas vezes ainda não conseguem adquirir proteção total contra a doença.
Os sintomas da malária costumam aparecer entre 1 e 2 semanas ou até 60 dias após a infecção, pois o protozoário precisa amadurecer no fígado antes de ser liberado na corrente sanguínea. Esse tempo silencioso é chamado de período de latência e sua duração depende da espécie de Plasmodium presente no organismo.
As primeiras manifestações da doença são muito parecidas com as de uma gripe:
Em muitos casos, esses sintomas não são contínuos e vêm em episódios, ainda que a doença não esteja sendo tratada. Além disso, conforme vai progredindo, a doença pode acometer outros órgãos — inclusive o cérebro —, causando outros sintomas ainda mais graves, como:
A febre é a principal manifestação da fase inicial da doença. Ela pode vir acompanhada de calafrios, tremores, sudorese (suor frio) e dores de cabeça. O sintoma ocorre quando os agentes infecciosos chegam na corrente sanguínea e invadem as células do sangue. No momento em que as hemácias (glóbulos vermelhos) se rompem, a febre inicia.
Com sintomas muito parecidos com outras condições, pode demorar até que o médico suspeite da malária, especialmente em áreas onde a ocorrência da doença não é comum.
Por se tratar de uma emergência, é de extrema importância que o paciente informe ao médico se esteve em alguma área onde a malária é endêmica ou se expôs a alguma situação em que poderia ter sido picado por um mosquito do gênero Anopheles.
O profissional capaz de diagnosticar e tratar a malária é o infectologista, médico de emergência e, muitas vezes, o médico de viagem. Ao constatar a suspeita da doença, o médico pode pedir exames de sangue, cujos objetivos são:
Os resultados de alguns exames podem levar pouco tempo (cerca de 15 minutos), enquanto outros demoram dias. Vale lembrar que o diagnóstico pode ser dificultado em locais onde a malária não é uma doença comum, como nos estados mais ao sul do país.
O método diagnóstico oficial da malária no Brasil e em muitos outros países é o teste de gota espessa, também conhecido como esfregaço de sangue espesso. Esse teste é essencial para identificar a presença do parasita Plasmodium no sangue do paciente e confirmar o diagnóstico da malária.
O procedimento da gota espessa envolve a preparação de uma lâmina de microscopia com uma amostra de sangue do paciente, que é corada com corantes vitais, como o azul de metileno e o Giemsa.
Esses corantes permitem que os parasitas Plasmodium sejam visualizados sob um microscópio, diferenciando suas morfologias e auxiliando na determinação do tipo específico de Plasmodium que está causando a infecção.
Antígeno é qualquer substância que o corpo entende como ameaça e estimula a produção de anticorpos. Bactérias, parasitas, vírus e fungos são cheios dessas substâncias. Esse exame é feito colocando uma amostra de sangue em uma tira reagente que, então, detecta a presença dessas substâncias.
Ela não é capaz de diferenciar os diferentes tipos de Plasmodium, mas é um dos exames mais rápidos para se confirmar o diagnóstico de malária.
Em casos nos quais os resultados são duvidosos, pode-se usar da PCR para detectar o DNA do parasita. Isso pode ser necessário quando há uma infecção mista (causada por mais de um tipo de parasita) ou quando a análise microscópica é imprecisa.
Leia mais: Proteína C-reativa (PCR): o que significa alta ou baixa?
Visto que alguns parasitas são resistentes aos medicamentos, há laboratórios que coletam uma amostra do sangue do paciente e cultivam os microrganismos em contato com quantidades crescentes de medicamentos.
Esse exame é útil para identificar até que ponto o Plasmodium consegue resistir — às vezes, a pessoa pode simplesmente precisar de uma dose um pouco maior —, ou para identificar os genes responsáveis pela resistência desenvolvida.
Não se trata de um método para diagnosticar a malária no momento em que acontece, mas sim verificar a existência de anticorpos específicos contra o Plasmodium. Esse tipo de exame é mais utilizado em estudos epidemiológicos, a fim de identificar pessoas que já foram infectadas pelo parasita, ainda que não apresentem mais a doença.
Felizmente, sim, a malária pode ter cura. No contexto dessa doença, a cura significa a eliminação total do parasita no organismo. Deste modo, o corpo se recupera e a pessoa volta a levar uma vida saudável. Hoje em dia, existem medicamentos efetivos contra os parasitas do gênero Plasmodium.
Contudo, a má utilização de tais medicações está criando protozoários mais fortes e resistentes aos medicamentos. Nos próximos anos, novas drogas devem ser desenvolvidas para combater o problema, visto que a transmissão de microrganismos resistentes podem acabar tornando a doença intratável com os remédios atuais.
Se curar da malária não significa nunca mais ser infectado novamente, algumas pessoas podem até criar uma imunidade parcial, mas qualquer um pode ser infectado sucessivas vezes pelo parasita.
O tratamento da malária deve começar assim que ela é diagnosticada, a fim de evitar complicações graves. Geralmente, ele é definido de acordo com alguns critérios. São eles:
A partir destes fatores, o médico pode prescrever medicamentos antimaláricos.
O tratamento da malária pode ser feito de forma gratuita nas redes públicas de saúde. A forma mais eficaz de conduzir a terapia é por meio de medicamentos antimaláricos. Os fármacos são bastante eficazes no combate ao agente infeccioso e, em geral, oferecem baixos efeitos adversos.
Infelizmente, alguns destes medicamentos deixaram de ser efetivos em determinadas áreas, principalmente por conta da má administração do tratamento, que permite a criação de resistência pelo parasita. No entanto, a busca por medicamentos antimaláricos não acabou e existem diversas pesquisas focadas em encontrar novas substâncias.
Atenção: Nunca se automedique ou interrompa o uso de um medicamento sem antes consultar um médico. Somente ele poderá dizer qual medicamento, dosagem e duração do tratamento é o mais indicado para o seu caso em específico.
As informações contidas neste site têm apenas a intenção de informar, não pretendendo, de forma alguma, substituir as orientações de um especialista ou servir como recomendação para qualquer tipo de tratamento. Siga sempre as instruções da bula e, se os sintomas persistirem, procure orientação médica ou farmacêutica.
Qualquer doença que se apresenta durante a gravidez pode ser prejudicial para o desenvolvimento do bebê. O cuidado deve ser ainda redobrado com as condições infecciosas, visto que o parasita pode viajar até a placenta através da corrente sanguínea da mãe.
Em locais onde a malária é endêmica, a mãe pode ser infectada e não demonstrar sintomas por causa da “imunidade parcial” obtida. No entanto, o parasita ainda assim chega até o feto e pode trazer consequências para a gestação.
A malária em gestantes pode ser uma condição grave e complicada, pois pode levar a complicações obstétricas e problemas no desenvolvimento fetal.
Algumas gestantes infectadas pelo Plasmodium podem apresentar sintomas atípicos, incluindo sangramento vaginal e contrações uterinas, que, em casos mais graves, podem desencadear o trabalho de parto prematuro ou outros problemas obstétricos.
A gravidade destas complicações depende da idade gestacional da gestante e da gravidade da infecção por malária. Algumas das possíveis complicações associadas à malária em gestantes incluem:
Leia mais: O que não é normal durante a gravidez?
Existem poucos dados sobre o uso de medicamentos antimaláricos em gestantes, visto que há um risco de danificar o feto durante pesquisas. No entanto, o Ministério da Saúde tem recomendações gerais para o tratamento de mulheres grávidas, dependendo do período gestacional.
Se não for devidamente diagnosticada e tratada, a malária pode ter consequências graves para o(a) paciente. Além disso, se o tratamento não for feito adequadamente, pode haver resistência aos medicamentos, resultando em complicações. Veja alguns exemplos a seguir.
Por conta da destruição dos glóbulos vermelhos (hemácias), a malária pode causar anemia grave. Causando fraqueza, fadiga, palidez e outros sintomas relacionados à falta de oxigenação adequada dos tecidos.
Por ajudar no transporte de carboidratos (açúcar) no sangue, a destruição das hemácias diminui a quantidade de glicose na corrente sanguínea, situação chamada “hipoglicemia”.
Na malária, a hipoglicemia geralmente ocorre em casos graves, como na malária cerebral, quando o parasita Plasmodium infecta o cérebro e pode afetar o controle dos níveis de glicose no sangue.
Leia mais: Hipoglicemia (reativa, noturna, neonatal): o que é e causas
Em casos graves, causados pelo P. falciparum, há uma grande incidência de edema pulmonar. Acredita-se que isso acontece porque toxinas liberadas pelo protozoário danificam os alvéolos, tornando-os mais permeáveis.
Leia mais: Edema Pulmonar: veja causas, sintomas, tratamento, tem cura?
A malária cerebral é a forma mais severa da infecção causada pelo Plasmodium falciparum e representa uma das principais causas de mortalidade no continente africano. Essa manifestação da doença envolve mecanismos imunopatogênicos complexos que ainda não foram completamente compreendidos.
Células de sangue cheias de parasitas podem acabar bloqueando os pequenos vasos sanguíneos do cérebro, levando a uma falta de suplementação sanguínea aos tecidos. Isso pode levar a inchaço do órgão e danos cerebrais, resultando em sequelas cognitivas.
Em casos graves de malária, a hipoglicemia e outras complicações podem progredir para o coma, uma condição em que o paciente perde a consciência e não responde a estímulos externos. O coma é uma emergência médica e requer atendimento hospitalar imediato e tratamento intensivo.
Infelizmente, sim, a malária pode matar. Segundo o Ministério da Saúde, em 2021, foram registrados 58 óbitos por malária no Brasil. As principais causas de morte pela doença são complicações como anemia e falência de órgãos.
Esses dados reforçam a importância contínua da vigilância, prevenção e controle da malária no Brasil, especialmente em áreas fora da região amazônica, para reduzir a incidência de casos e melhorar os desfechos dos pacientes.
O prognóstico da malária é positivo quando ela é tratada de maneira adequada, visto que o parasita é, então, expulso do organismo. No entanto, casos de malária grave podem matar ou deixar marcas mesmo após a cura.
Quando a doença atinge o cérebro, não é raro que o indivíduo fique com sequelas, como deficiência intelectual e cognitiva, além de epilepsia. Há relatos, também, de atraso no desenvolvimento a longo prazo de crianças que sofreram com malária grave.
A malária pode ser prevenida, sendo que a melhor maneira envolve medidas de proteção individual. Algumas coisas que você pode fazer para evitar ser infectado são:
Atualmente, existe apenas uma vacina contra a malária autorizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), entretanto, essa vacina não é aplicada no Brasil. Sua administração é concentrada no continente africano, onde a luta contra o parasita é considerada uma urgência.
A pesquisa para o desenvolvimento dessa vacina enfrenta grandes desafios devido à complexidade do ciclo de vida dos protozoários causadores da malária. Esse ciclo envolve diversas fases morfológicas e mudanças dentro do corpo humano.
Além disso, ao longo dos anos, esses protozoários evoluíram desenvolvendo várias maneiras de escapar do sistema imunológico do hospedeiro. Esses fatores tornam a pesquisa e desenvolvimento de uma vacina eficaz contra a malária uma tarefa difícil e complexa.
Leia mais: Como agem as vacinas no organismo? Veja como são feitas
Como a malária é transmitida por mosquitos, o controle dos vetores é uma das melhores maneiras de combater a doença. Por isso, existem diversas políticas públicas para implantar ações que controlem a proliferação dos insetos.
Isso geralmente é feito por meio da eliminação de criadouros dos insetos ou medidas que erradicam aqueles já crescidos. Alguns exemplos dessas práticas são:
Embora muito conhecida e facilmente prevenida, a malária continua sendo preocupação para as autoridades da saúde, especialmente porque depende de todos nós tomar os cuidados para que a doença seja erradicada. Previna-se sempre!
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Kayo Vinicius Ferreira Forte
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