A cólera é uma infecção intestinal causada pela Vibrio cholerae, bactéria que costuma viver na água. Seus principais sintomas são diarreia e vômitos que podem levar à desidratação.
Muito conhecida pelas epidemias entre 1817 e 1923, a cólera é uma doença que ainda se encontra muito presente nos dias de hoje. No Brasil, a doença reapareceu em 1991, em especial na região da Amazônia, no entanto os casos tem se tornado mais escassos com o tempo.
No mundo, a doença é responsável por entre 28 mil e 142 mil mortes todos os anos. Em alguns países, a cólera é endêmica e poucas medidas são tomadas para combatê-la. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), há de 1,4 a 4,3 milhões de casos globalmente.
A doença, que pode levar à morte em poucas horas, é facilmente prevenida com o tratamento adequado da água para o consumo.
Existem duas cepas (subtipos) da bactéria Vibrio cholerae responsáveis pela cólera: V. cholerae O1 (“clássico” ou “El Tor”) e V. cholerae O139. Embora haja cerca de 190 subtipos desse microrganismo, apenas esses dois liberam as toxinas causadoras dos sintomas.
As enterotoxinas, liberadas pela bactéria no intestino, são um tipo de substância tóxica que provoca sintomas gastrointestinais, principalmente aqueles bem conhecidos das intoxicações alimentares. Mas calma! Ter uma intoxicação alimentar não significa que você está com cólera e nem vice-versa. São duas doenças diferentes.
De modo geral, a Vibrio cholerae não sobrevive ao ácido gástrico. No entanto, isso pode acontecer, e então ela consegue chegar no intestino delgado, onde encontra um ótimo meio para sua proliferação. Lá, ela começa a liberar as enterotoxinas, causando os sintomas.
Essas toxinas alteram os canais de cloreto das células intestinais, o que resulta em uma maior secreção de sódio, cloreto e água, que dão origem à diarreia característica da cólera.
O contágio da cólera se dá por meio da ingestão de água e alimentos infectados. Em contrapartida, os alimentos são infectados com a água que teve contato com fezes de portadores da bactéria.
Isso acontece mais frequentemente em áreas onde não há saneamento básico e a coleta de lixo é feita de maneira inadequada ou escassa. Nesses locais, é comum que haja contato dos dejetos com a água usada para abastecer as casas e ser consumida como bebida.
Os alimentos costumam ser infectados com a lavagem inadequada, sem que haja esterilização da água antes. Nesses casos, a bactéria pode sobreviver por até 5 dias em temperatura ambiente (entre 15 e 40 ºC). Vale lembrar que não adianta colocar os alimentos na geladeira: a bactéria consegue sobreviver ao congelamento, apenas não se multiplica tão rapidamente.
Frutos do mar e peixes, em especial, tem uma maior probabilidade de estarem infectados, devido ao seu meio aquático. Por isso, a limpeza adequada desses tipos de alimento é extremamente importante para evitar a cólera.
Na natureza, também, existem vários animais que entram em contato com fezes humanas, sendo infectados e carregando a bactéria até a água. No entanto, ela só causa transtorno aos humanos: os animais não ficam doentes e nem desenvolvem sintomas.
Todas as pessoas estão suscetíveis à cólera, mas existem alguns grupos com maiores probabilidades de contrair a doença. São eles:
Existem muitos municípios e grandes cidades, no mundo inteiro, que não possuem o sistema de saneamento básico. Nesses locais, o risco de contaminação da água é muito maior, pois os dejetos são descartados na natureza e podem facilmente chegar até fontes de água.
Pessoas que costumam viajar com frequência para lugares em meio à natureza estão mais expostas à essa e muitas outras doenças.
Por precisar “se virar” com as fontes de água disponíveis, como rios e lagoas, o viajante precisa estar preparado com equipamento para esterilização da água. Caso estes não estejam disponíveis ou a água seja mal tratada, o viajante pode adoecer facilmente.
A bactéria causadora da cólera dificilmente sobrevive ao ácido gástrico, que serve de proteção para o nosso corpo. No entanto, caso este não esteja presente devido alguma condição médica ou o uso de medicamentos anti ácido, aumentam as chances de sofrer infecção.
Não se sabe o porquê, mas as pessoas com sangue tipo O tem 2 vezes mais chance de desenvolver a cólera do que pessoas com outros tipos sanguíneos.
Pela Vibrio cholerae viver na água, ela pode infectar facilmente frutos do mar. Hoje em dia, graças a várias tecnologias, os produtos pescados são bem limpos e raramente causam qualquer transtorno, mas ainda é preciso tomar cuidado com frutos que vêm de águas desconhecidas.
Os sintomas da cólera surgem após o período de incubação da bactéria, que pode variar entre 2 horas e 5 dias. Passado esse tempo, a maior parte das pessoas irá apresentar uma leve diarreia. De fato, muitos dos infectados simplesmente não possuem sintomas. Nesses casos há, também, uma cura espontânea.
Já numa minoria, a doença se desenvolve de maneira diferente, com sintomas muito mais graves. Os mais comuns são:
Na cólera, a diarreia é tão intensa que chega-se a perder até 1 litro de água por hora, o que leva facilmente à desidratação. Alguns sintomas de que o organismo está em falta de água são:
Devido à desidratação, pode-se desenvolver um desequilíbrio eletrolítico, caracterizado por câimbras. Além disso, essa condição pode levar a um choque hipovolêmico — redução do volume de sangue correndo pelo corpo —, que pode matar em pouco tempo se não for tratado.
Assim que são constatados os sintomas, o paciente deve ser rapidamente atendido por um médico, a fim de impedir a mortalidade.
De um modo geral, os sintomas da cólera nas crianças não são muito diferentes do que nos adultos. No entanto, devido a maior facilidade de hipoglicemia com a perda de fluidos, eles podem apresentar convulsões, estados alterados de consciência e até mesmo coma. Febre e sonolência também são comuns nas crianças.
Quando a doença se desenvolve, os sintomas podem ser graves e levar a algumas complicações. São elas:
Na cólera, a perda de água pode chegar até 20 litros por dia. A rápida eliminação de líquidos pela diarreia e vômitos causa a perda de eletrólitos no corpo. Essa condição traz uma série de desdobramentos perigosos como arritmia cardíaca, hipoglicemia, falência renal, diminuição da produção de urina, entre outros.
Junto com todos os fluidos, o indivíduo infectado perde também a glicose presente no sangue — sendo que ela é a principal fonte de energia do corpo —, especialmente quando não tem forças para comer e repor os nutrientes.
Desse modo, a pessoa pode apresentar convulsões, perder a consciência e, em casos mais graves, falecer.
A cólera leva à perda de potássio e outros minerais pela diarreia. A falta de potássio coloca a vida em risco pois interfere na atividade cardíaca e nervosa.
A perda intensa de líquidos e desidratação impedem o bom funcionamento dos rins. Desse modo, substâncias tóxicas e inúteis para o corpo ficam presas no sangue. Geralmente, a insuficiência renal por cólera contribui para o desenvolvimento de um choque hipovolêmico.
Essa condição é caracterizada pela redução do volume de sangue, que sobrecarrega o coração pois, para que possa irrigar todos os tecidos, ele precisa bombear com mais força e mais rapidamente por conta da menor quantidade de sangue. O choque hipovolêmico é altamente fatal e uma das maiores causas de morte da cólera.
Devido às complicações citadas anteriormente, a cólera leva ao óbito rapidamente. Quando não tratada, casos mais graves podem matar em questão de horas.
Por se tratar de um infecção bacteriana, a cólera deve ser diagnosticada o mais rapidamente possível. Por isso, a primeira parte do diagnóstico que já abre espaço para o início do tratamento é o histórico do paciente.
Caso o paciente apresente um quadro clínico de diarreia intensa e teve contato com áreas onde falta saneamento básico, por exemplo, a suspeita de cólera é bem grande. Deste modo, o médico — geralmente um clínico geral ou infectologista — já pode traçar a primeira etapa do tratamento: hidratação.
Em seguida, ele pode pedir um exame de fezes a fim de identificar o microrganismo. Em alguns casos, pode-se performar um swab retal ou fecal (coleta de material com uma espécie de cotonete estéril) ou uma coleta em papel filtro. No entanto, esse método é usado apenas quando há episódio isolados da doença, pois em surtos esse tipo de exame seria muito demorado.
Felizmente, sim, a cólera tem cura! Nos casos assintomáticos, ela costuma se resolver espontaneamente porque o organismo dá um jeito de acabar com as bactérias. Já nos casos em que há sintomas graves, com o tratamento adequado, a cura é facilmente alcançada.
A primeira parte do tratamento da cólera consiste na reidratação. Depois, se necessário, podem ser administrados medicamentos.
Devido à perda de sais, a reidratação não é feita apenas com grandes quantidades de água. De fato, usa-se uma solução rica em eletrólitos para restabelecer o equilíbrio hídrico do corpo.
A solução é preparada com água, açúcar e sal. Sim, doce e salgado na mesma proporção! Talvez o gosto não seja o mais agradável, mas funciona. Muitas vezes, dependendo do estado do indivíduo, a solução será administrada pela via intravenosa.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere as seguintes quantidades para solução de reidratação:
Cloreto de sódio | 3,5g |
Citrato trissódico, diidratado | 2,9g |
Cloreto de potássio | 1,5g |
Glicose | 20,0g |
Quando necessário, são administrados antibióticos para eliminar a bactéria, em especial a doxiciclina.
Em contrapartida, existem muitos medicamentos reidratantes no mercado que podem ser administrados, como:
Antidiarreicos não devem ser utilizados, visto que esses medicamentos diminuem os movimentos intestinais que expulsam as fezes, o que faz com que o ambiente fique ainda mais amigável para a proliferação de bactérias.
Atenção!
NUNCA se automedique ou interrompa o uso de um medicamento sem antes consultar um médico. Somente ele poderá dizer qual medicamento, dosagem e duração do tratamento é o mais indicado para o seu caso em específico. As informações contidas neste site têm apenas a intenção de informar, não pretendendo, de forma alguma, substituir as orientações de um especialista ou servir como recomendação para qualquer tipo de tratamento. Siga sempre as instruções da bula e, se os sintomas persistirem, procure orientação médica ou farmacêutica.
Infelizmente, a prevenção da cólera não depende apenas do indivíduo, pois o saneamento básico promovido pelas prefeituras dos municípios é a melhor prevenção. Isso porque esse sistema mantém dejetos longe de fontes de água que abastece os lares.
No entanto, apenas isso não é o bastante para prevenir a doença. Algumas dicas são:
Embora pouco conhecidas, existem algumas vacinas no mercado disponíveis para a prevenção da cólera: Dukarol e Sanchol. No entanto, elas são raramente recomendadas pois previnem apenas 50% dos casos e a imunização é de curta duração: funciona por apenas 3 meses.
Os médicos não costumam recomendá-las nem mesmo para pessoas que irão viajar para locais onde há maior incidência de cólera. A prescrição é feita, geralmente, apenas em casos de alto risco e em pessoas que tem problemas na produção de ácido gástrico.
Se você é um viajante ou mora em algum local onde a água não é muito bem tratada, vale a pena aprender a tratá-la sozinho antes de consumir e correr o risco de contrair alguma doença.
Mesmo nas grandes cidades com condições adequadas, o tratamento da água em casa também é recomendado, visto que o tratamento nas estações pode não ser o suficiente em alguns casos.
Felizmente, tratar a água é muito simples e existem diversas maneiras! Entenda:
Ferver a água é, provavelmente, um dos melhores métodos de desinfecção. Isso porque diversos dos microrganismos presentes na água não resistem ao calor e morrem rapidamente.
Para que elimine grande parte dos microrganismos, inclusive a Vibrio cholerae, deve-se ferver a água por pelo menos 5 minutos.
Não pense que colocar a água para aquecer durante 5 minutos fará o trabalho, não! Conta-se 5 minutos apenas a partir do momento em que ela alcança a fervura, ou seja, quando ela se encontra em um estado de agitação com a formação de grandes bolhas gasosas.
Claro que a água, logo que sai do fogo, não tem o melhor gosto do mundo. Por isso, se preferir consumir depois, guarde-a num recipiente devidamente esterilizado, com tampa, em um local fresco.
O cloro é uma substância capaz de eliminar diversos microrganismos causadores de doenças da água. No entanto, não é qualquer cloro que pode ser usado para consumo humano! O mais indicado, nesses casos, é o hipoclorito de sódio ou a água sanitária.
Para cada litro de água, deve-se adicionar apenas 2 gotas (6 mL) de hipoclorito de sódio entre 2 e 2,5%. Concentrações maiores que isso são prejudiciais para a saúde!
A água sanitária, por sua vez, é hipoclorito de sódio misturado com água, ou seja, acaba sendo um pouco mais fraco que o hipoclorito. No entanto, isso não significa que ela deva ser usada em concentrações maiores, pois também é prejudicial! Apenas 2 gotas por litro d’água é suficiente.
Alternativamente, existem no mercado alguns produtos para ajuda na desinfecção da água, que devem ser usados de acordo com a indicação de cada fabricante. Hidrosteril e Clor-in são alguns exemplos.
Atenção!
Nem toda água sanitária é indicada para a desinfecção, pois alguns fabricantes podem adicionar outras substâncias impróprias para consumo. Certifique-se sempre de que a água sanitária é composta apenas por água e hipoclorito de sódio. Caso haja qualquer outro componente na lista de ingredientes, evite usá-la.
Muito conhecida pela pandemia dos anos 60, a cólera é uma doença facilmente tratável, mas que deve ser rapidamente atendida a fim de evitar complicações. Se você esteve recentemente em alguma área onde não há saneamento básico e apresenta sintomas, procure um médico o mais rápido possível.
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Rafaela Sarturi Sitiniki
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