O Transtorno Afetivo Bipolar é uma doença séria que, caso não tratada, pode acarretar diversas dificuldades na vida de uma pessoa.
Por isso, este artigo serve como um guia para sanar as principais dúvidas a respeito da condição como o que é, quais os sintomas, tipos, diagnóstico e como conviver.
Índice - neste artigo você irá encontrar as seguintes informações:
O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), também conhecido como transtorno bipolar ou transtorno maníaco-depressivo, é uma doença mental grave caracterizada por alterações extremas do humor, configurando episódios de mania e depressão.
As oscilações de humor são comuns em nossas vidas e, em geral, não caracterizam uma condição psiquiátrica, mas o que diferencia as condições de bipolaridade é que essas oscilações são mais intensas, duram mais tempo e são capazes de afetar padrões de sono e energia, assim como desestabilizar a estrutura familiar e as diversas relações dos pacientes.
Além disso, enquanto a maior parte das pessoas experienciam mudanças no humor devido a acontecimentos em suas vidas, as oscilações dos pacientes bipolares ocorrem sem motivo aparente.
O transtorno se manifesta, geralmente, durante o final da adolescência e começo da vida adulta. Entretanto, existem casos em que a doença começa a se desenvolver já na infância, durante a adolescência ou até mesmo após entrar na terceira idade.
Na Classificação Internacional de Doenças (CID 10), o transtorno afetivo bipolar pode ser encontrado sob os códigos:
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Os sintomas do transtorno bipolar estão concentrados nos episódios de mania e depressão, que podem ser definidos como:
Estes episódios não apenas mexem com o emocional, como também alteram padrões de sono, a energia e disposição dos pacientes.
Além disso, não há necessariamente um padrão, pois algumas pessoas podem ter mais episódios de hipomania do que mania propriamente dita, outros encaram episódios de distimia ao invés de depressão e outros podem nunca experienciar a mania completa.
Descubra mais sobre os episódios a seguir:
Nos episódios de mania, o paciente:
Durante os períodos baixos, nos episódios de depressão, o paciente:
Segundo o DSM-5 (5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais), quando há a ocorrência mista (ou seja, conjunta) de sintomas maníacos e depressivos, adiciona-se o especificador "com características mistas", pois o paciente pode apresentar sentimentos característicos de ambas, sentindo-se mal, sem esperanças, ao mesmo tempo em que se sente com energia e disposto a continuar realizando diversas atividades.
Em crianças e adolescentes, os episódios podem se manifestar de maneiras diferentes. Saiba mais, a seguir:
As crianças podem ter comportamento agressivo quando seus pais negam alguma coisa. Esse comportamento pode durar por horas.
Adolescentes podem ter problemas na escola como notas baixas, suspensões por brigas ou usos de drogas, deixar de participar de atividades extracurriculares, além de se envolver em sexo de risco e apresentar comportamento ou intenções suicidas.
É de extrema importância que os pais estejam atentos a esses comportamentos, para que a criança ou adolescente seja diagnosticada e tratada o mais rápido possível, evitando pioras no desenvolvimento da doença.
O transtorno pode ser classificado em quatro grupos, de acordo com os padrões das oscilações de humor. São eles:
No transtorno bipolar tipo I, há mais episódios de mania e hipomania do que episódios depressivos. Os episódios de mania costumam ser graves, impedindo a realização de tarefas cotidianas, que persistem por pelo menos 7 dias e, em alguns casos, podem levar ao paciente a necessitar de cuidados hospitalares.
Predominância de episódios depressivos, com incidência de episódios hipomaníacos, ou seja, episódios de uma espécie de mania mais leve, que não impede que a pessoa trabalhe ou estude, sem sintomas psicóticos. Entretanto, a atenção durante os episódios depressivos deve ser redobrada.
Caracterizado pela presença oscilante de sintomas depressivos e de hipomania durante um período de pelo menos 2 anos. Entretanto, os sintomas não são o suficiente para configurar episódios depressivos ou hipomaníacos propriamente ditos, portanto, sendo classificado como outro tipo de transtorno.
Enquanto no transtorno bipolar tipo I há sintomas maníaco e/ou hipomaníaco, o tipo II apresenta apenas o hipomaníaco. Portanto, o tipo sem especificação compreende sintomas que não se enquadram em todos os critérios estipulados para os tipos I e II.
Podem haver episódios hipomaníacos de curta duração (menos de 4 dias), ciclos rápidos — quando as oscilações ocorrem em menos de uma semana —, recorrência de estados mistos atípicos, entre outros.
Assim como diversas outras condições psiquiátricas, é difícil traçar uma só causa que desencadeia o Transtorno Afetivo Bipolar. Existem evidências de que há tanto causas genéticas quanto causas psicossociais. Descubra mais sobre as possíveis causas, a seguir:
Especialistas sugerem que a genética tenha alguma ligação com o desenvolvimento da doença, mas estudos em gêmeos idênticos mostraram que nem sempre os dois chegam a desenvolver a doença.
Entretanto, continua sendo um fato de que a maior parte das pessoas acometidas pelo transtorno bipolar tem a doença no histórico familiar.
Há estudos que revelam que os cérebros de pacientes bipolares possuem algumas alterações se comparados aos cérebros de pessoas sem o transtorno ou com outros transtornos psiquiátricos. Estas diferenças podem ser tanto físicas quanto químicas, relacionadas aos neurotransmissores.
A utilização de substâncias como álcool, tabaco e outras drogas ilícitas pode causar confusão mental e desencadear diversos comportamentos e sentimentos característicos dos episódios de mania ou depressão. Enquanto o uso em si não é capaz de causar a doença, certamente ajuda a torná-la mais evidente em quem já tem predisposição para desenvolvê-la.
Outros fatores de risco que estão relacionados não apenas à bipolaridade, mas a outros transtornos também, são os fatores ambientais e as experiências traumáticas. Em ambientes carregados de conflitos e situações que podem gerar traumas, as emoções e pensamentos facilmente se tornam confusos, o que pode auxiliar no desenvolvimento do transtorno bipolar.
O diagnóstico da condição deve ser feito por um (a) psiquiatra, que pode requisitar exames para descartar a possibilidade de outras doenças que podem ter sintomas parecidos.
O (a) profissional também pode requisitar um apanhado geral da vida da pessoa e pedir que conte sua história, pois os tipos de bipolaridade podem ser facilmente confundidos com outras doenças caso não haja uma análise dos episódios anteriores.
A maior parte dos pacientes procuram ajuda quando estão tendo um episódio depressivo, não quando estão se sentindo bem como se sentem com a mania ou hipomania. Por isso, o profissional deve ser cuidadoso para não diagnosticar o paciente erroneamente.
Além disso, o (a) psiquiatra pode questionar os familiares do (a) paciente em episódio de mania, como forma de verificar sintomas que este (a) pode não perceber.
Para diagnosticar o Transtorno Afetivo Bipolar, o profissional deve, primeiramente, verificar a presença dos episódios maníacos e depressivos. Os critérios para identificar esses episódios estão presentes no Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais — 5ª edição (DSM-5).
É preciso a presença de pelo menos 3 dos seguintes sintomas por no mínimo uma semana:
A hipomania é classificada quando existem pelo menos três sintomas de mania, porém:
Para diagnosticar um episódio depressivo, é preciso que haja pelo menos 5 dos sintomas abaixo durante 2 semanas ou mais, incluindo estado deprimido ou anedonia:
No caso de distimia, é necessária a presença de 3 a 4 sintomas por pelo menos 2 anos consecutivos. Para diagnóstico bipolar essa fase não pode ter sido causada por luto, drogas ou outra doença.
Existem diversas doenças que podem aparecer juntamente com o transtorno bipolar, inclusive algumas que podem sobrepor os sintomas e atrapalhar o tratamento do transtorno. Por isso, é importante que essas comorbidades também sejam tratadas.
Algumas dessas doenças são o transtorno de ansiedade generalizada, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade e abuso de substâncias (dependência química).
Além disso, pessoas bipolares têm riscos maiores de desenvolver algumas doenças físicas, como problemas na tireoide (hipertireoidismo ou hipotireoidismo), enxaqueca, doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, entre outros.
Até o presente momento, não é conhecida uma cura para o Transtorno Afetivo Bipolar, por isso, ela tende a durar a vida inteira. Todavia, a doença pode ser controlada através de tratamento adequado, assim como diversos transtornos mentais.
Por ser uma doença causada por fatores biopsicossociais, o tratamento geralmente é feito através de medicamentos e psicoterapia. É de extrema importância que o paciente também esteja inserido em um ambiente saudável, com pessoas que o apoiam e tentam ajudar na sua melhora.
O tratamento em adultos é o mesmo em crianças e adolescentes, porém é preciso que os pais ou responsáveis estejam atentos e, avisem o (a) médico (a) responsável em caso de efeitos colaterais.
Conheça as principais medidas de tratamento:
A psicoterapia é essencial para a melhora e o controle da bipolaridade, uma vez que a exposição aos sentimentos e dificuldades provocados pela doença podem desestabilizar o (a) paciente ainda mais.
Nesses casos, a psicoterapia ajuda o paciente a manter-se forte, lidar com eventuais recaídas e também fazer com que o (a) paciente não desista do tratamento.
Existem diversos tipos de terapias que podem ajudar, algumas delas são:
Este tipo de terapia foca em encontrar as crenças e padrões de pensamento que não são saudáveis e prejudicam o paciente, e substituí-los por crenças e pensamentos positivos.
Desta maneira, ajuda o (a) paciente a compreender fatores que desencadeiam episódios, assim como ensina a lidar melhor com o estresse e situações que podem provocar emoções intensas.
A técnica é voltada para o conhecimento da doença em si, na qual o (a) paciente aprende mais sobre o transtorno bipolar e, com isso, pode reconhecer melhor os sintomas em si mesmo (a), o que pode ajudar o (a) profissional da saúde mental a prescrever o tratamento mais adequado.
Do inglês Interpersonal and Social Rhythm Therapy, esta terapia é focada na estabilização dos ritmos e padrões, determinando uma rotina equilibrada para o (a) paciente. Essa terapia atua no controle do sono, das refeições, dietas e exercícios, que pode ajudá-lo (a) a encontrar maior estabilidade também para suas emoções.
Algumas outras terapias que podem beneficiar não apenas o (a) paciente, mas também familiares e amigos, são: terapia familiar e terapia conjugal (terapia de casal).
É importante que as pessoas próximas do (a) paciente estejam cientes da doença, compreendam como funciona e sejam tratados também, pois as emoções e oscilações de humor dos indivíduos bipolares podem prejudicar também as relações interpessoais.
O tratamento medicamentoso é geralmente feito com estabilizadores de humor, antidepressivos, antipsicóticos e, em casos de urgência, tranquilizantes. Os remédios devem ser prescritos por um (a) psiquiatra e o tratamento não deve ser descontinuado sem o consentimento do profissional.
Quais medicamentos são prescritos depende muito do estado do (a) paciente, de quais outros medicamentos faz uso e de suas características de saúde.
Entre os principais medicamentos prescritos estão:
Os estabilizadores de humor podem ser facilmente apontados como os remédios mais importantes no tratamento do transtorno bipolar, pois são os que auxiliam o controle do processo de ciclagem (oscilações), evitando episódios maníacos ou depressivos.
Alguns medicamentos a serem usados como estabilizadores são:
É interessante notar que, fora o Carbonato de Lítio, os estabilizadores de humor também são usados como anticonvulsivantes no tratamento da epilepsia.
Os antidepressivos são, em geral, prescritos durante episódios depressivos. Devem ser usados em conjunto com os estabilizadores de humor, para evitar o desencadeamento de episódios maníacos.
Alguns antidepressivos usados são:
Os antipsicóticos são usados por ter efeito antimaníaco e antipsicóticos, ou seja, auxiliam no controle de sintomas como alucinações e delírios.
Alguns antipsicóticos usados são:
Os tranquilizantes devem ser usados apenas durante crises, enquanto os estabilizadores de humor ainda não fazem efeito. Alguns exemplos são:
Atenção!
NUNCA se automedique ou interrompa o uso de um medicamento sem antes consultar um médico. Somente ele poderá dizer qual medicamento, dosagem e duração do tratamento é o mais indicado para o seu caso em específico. As informações contidas neste site têm apenas a intenção de informar, não pretendendo, de forma alguma, substituir as orientações de um especialista ou servir como recomendação para qualquer tipo de tratamento. Siga sempre as instruções da bula e, se os sintomas persistirem, procure orientação médica ou farmacêutica.
A EMTr é uma técnica que usa pulsos magnéticos para estimular as células do cérebro que estão envolvidas no controle e regulação das emoções e do humor, podendo auxiliar na depressão.
Trata-se de uma técnica segura e não invasiva que tem duração de cerca de 6 semanas, com 5 sessões por semana.
Leia também: Tratamento psicológico e psiquiátrico: qual a diferença?
O Transtorno Afetivo Bipolar pode ser difícil de lidar tanto para o (a) paciente quanto para seus amigos e familiares. Por isso, algumas medidas devem ser tomadas para conviver com a doença durante o período de tratamento mais intenso, assim como durante a manutenção, após o controle da condição.
O (a) paciente deve comprometer-se ao tratamento e tomar os medicamentos na hora certa.
Lembre-se de que o tratamento é para a vida toda e não pode ser parado quando o (a) paciente se sentir bem ou quando achar que não está fazendo efeito - mesmo que já tenha passado anos desde o início do tratamento. No caso do tratamento ter perdido a eficácia, é preciso informar o médico e pedir ajustes.
Manter uma rotina estabelecida de sono e refeições pode auxiliar no controle da doença. Também é recomendado que o paciente se abstenha do consumo de álcool e outras substâncias, pois estas mexem diretamente no cérebro, podendo desencadear um novo episódio.
É importante também que o paciente não se automedique, pois os ativos podem se misturar com os medicamentos regulares, causando interação medicamentosa e resultando em efeitos adversos indesejados.
Ao perceber sinais de que um novo episódio de humor está se iniciando, é de extrema importância que o (a) paciente fale com seu médico, relatando seus pensamentos e vontades. Com isso, o (a) médico (a) saberá o que realmente se passa e poderá ajudar corretamente.
É importante que a família e pessoas próximas saibam que os (as) pacientes necessitam de compreensão e paciência durante as crises pois os sintomas são a manifestação da condição e não características da pessoa em si.
Além disso, o apoio ao tratamento é fundamental, principalmente no que diz respeito à medicação. Para isso, familiares e amigos devem auxiliar o paciente a lembrar dos horários e doses dos medicamentos a serem tomados, contribuindo para que não haja uma nova crise, uma vez que a ausência dos mesmos por poucos dias é o suficiente para que os sintomas reapareçam.
As maiores complicações relacionadas ao bipolar são a descontinuação do tratamento, o abuso de substâncias, dificuldades cognitivas, agravamento sintomático e pensamentos de automutilação e suicídio.
O (a) paciente deve ser constantemente lembrado que o tratamento é o que faz com que ele (a) se sinta bem e, caso resolva parar, os sintomas podem voltar repentinamente.
No decorrer dos anos, o tratamento ineficaz ou a negligência do (a) paciente em manter o acompanhamento pode fazer com que os quadros de oscilação de humor sejam mais intensos e mais difíceis de serem medicados. Dificuldades de memória, concentração, aprendizado, além de orientação espacial podem ocorrer gradativamente.
Embora o abuso de substâncias possa ser um fator desencadeador dos sintomas, também pode ser uma consequência, pois, para escapar da dor emocional, o paciente pode recorrer ao uso de álcool ou drogas ilícitas. Em consequência, há o início de ciclo vicioso, já que o uso piora a doença e a doença pode aumentar o uso.
A demora para diagnosticar e acertar o tratamento do transtorno bipolar também é um fator de complicação. Estima-se que, no Brasil, o diagnóstico correto pode levar cerca de 6 anos para ser feito.
Outra complicação é o fato de que os (as) pacientes diagnosticados (as) com a condição têm maiores chances de desenvolver doenças crônicas físicas, como doenças cardiovasculares, obesidade, entre outras.
Não existe um meio de prevenir o transtorno em si, no entanto as crises e episódios de humor podem ser evitados, com algumas dicas, como:
Perceber a presença de sintomas logo no começo de um episódio previne que este fique ainda pior, além disso, identificar fatores desencadeadores também ajuda. Caso perceba o início de um novo episódio de mania ou depressão, entre em contato com o (a) médico (a) responsável pelo tratamento.
Além disso, é recomendado que a família e amigos sejam orientados a identificar corretamente os sinais, pois o (a) próprio (a) paciente pode não perceber.
A utilização de substâncias que agem diretamente no cérebro pode piorar os sintomas, assim como desencadear uma nova crise.
Manter as doses e horários assim como prescritos são as melhores medidas para que o tratamento funcione corretamente e ao sentir vontade de parar, o paciente deve ser lembrado das consequências, inclusive que os sintomas poderão voltar com toda a força.
É importante que o profissional responsável pelo tratamento esteja ciente de todos os medicamentos que o paciente está tomando, e quando for tomar novos medicamentos, sejam eles prescritos ou não, avisar ao médico. Isso porque as interações medicamentosas podem ser graves e desencadear um novo episódio.
Leia também: Psiquiatra ou psicólogo: diferenças e quando buscar cada um
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Dr. Emerson Barbosa
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