Saúde

Leishmaniose (tegumentar, visceral): o que é e qual a causa?

Publicado em: 07/02/2019Última atualização: 01/07/2022
Publicado em: 07/02/2019Última atualização: 01/07/2022
Foto de capa do artigo
Publicidade
Publicidade

A leishmaniose é uma condição infecciosa não contagiosa causada por parasitas e que é considerada extremamente negligenciada.

De acordo com a DNDi (Drugs for Neglected Diseases initiative) — ou iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas, em português —, isso acontece porque a leishmaniose tem prevalência em regiões pobres.

Com isso em mente, o Minuto Saudável preparou um conteúdo com as principais informações a respeito da doença, seus tipos, como acontece a transmissão, sintomas e tratamento. Confira!

O que é e o que causa a leishmaniose?

Leishmaniose é uma doença causada por protozoários. Ela é classificada como uma antropozoonose, ou seja, uma doença própria de animais, mas que pode ser transmitida de maneira acidental para seres humanos.

A condição pode se manifestar de 3 maneiras diferentes e ser causada por até 30 tipos de protozoários do gênero Leishmania. Alguns dos principais protozoários causadores da doença são:

Leishmania amazonensis

Esse protozoário, que pode ser encontrado em todo o Brasil, tem grande prevalência na região da floresta amazônica e costuma causar a leishmaniose tegumentar ou cutânea.

Leishmania guyanensis

A espécie está presente no norte do Brasil, principalmente em regiões de floresta onde não ocorrem alagamentos. Assim como a amazonensis, costuma causar a versão cutânea da doença.

Leishmania braziliensis

A espécie foi a primeira a ser classificada como causadora da leishmaniose. Apesar do nome, ela está espalhada por grande parte da América Latina e também causa o tipo tegumentar ou cutâneo da condição.

Leishmania chagasi ou infantum 

A Leishmania chagasi, também conhecida como Leishmania infantum, é a principal espécie responsável pelo tipo visceral da doença. 

Publicidade
Publicidade

Quais são os tipos de leishmaniose?

Existem 2 tipos diferentes de leishmaniose que são classificados de acordo com a região afetada: a tegumentar (cutânea) e a visceral. Entenda cada tipo a seguir:

Leishmaniose cutânea ou tegumentar (LT)

A leishmaniose tegumentar, também chamada de cutânea, afeta principalmente a pele e, em certos casos, as mucosas, formando feridas e úlceras que podem ser grandes e doloridas. 

É o tipo mais comum da condição, sendo causada por cerca de 20 dos protozoários do gênero leishmania e é transmitida pelo mosquito-palha (também conhecido como birigui e tatuquira) infectado, que pode contrair o parasita ao picar outros animais infectados.

Já a Leishmaniose mucocutânea é a variação mais perigosa do tipo cutâneo, pois afeta as mucosas e a cartilagem gerando úlceras. Ou seja, junto da pele, a parte interna da boca e do nariz são afetados, assim como a cartilagem que compõe o nariz e as orelhas.

Esse tipo da doença pode causar sérias deformações faciais nos lábios, orelhas ou nariz.

Normalmente, esse tipo tem como agente infeccioso o Leishmania braziliensis, mas em casos mais raros, a condição pode ser causada por outros tipos de protozoários do gênero leishmania.

Leishmaniose visceral (LV)

A leishmaniose visceral, também conhecida como calazar, é o tipo mais raro e perigoso da doença e pode ser causado por: Leishmania donovani e Leishmania chagasi ou infantum.

Esse tipo causa úlceras nos órgãos internos do paciente, principalmente naqueles que têm altas concentrações de células do sistema imunológico. Isso acontece pois os protozoários infectam as células fagocitárias,células imunológicas responsáveis pelo processo de envolver e eliminar micróbios infectantes.

Quando os protozoários são “engolidos” pelas células imunológicas, eles se reproduzem e, eventualmente, rompem as células, atingindo a corrente sanguínea e se espalhando por todo o corpo do (a) paciente.

O baço, o fígado e a medula óssea são alguns dos órgãos mais afetados pela condição que, se não tratada, pode levar à morte.

Em alguns animais, como por exemplo o cachorro, o protozoário pode não causar nenhum sintoma. E, nesses casos, não representa um perigo para o animal em si, mas um mosquito pode se contaminar caso o pique e, consequentemente, reiniciar o ciclo da doença.

Leia também: Malária: causa, sintomas, tratamento, transmissão, tem cura?

Publicidade
Publicidade

Leishmaniose canina

A leishmaniose é uma doença mais comum em animais do que em humanos. Em ambientes urbanos o animal mais afetado pela doença é o cachorro, que também serve de principal hospedeiro do parasita. Por outro lado, em áreas silvestres, a condição atinge em grande parte raposas e marsupiais.

Quando se fala de leishmaniose canina, trata-se da leishmaniose visceral, que causa sintomas como fraqueza, sonolência, perda de apetite, úlceras na pele e mucosa e nódulos em várias regiões, como a cabeça e pescoço.

Sem o tratamento adequado, a condição pode causar complicações graves no animal que pode, inclusive, ir a óbito, portanto, é importante que o cão tenha acompanhamento médico veterinário.

Além disso, infelizmente, não existe a cura garantida da leishmaniose canina.

Os cães são animais mais comumente infectados pela doença.

Como acontece a transmissão?

O meio mais comum de transmissão do protozoário parasita causador da leishmaniose é a picada de mosquitos flebótomos, mais notadamente o mosquito palha

Quando o mosquito palha consome o sangue de algum animal infectado, os protozoários vão para o estômago do inseto e começam a se desenvolver. 

Depois de alguns dias, o protozoário atinge a saliva do mosquito, e quando ele pica outro animal, os parasitas entram na corrente sanguínea novamente, contaminando novos hospedeiros mamíferos.

Publicidade
Publicidade

Grupos e fatores de risco

Alguns grupos são mais propensos a desenvolver versões sérias da doença. São eles:

HIV Positivo

Devido aos problemas imunológicos causados pelo vírus HIV, o parasita se torna mais agressivo para pessoas que sofrem de AIDS. Portanto, o sistema imunológico incapaz de lidar com a doença permite que sua evolução seja rápida e perigosa.

Desnutrição

A desnutrição enfraquece o sistema imunológico que, consequentemente, pode encontrar mais dificuldades em eliminar os parasitas, tornando pessoas desnutridas um grupo vulnerável.

Comprometimento do sistema imunológico

Qualquer doença que comprometa o sistema imunológico abre o caminho para o desenvolvimento dos dois principais tipos da doença.

Regiões desmatadas

Pessoas que moram em regiões recentemente desmatadas sofrem risco de contaminação, já que os mosquitos que vivem na área de floresta podem migrar para a região urbana.

Florestas

Visitas a regiões de florestas tropicais, como a Amazônia, podem expor as pessoas ao parasita leishmania, aumentando as chances de contração e evolução da doença.

Regiões pobres

Regiões mais pobres possuem maior número de casos de leishmaniose devido ao menor controle da população de mosquitos, das baixas condições de saneamento básico e da dificuldade de acesso ao tratamento da infecção parasitária, o que facilita a continuação do ciclo do protozoário.

Sintomas

Os sintomas da leishmaniose variam um pouco de acordo com o tipo da doença. Entre os principais sintomas do tipo tegumentar estão:

  • Úlceras na pele;
  • Descamação da pele;
  • Inchaço no couro cabeludo.

Além disso, quando as feridas atingem a região do nariz, podem causar sintomas como coriza, sangramento e entupimento. Em contrapartida, quando atingem a região da garganta causam tosse, rouquidão e dor ao engolir. 

Já os principais sintomas do tipo visceral da doença são:

Na presença destes sinais, você deve procurar ajuda médica imediatamente para realização de um diagnóstico e posterior tratamento, visto que a leishmaniose é uma doença perigosa.

Leia também: Doença de chagas: tem cura? Sintomas, ciclo, transmissão 

Como é feito o diagnóstico?

O (a) médico suspeita da leishmaniose quando o (a) paciente apresenta os sintomas de descamação e úlceras na pele. 

No entanto, a doença, especialmente na versão visceral, pode passar despercebida por meses e é comum que seus sintomas sejam confundidos com outras condições como a malária, a febre tifóide e a doença de chagas.

Portanto, é necessário realizar alguns testes para a confirmação do diagnóstico. Descubra mais sobre os testes realizados para cada tipo da doença: 

Leishmaniose cutânea

O diagnóstico desse tipo da condição costuma ser mais fácil devido ao fato de que as úlceras são bem visíveis e é possível coletar o material para uma amostra diretamente delas, ou seja, realizar biópsia.

O procedimento é realizado através de uma raspagem, que então é encaminhada para a análise em microscópio para a identificação do parasita.

Leishmaniose visceral

Em contrapartida, o diagnóstico desse tipo da doença pode ser mais difícil devido ao fato de que muitos de seus sintomas são parecidos com os de outras doenças, o que faz com que a suspeita de leishmaniose possa demorar a surgir.

São extraídos materiais da medula óssea, do baço ou soro sanguíneo (parte do sangue sem os glóbulos vermelhos na qual são encontrados os anticorpos criados pelo sistema imunológico) para a realização de exames. Entre os exames que podem ser realizados estão:

  • Reação de imunofluorescência indireta: teste que usa o soro sanguíneo do paciente e busca encontrar nele antígenos específicos da doença;
  • Ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA): teste que detecta reações entre antígeno e anticorpo através de enzimas;
  • Hemograma completo: utilizado para descobrir a gravidade da doença por meio da contagem de glóbulos brancos e plaquetas;
  • Reação de Montenegro: teste imunológico que busca identificar alguns tipos de infecções.

Leishmaniose tem cura?

Na maioria dos casos, a leishmaniose em humanos tem cura. Entretanto, nem sempre é possível se livrar completamente da doença e ela pode apenas ficar inativa. Em contrapartida, com os animais o oposto acontece: a cura é bastante difícil.

Qual o tratamento?

O tratamento tanto em humanos, quanto em animais, é feito através de medicação antimonial pentavalente.

Esse tratamento é considerado agressivo e pode causar diversos efeitos colaterais, como dores de cabeça, alterações hepáticas e edemas faciais, entre outros. 

Os medicamentos comumente usados para a cura da leishmaniose em humanos, também disponíveis pelo SUS, são:

Atenção!

NUNCA se automedique ou interrompa o uso de um medicamento sem antes consultar um (a) médico (a). Somente ele (a) poderá dizer qual medicamento, dosagem e duração do tratamento é o mais indicado para o seu caso em específico. As informações contidas neste site têm apenas a intenção de informar, não pretendendo, de forma alguma, substituir as orientações de um especialista ou servir como recomendação para qualquer tipo de tratamento. Siga sempre as instruções da bula e, se os sintomas persistirem, procure orientação médica ou farmacêutica.

Prognóstico

Os casos mais graves da doença podem levar à morte, mas com tratamento adequado nos humanos, as chances de cura são elevadas.

Nos casos de calazar existe a chance de a doença evoluir para a leishmaniose dérmica pós-calazar. Essa condição tem sintomas como eritema facial e nódulos ou pápulas, pode aparecer até vinte anos depois da infecção e é comum em países como o Sudão e a Índia.

Complicações

Algumas complicações podem surgir em decorrência da doença, tanto em humanos quanto em animais. Entre elas estão:

  • Infecções de pele, de lesões cutâneas, do trato urinário e do trato respiratório;
  • Otite média aguda;
  • Meningite;
  • Hemorragias internas;
  • Emagrecimento severo;
  • Morte.

Como prevenir

A prevenção da doença é feita por meio de alguns meios para evitar a contaminação. São eles:

Coleiras repelentes

Coleiras que liberam repelentes no animal podem ser uma medida tomada como forma de afastar os mosquitos, deixando o animal e os humanos a sua volta protegidos da doença.

Uso de inseticidas

Pode ser feito o uso de inseticidas como forma de matar o inseto que transmite a doença e, consequentemente, impedir que o ciclo do parasita continue.

Redes para mosquitos

Bloquear as janelas com redes para mosquitos (mosquiteiras) impede que eles entrem nas casas, dificultando que a doença se espalhe. Algumas redes podem conter inseticidas para eliminar o inseto.

Limpeza de terrenos, quintais e locais onde os cachorros ficam

Outra medida para prevenir a doença é realizar a limpeza frequente de terrenos, quintais e locais onde os cachorros domésticos ficam, evitando que esses ambientes se tornem focos para os mosquitos.

Uso de repelentes 

O uso de repelentes pode ser uma forma de evitar a picada de diversos mosquitos, incluindo o inseto transmissor da doença. 

O uso de repelentes é uma forma de prevenir a doença.

Tratamento de infectados

Tratar os infectados — tanto humanos, quanto animais — reduz a disseminação da doença através dos insetos que a transmitem.

Vacina para leishmaniose

Não há vacina contra a leishmaniose para humanos, mas para cães sim. A vacinação é extremamente importante para a prevenção de doenças em animais, protegendo de condições sérias como a raiva, os vermes e a leishmaniose.

A vacina contra leishmaniose deve ser aplicada aos quatro meses de idade do cãozinho e dividida em 3 doses separadas por 21 dias. Além disso, é importante que o imunizante seja renovado todos os anos para garantir a máxima proteção.

O cão vacinado fica com o sistema imunológico preparado para lidar com a doença, o que aumenta muito sua proteção contra a leishmaniose, que pode ser fatal, além de reduzir consideravelmente as chances de transmissão do parasita para um mosquito palha.

Ademais, proteger o seu cãozinho também é proteger todos ao redor dele, já que um mosquito poderia se contaminar e picar os outros, espalhando a doença.


A leishmaniose é uma doença grave que pode levar à morte. Porém, o tratamento adequado proporciona a cura para os humanos e menores chances de complicações para os animais. 

Compartilhe este texto com seus amigos para que eles aprendam um pouco mais sobre a condição!

Continue acompanhando o site e as redes sociais do Minuto Saudável para mais informações sobre doenças, sintomas, tratamento e prevenção.

Imagem do profissional Rafaela Sarturi Sitiniki
Este artigo foi escrito por:

Rafaela Sarturi Sitiniki

CRF/PR: 37364Farmacêutica generalista graduada pela Faculdade ParananseLeia mais artigos de Rafaela
Publicidade
Publicidade

Compartilhe

Publicidade
Publicidade
Sobre o Minuto Saudável

Somos uma empresa do grupo Consulta Remédios. No Minuto Saudável você encontra tudo sobre saúde e bem-estar: doenças, sintomas, tratamentos, medicamentos, alimentação, exercícios e muito mais. Tenha acesso a informações claras e confiáveis para uma vida mais saudável e equilibrada.

Somos uma empresa do grupo Consulta Remédios. No Minuto Saudável você encontra tudo sobre saúde e bem-estar: doenças, sintomas, tratamentos, medicamentos, alimentação, exercícios e muito mais. Tenha acesso a informações claras e confiáveis para uma vida mais saudável e equilibrada.
Banner anuncie em nosso site
Banner anuncie em nosso site
Nos acompanhe nas redes sociais:
Atenção: O conteúdo do site Minuto Saudável, como textos, gráficos, imagens e outros materiais são apenas para fins informativos e não substitui o conselho médico profissional, diagnóstico ou tratamento. Se você acha que pode ter uma emergência médica, ligue para o seu médico ou 192 imediatamente. Minuto Saudável não recomenda ou endossa quaisquer testes específicos, médicos (profissionais de saúde), produtos, procedimentos, opiniões, ou outras informações que podem ser mencionados no site. A confiança em qualquer informação contida no site é exclusivamente por sua conta e risco. Se persistirem os sintomas, procure orientação do farmacêutico ou de seu médico. Leia a bula.

Minuto Saudável © 2024 Blog de Saúde, Beleza e Bem-estar
Política de Privacidade
Publicidade
Publicidade