A síndrome do choque tóxico (SCT) é uma doença fatal causada por exotoxinas liberadas pelas bactérias Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes. Os principais sintomas são febre, hipotensão, descamação na pele, mialgia, vômito, diarreia e dores de cabeça.
Trata-se de uma doença muito rara, com incidência de 15 a 52 casos a cada milhão de habitantes, não contagiosa e que pode ser recorrente caso o paciente não tome os cuidados necessários. Mais de um terço dos casos envolvem mulheres menores de 19 anos de idade e até 30% das mulheres que já tiveram a doença vão contraí-la novamente. Pode afetar também homens e crianças de todas as idades, e deve ser tratada com urgência ao ser diagnosticada.
A doença ganhou o nome de Síndrome do Choque Tóxico em 1978, quando o Dr. James Todd a descreveu baseando-se em um estudo de casos clínicos de 7 crianças. Na época, já haviam casos idênticos documentados na literatura médica, muito antes da introdução dos produtos industriais de higiene íntima.
Entretanto, foi na década de 80 que a SCT ficou conhecida por afetar muitas mulheres durante a idade fértil, devido ao uso de tampões (absorventes internos).
Naquela época, os absorventes eram feitos com um material sintético que favorecia a proliferação de bactérias. Hoje em dia, porém, os absorventes são feitos com materiais naturais que dificultam o desenvolvimento das bactérias e, portanto, mais de 50% dos casos não são relacionados ao uso do produto.
Índice — neste artigo você irá encontrar as seguintes informações:
A SCT pode ser dividida em tipos de acordo com a bactéria que libera as exotoxinas. Existem dois tipos:
Causada pela Staphylococcus aureus, é a mais comum nos casos de mulheres em idade fértil. Apresenta sintomas de envolvimento dos sistemas gastrointestinal e muscular.
Esse tipo é causado pela Streptococcus pyogenes, apresenta sintomas como o do tipo estafilocócico, porém favorece o surgimento de necroses, como fasciíte necrosante e gangrena.
As bactérias causadoras do SCT existem naturalmente na pele e, em geral, não apresentam riscos para a saúde humana. Os problemas surgem, na verdade, quando as bactérias entram no corpo e liberam suas toxinas na corrente sanguínea.
A maior parte das pessoas possuem anticorpos que agem contra essas toxinas e, por isso, dificilmente a doença é desenvolvida. Entretanto, ela ainda pode ocorrer quando há proliferação anormal das bactérias, que entram no corpo através de uma ferida aberta ou queimadura. Nesses casos, é possível que os anticorpos não deem conta das toxinas, dando origem à síndrome.
Alguns fatores de risco são:
Tampões cheios de sangue são propícios para a proliferação de bactérias, especialmente os feitos de materiais sintéticos. Felizmente, a maior parte dos absorventes produzidos hoje em dia utilizam algodão ou outros materiais que dificultam o desenvolvimento das bactérias.
Entretanto, ainda há a possibilidade de contrair a síndrome pelo uso incorreto desses tampões. A má colocação é um fator de risco, pois um absorvente mal alojado pode abrir feridas nas paredes vaginais, por onde a bactéria pode entrar. Outros fatores de risco são a utilização de um tampão maior do que o necessário e passar de 8 horas com o mesmo absorvente.
A colocação de contraceptivos intravaginais, como o anel vaginal, diafragma ou capuz cervical, pode causar ferimentos, assim como os absorventes internos. A possibilidade de proliferação das bactérias é menor do que com os tampões, mas a vagina é uma área naturalmente propícia a tais eventos e, por isso, há o risco de infecção.
Os cortes deixados por procedimentos cirúrgicos são um meio de entrada das bactérias. Embora isso aconteça raramente, essa é a principal causa de contração da SCT atualmente.
O risco é ainda maior em pacientes com diabetes, por conta do tempo estendido para a cicatrização.
Juntando os ferimentos do pós-cirúrgico com a propensão natural da vagina em auxiliar a proliferação das bactérias, também é comum a contração da doença durante o pós-parto.
Ferimentos simples e queimaduras também podem ser um meio de entrada das bactérias. É a causa mais comum da doença em crianças, quando se machucam e não tomam providências, como a assepsia (esterilização) do local da ferida.
Da mesma forma que os absorventes internos, outros tipos de tampões, como os nasais, podem ajudar no desenvolvimento das bactérias.
Não se sabe exatamente o porquê, mas alguns outros fatores de risco para a contração da doença são:
Os sintomas da SCT podem variar de pessoa para pessoa, e também de acordo com a bactéria responsável pelas exotoxinas. Entretanto, existem alguns sintomas mais comuns.
São eles:
O corpo pode entrar em estado de choque após 48 horas da aparição dos primeiros sintomas. A pele das mãos e da planta dos pés passa a se soltar entre o terceiro e o sétimo dia. É também durante esse período que a SCT pode provocar lesões nos rins, fígado e músculos, além de provocar anemia.
Muitas vezes, ferimentos podem apresentar características de infecção, porém isso não é uma regra e a lesão que serviu de abertura para a bactéria pode não demonstrar nada.
Em caso de choque estreptocócico, é comum a aparição de lesões na pele que podem evoluir para necroses e gangrena.
Para realizar o diagnóstico de SCT, o médico precisa ter as competências certas. Os profissionais aptos para diagnosticar e tratar a doença são clínicos gerais, infectologistas e médicos de cuidados críticos.
Não existe um exame específico para diagnosticar a síndrome e pode ser necessária uma bateria de exames para tal. Alguns exames que o médico pode pedir são:
O sangue, urina e secreções da garganta ou da vagina podem ajudar o médico a verificar se existe a presença de uma infecção por bactéria.
Para verificar o progresso da doença, o médico pode pedir outros exames como, por exemplo, tomografia computadorizada, punção lombar para retirada de fluido cerebrospinal ou raio-X do peito.
Felizmente, a SCT possui cura, porém mulheres que já tiveram a condição antes não devem fazer o uso de absorventes internos ou contraceptivos intravaginais, uma vez que a doença pode retornar.
Trata-se de uma emergência médica e seu tratamento deve ser feito o quanto antes. É comum que, logo após o diagnóstico, o paciente seja levado à Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) para monitoramento constante.
Alguns tratamentos recebidos pelos pacientes na UTI são:
Esse tipo de tratamento busca matar ou frear o desenvolvimento das bactérias. Sua administração costuma ser intravenosa, por garantir mais resultados em menos tempo, além da dificuldade de absorção de alguns antibióticos por via oral.
O tratamento com antibióticos dura de 10 a 14 dias se não houver complicações.
Para tratar a desidratação, podem ser administradas soluções líquidas por vias intravenosas.
Os procedimentos cirúrgicos para tratar SCT são a remoção de tecidos mortos (necrosados) e, em casos extremos, pode-se realizar a amputação da área afetada.
Em alguns casos, pode ser necessária uma injeção de imunoglobulina, uma mistura de anticorpos feita a partir do plasma humano, retirado do sangue doado em hemobancos. Essa medicação auxilia o sistema imunológico, aumentando a resistência contra as bactérias.
Por causa da variedade de sintomas e complicações que a síndrome pode causar, são ofertados outros tratamentos, como:
Os médicos costumam receitar clindamicina em conjunto com penicilina G (benzetacil).
Alguns medicamentos que podem ajudar a estabilizar a pressão arterial em caso de hipotensão são:
Para aliviar possíveis inflamações e dores, são recomendados anti-inflamatórios não esteroides, como:
Devido a possibilidade da SCT afetar o funcionamento dos rins, muitas vezes o tratamento com esses medicamentos não é recomendado. Entretanto, fica a critério do médico a prescrição dessas substâncias.
Caso não seja tratada rapidamente, a síndrome do choque tóxico pode proporcionar diversas complicações, pois afeta diversos órgãos vitais e pode desencadear condições delicadas, como insuficiências. A taxa de mortalidade do tipo estafilocócico é de 3%, enquanto no tipo estreptocócico essa taxa sobe para 30%.
Algumas complicações são:
Acontece quando o coração e os vasos sanguíneos são incapazes de irrigar todos os tecidos do corpo por conta do baixo volume de sangue, o que causa hipóxia nas células (falta de oxigênio). Essa condição pode rapidamente levar as células à morte e, muitas vezes, é fatal para o indivíduo.
Os rins são os filtros do corpo e é através deles que os fluidos e substâncias indesejáveis são expulsos. Entretanto, caso a SCT ataque esses órgãos, é possível que sua capacidade de filtrar seja alterada, causando o que é chamado insuficiência renal. Os principais sintomas são distúrbios urinários, náusea, inchaço nos pés e tornozelos, dores no peito, entre outros.
Em 70% dos casos, essa insuficiência é reversível, e o funcionamento normal do rim é restaurado. Porém, em outros 10%, os pacientes acabam por desenvolver insuficiência renal crônica.
Relacionada à saúde do fígado, a insuficiência hepática acontece quando o órgão não é mais capaz de realizar suas funções normais, como regular a glicose, sintetizar e metabolizar proteínas, entre outros. Sendo uma das principais glândulas do corpo humano, o organismo fica completamente desregulado em caso de insuficiência.
Alguns sintomas dessa condição são pele e olhos amarelados (icterícia), dores, náusea e dificuldade de concentração.
Quando o coração não consegue mais bombear o sangue para os órgãos e tecidos, chama-se insuficiência cardíaca. Alguns sintomas são palpitações, dores no peito, chiado, tosse, fadiga e fraqueza.
Atenção!
NUNCA se automedique ou interrompa o uso de um medicamento sem antes consultar um médico. Somente ele poderá dizer qual medicamento, dosagem e duração do tratamento é o mais indicado para o seu caso em específico. As informações contidas nesse site têm apenas a intenção de informar, não pretendendo, de forma alguma, substituir as orientações de um especialista ou servir como recomendação para qualquer tipo de tratamento. Siga sempre as instruções da bula e, se os sintomas persistirem, procure orientação médica ou farmacêutica.A SCT é facilmente prevenida através de medidas simples, que, inclusive, protegem contra outras doenças. Algumas dicas são:
Para mulheres em idade fértil, algumas dicas relacionados ao ciclo menstrual podem ajudar:
A SCT é uma emergência médica que deve ser tratada o mais rápido possível. Ainda assim, poucas pessoas sabem da sua existência e de suas causas, podendo ignorar os primeiros sintomas e deixar o quadro evoluir sem saber da gravidade.
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Referências
http://emedicine.medscape.com/article/169177-overviewhttp://www.nhs.uk/conditions/toxic-shock-syndrome/pages/introduction.aspxhttp://www.webmd.com/women/guide/understanding-toxic-shock-syndrome-basics#1http://www.webmd.com/women/tc/toxic-shock-syndrome-bacteria-topic-overviewhttp://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/toxic-shock-syndrome/basics/definition/con-20021326http://www.healthline.com/health/toxic-shock-syndromehttp://kidshealth.org/en/parents/toxic-shock.html
Rafaela Sarturi Sitiniki
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