Pets! Atire a primeira pedra quem nunca gastou um tempo na internet vendo vídeos dessas criaturinhas.

Sejam gatos, cachorros, coelhos, hamsters ou outro animal de estimação, eles estão presentes em nossa vida e em nossas memórias. Em momentos felizes, como a chegada desses novos amiguinhos, ou em momentos tristes, como em partidas e despedidas.

Esse convívio, no entanto, sabemos que não é de hoje. Os animais já foram muito importantes para nossa sobrevivência e para evolução do homem, como quando eram utilizados para auxiliar durante as caças, ou utilizados como transportes, no caso dos equinos. Hoje, acima de tudo, são nossas companhias no dia a dia.

No artigo a seguir vamos entender como os cães, por meio da cinoterapia, podem atuar como coterapeutas.

Afinal, para auxiliar diversos pacientes e pessoas que precisam de um cuidado especial, nada mais adequado que a presença do melhor amigo do homem!

Índice – neste artigo você encontrará as seguintes informações:

  1. O que é cinoterapia?
  2. Objetivos da cinoterapia
  3. Porque os cachorros?
  4. Quais os benefícios da cinoterapia?
  5. Cinoterapia com idosos
  6. Cinoterapia com  crianças
  7. Quando a cinoterapia é recomendada?
  8. Existem contraindicações?
  9. Quais os requisitos e recomendações
  10. Preparação
  11. Como fazer terapia com cães?
  12. Cinoterapia no Brasil
  13. Cães de assistência
  14. Cães e o hábito da leitura

O que é cinoterapia?

A cinoterapia é um método que utiliza cães ou outros animais como coterapeutas em sessões de terapia de diversos pacientes, em variadas situações.

Esse tipo de terapia apresenta uma série de variações e pode ser conhecida por diferentes nomenclaturas, tais como Terapia Assistida por Animais (TAA), Pet terapia, Terapia Facilitada por Cães (TFC), Terapia Facilitada por Animais (TFA), Zooterapia e Fisioterapia Assistida por Animais (FAA).

Acompanhados por uma equipe multidisciplinar, esses cãezinhos atuam como um instrumento para aliviar o tratamento de pacientes, tornando esse processo menos sofrido. O termo cinoterapia é a junção do prefixo grego “cino” (cão) ao radical “terapia” (tratamento).


A origem dessa técnica é antiga. A cinoterapia surgiu no século XVIII, na Inglaterra, com o objetivo de contribuir para o tratamento de pessoas com doenças mentais.

Dessa experiência, descobriram o poder “curativo” desses animais. Observou-se que o convívio com os cães trouxe benefícios psicológicos, sociais e pedagógicos para esses pacientes.

Com as crianças, a cinoterapia demonstra ser ainda mais positiva. O contato com esses cães faz com que estabeleçam uma comunicação recíproca. As atividades realizadas estimulam a criatividade e melhoram a autoestima da criança.

Além disso, proporcionam sensação de bem-estar e felicidade, pois o contato com os cães estimula a liberação de substâncias como a endorfina e a adrenalina, responsáveis por esses benefícios.

Nesse tipo de terapia ainda aprendem sobre  respeito e companheirismo, pois são incentivadas a socializar com os animais e com outras crianças.

Objetivos da cinoterapia

O principal objetivo da cinoterapia é ser um tratamento complementar aos tratamentos tradicionais, sendo uma forma leve e fácil de levar bem-estar aos pacientes.

Através do contato com o animal e atividades, a cinoterapia consegue estimular funções motoras, desenvolver a fala, melhorar a socialização, aumentar a confiança, autoestima e atenção dos pacientes, principalmente no caso das crianças.

A cinoterapia também tem o objetivo de trabalhar no paciente aspectos como cognição, expressão, imagem corporal, memória, equilíbrio, aspectos afetivos, reintegração terapêutica e linguagem.

Esse tipo de terapia pode ajudar profissionais de diversas áreas, tais como os psicólogos, pedagogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas, pois eles podem encontrar na técnica uma forma de estimular e facilitar a recuperação dos pacientes.

Por que os cachorros?

Afinal, entre tantos animais, por que o cachorro? Existem tratamentos feitos com outros animais, como os cavalos, mas os cachorros são as estrelas da cinoterapia.

Eles se mostraram ótimos coterapeutas no tratamento psicológico, físico e emocional de várias pessoas com necessidades especiais, em diferentes faixas etárias.

De acordo com a terapeuta ocupacional e cinoterapeuta Andressa Chodur, do projeto Amigo Bicho, os cães são os mais utilizados pelo afeto que eles promovem, por serem brincalhões, dóceis, fofinhos, e pelo fato de que, historicamente, as pessoas têm um bom vínculo com eles.

(Foto: Reprodução/Facebook – Projeto Amigo Bicho)

No entanto, apesar de estarem mais presentes, não são os únicos que participam das terapias assistidas por animais. Como explica a cinoterapeuta, o cão não é o único que pode participar, mas acaba sendo o mais utilizado por sua personalidade e por promover bem-estar e alegria.

“Em nosso projeto, o Amigo Bicho, também tem dois gatinhos que participam. Em outros projetos pelo Brasil, há lugares que utilizam escargot, galinhas e outras aves para cinoterapia. Outros locais, ainda, utilizam também animais exóticos, como lagartos”.

De acordo com a terapeuta, os animais só precisam ser bem selecionados e estarem dentro do perfil da cinoterapia. Também é necessário que sejam pensados de acordo com o perfil do paciente e com o tipo de atividades que farão durante a sessão.

Quais os benefícios da cinoterapia?

A cinoterapia é um método que vem ganhando bastante interesse de pesquisadores. Eles buscam compreender quais as relevâncias dessa terapia no tratamento de diversas doenças.

Em 1999, por exemplo, uma pesquisa feita pela cardiologista Karen Allen, da Universidade de Nova York, reuniu 48 pessoas, homens e mulheres, que trabalhavam como corretores do mercado financeiro. As pessoas do grupo apresentavam altos níveis de estresse e pressão arterial.

De forma aleatória, foram distribuídos, para metade do grupo, um cão ou um gato para cada pessoa. A partir disso, passaram a morar com o animal de estimação pelo período de 6 meses.

Após esse tempo junto ao bichinho de estimação, o grupo tratado apresentou uma melhora significativa na redução do estresse, além de não apresentar pressão arterial alterada.

Além de ajudar no tratamento de doenças, como no exemplo da pesquisa citada, a cinoterapia ajuda os pacientes a ter uma grande sensação de bem-estar. Muitos pacientes se sentem sozinhos e a companhia dos animais os fazem sentir necessários, principalmente quando se trata de um tratamento paliativo ou quando estão internados há muito tempo.

Além disso, o contato com os cães os fazem remeter ao lar ou animais de estimação que tiveram ou ainda têm.  Outros benefícios que a presença desses animais traz vão de físicos, mentais, emocionais a sociais. Alguns deles incluem:

  • Aumento da capacidade motora;
  • Melhora do sistema imunológico;
  • Redução dos sintomas da depressão;
  • Diminuição da ansiedade;
  • Diminuição do estresse e as taxas de cortisol (hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais com função de ajudar o organismo a reduzir o estresse);
  • Redução da pressão sanguínea;
  • Redução da necessidade do uso de medicamentos, como consequência dos benefícios listados.

Os animais também estimulam os hormônios do bem, os que proporcionam maior sensação de bem-estar, como a endorfina e a serotonina.

A endorfina é considerada um analgésico natural e a serotonina é um hormônio que atua no cérebro, regulando o humor, o apetite e o sono.

Em casos de tratamentos de doenças mais desgastantes, como no caso do câncer em que, às vezes, é necessário passar por radioterapia e quimioterapia, a cinoterapia pode ser uma dose de alívio. Os cachorros, criaturas dóceis e amigáveis, possibilitam que esses pacientes desviem o foco da doença por um momento.

Em outro estudo realizado pelos pesquisadores Alan Beck e Aaron Katcher, professores na Universidade da Pensilvânia, feito para avaliar os benefícios da cinoterapia, a intenção foi analisar como os pets influenciavam na vida de pessoas que sobreviveram a um infarto coronário. Nessa pesquisa, realizada com 92 pessoas, 53 possuíam algum animal de estimação.

Dentro do grupo das 53 pessoas, o índice de sobrevivência relatado foi de 94% após o infarto. No restante do grupo, que não convivia com algum animal de estimação, o índice de sobrevivência foi menor, de 71%.

A relação entre homens e animais também esteve presente em estudos para identificar os benefícios desse convívio em casos de tratamentos de reabilitação psicológica.

Uma pesquisa feita por Katcher, em 1997, em que 2805 pessoas foram acompanhadas por mais de 7 anos, analisou-se que as pessoas que tomavam antidepressivos e que tinham um companheiro pet não precisavam de doses tão altas quanto as pessoas que não tinham contato com os animais.

Uma das hipóteses para que isso aconteça, em todos os casos, é a ideia de que o cuidado com outro ser vivo seja uma ação autocurativa.

Segundo a cinoterapeuta Andressa Chodur, apenas o convívio com os cães no dia a dia, como animais de estimação, já é o suficiente para trazer benefícios.

“Há estudos hoje que comprovam que, mesmo não sendo em terapia, os cães proporcionam uma maior liberação de neurotransmissores responsáveis pelo prazer e bem-estar e que ter um cão em sua vida ajuda a diminuir pressão arterial e até a depressão”.

Tratamento humanizado

Hospitais nem sempre são ambientes agradáveis de estar, pois as pessoas estão impacientes, o internamento não é legal, o tratamento de uma doença pode deixar o paciente triste e desmotivado, com as dores e os sintomas e horários de medicamentos, ainda mais.

Para se ter um tratamento humanizado, a equipe médica precisa enxergar o paciente como uma pessoa e não apenas como a patologia. Assim, o tratamento humanizado, além de buscar a cura da doença do paciente, se preocupa com sua saúde mental e bem-estar.

Nem sempre isso é possível, devido a falta de funcionários e equipe suficiente para atender o número sempre elevado de pacientes. Por isso, introduzir a cinoterapia, estabelecendo uma parceria com instituições, pode ser ainda mais vantajoso.

Cinoterapia com idosos

A cinoterapia para os idosos proporciona um resgate da autoestima. Também desperta maiores responsabilidades: ao terem de cuidar dos bichinhos, se sentem úteis e importantes.

(Foto: Reprodução/Facebook – Projeto Amigo Bicho)

Esse tipo de terapia é uma atividade muito bem-vinda dentro de asilos, pois se torna uma forma de entretenimento, lazer e recreação.

É possível perceber também que a terapia com os animais ajuda os idosos como um exercício para a memória. Por se envolverem com os animais, acabam decorando os nomes e os horários de visita.

Em asilos ou hospitais, o contato esses companheiros faz a rotina ser mais leve, além de trazer maior bem-estar e conforto para esses pacientes.

(Foto: Reprodução/Facebook – Projeto Amigo Bicho)

Para Maria Luiza Mandu Kuiaski, 57 anos, paciente diagnosticada com doença de Parkinson há 7 anos, a cinoterapia é uma atividade que a ajuda até nos exercícios mais simples do dia a dia.

Com as atividades realizadas junto aos animais, consegue estimular o tato e a memória, o que a ajuda em outras tarefas.

Uma das atividades mencionadas pela paciente envolve esses dois estímulos: “Em uma delas, a gente coloca as mãos para trás da cadeira, com olhos fechados, e com o tato tentamos reconhecer os cachorros e lembrar os nomes e a raça de cada um”.

Algumas atividades da terapia são feitas com o uso de bambolês, outras são feitas com os idosos com as pernas estendidas para os cães passarem por baixo, como um caminho para eles. Antes dessas “brincadeiras”, todos passam por um aquecimento.

(Foto: Reprodução/Facebook – Projeto Amigo Bicho)

Além dos benefícios físicos, a cinoterapia também trouxe para Maria mais qualidade de vida. “O contato com a terapia com os animais foi uma alegria muito grande, me deixa sempre tranquila e me faz deixar um pouco de lado a doença”.

Há 5 anos ela frequenta a Associação de Parkinson do Paraná. Foi lá onde conheceu a Terapia Assistida por Animais do projeto Amigo Bicho.

Para ela, o encontro com esses animais acontece uma vez ao mês, em sessões de 1 hora. No entanto, ainda que seja um encontro breve, garante que o contato faz toda a diferença.

“Faz, mais ou menos, 4 anos que participo. Quando está terminando dá uma saudade. É ótimo e por 1 hora esquecemos da doença, melhora nosso humor e disposição”, relata.

Assim como para Maria, a cinoterapia é uma prática bastante eficaz para a maioria da população idosa, uma vez que o preconceito, o abandono e a carência afetiva dentro desse grupo é comum.

Cinoterapia com crianças

As crianças ganham muito quando estão em contato com os animais. Elas são capazes de estabelecer uma comunicação recíproca com os pets, em uma relação de amizade, companheirismo e respeito.

(Foto: Reprodução/Facebook – Projeto Amigo Bicho)

A terapia aumenta a autoestima e autonomia. A alegria de estar com esses animais ainda estimula a produção de endorfina e adrenalina. Quando as crianças estão em atividades com os cães, por um momento, deixam de lado a doença, apenas para aproveitar a companhia dos animais.

A cinoterapia pode ser eficiente no tratamento de diversas condições, mas no setor infantil normalmente é utilizada no tratamento de crianças com paralisia cerebral, síndrome de Down, autismo e outras necessidades especiais.

(Foto: Reprodução/Facebook – Projeto Amigo Bicho)

É uma forma de propor interação social e bem-estar para esses pacientes, e também uma maneira de fugir de atividades que o isolam, como estar sempre conectados, com o celular ou o videogame.

Quando a cinoterapia é recomendada?

A cinoterapia é indicada para tratar vários comportamentos e patologias. Pode ser um auxílio no tratamento de alguns medos e fobias, além de poder ajudar pessoas que sofreram algum trauma ou foram vítimas de alguma violência, como abuso sexual.

Essa terapia também pode ser útil para ajudar crianças a se expressarem melhor, a se comunicarem com outras crianças e se sentirem menos isoladas. O cão é um apoio emocional em diversas circunstâncias, traz tranquilidade e proporciona momentos mais leves e felizes para elas.

Por isso, podemos dizer que a cinoterapia é indicada para todas as pessoas que precisam de um bom companheiro, para deixar de focar nos problemas, solidão, dores, frustrações, estresse e ansiedade do cotidiano.

Sendo assim, idosos, adultos, portadores de deficiência física ou mental, pessoas com doenças como câncer ou soropositivos, todos, de modo geral, podem receber a visita dos cães.

Embora possa ser aplicado a todos os tipos de pessoas, a cinoterapia demonstra resultados mais satisfatórios em grupos de pacientes com autismo, Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett, pacientes com disfunção neuromotora e outros transtornos globais do desenvolvimento.

Além dos hospitais, locais como ambulatórios, casas de repouso, casas de reabilitação, escolas e clínicas de fisioterapia também podem receber a cinoterapia.

Existem contraindicações?

A cinoterapia é indicada como complemento de outros tratamentos convencionais. A cinoterapia, apesar de seus benefícios, não substitui um acompanhamento médico ou o uso de medicamentos, quando se é necessário.

Pode ser utilizada como auxílio no tratamento de crianças e adultos. Somente em algumas circunstâncias a cinoterapia não pode ser aplicada. São elas:

  • Pacientes alérgicos;
  • Pessoas com neutropenia, condição em que o paciente está mais vulnerável à infecções, pois apresenta quantidade de células de defesa abaixo do padrão;
  • Pós-operatório imediato;
  • Em situações onde o animal se torna fonte de rivalidade;
  • Quando os pacientes demonstram comportamento possessivo com o animal;
  • Em casos onde o paciente possa machucar os animais;
  • Quando há risco do animal transmitir alguma doença para o paciente (zoonose);
  • Em pacientes com aversão ou medo dos animais.

Quais os requisitos e recomendações?

Existem alguns requisitos necessários para que a cinoterapia possa acontecer e recomendações que devem ser seguidas pelos pacientes, para os cães e para a equipe hospital. Veja o que é necessário:

Cães

Os cães de qualquer raça podem ser coterapeutas, mesmo aqueles sem raça definida, popularmente conhecidos como vira-latas.

Contudo, em algumas ocasiões certas raças se sobressaem, como no caso dos cães de assistência, que precisam de características mais acentuadas que outras raças podem ter em menor porcentagem.

Uns dos cachorros mais comuns dentro da cinoterapia são os da raça labrador e golden retriever. Eles são considerados cães de temperamento e sociabilidade de excelência e por isso são tidos por alguns terapeutas como ideais para esse tipo de terapia.

As condições para ser um cão coterapeuta são as seguintes:

  • Ser saudável;
  • Ser treinado;
  • Ser dócil;
  • Ser muito sociável e com interesse em interagir com as pessoas;
  • Não ser medroso;
  • Não ser agressivo;
  • Ser calmo, tolerante, amigável.

Também é crucial que os cães não apresentem reação a possíveis agressões, como um puxão do pelo ou da orelha. Esse tipo de coisa pode acontecer, pois os pacientes podem, sem querer, acabar machucando o animal.

Em casos em que o paciente pode apresentar um comportamento assim, os tutores costumam manter um maior cuidado, pois a reação agressiva do cão pode ser traumatizante para o paciente.

Para que isso não aconteça, esses cães são colocados em teste, são analisados por adestradores especialistas em comportamento animal, além de passar por uma seleção para se encaixar dentro dos requisitos listados.

Quem realiza essa avaliação dos cães é um médico veterinário especialista em comportamento animal. Ele deve analisar questões comportamentais e clínicas do cachorro, para saber como ele reage sobre estresse, diante de barulhos e outras situações adversas, além de verificar sua saúde.

É importante que este profissional perceba como o cão pode se comportar nessas situações, pois, às vezes, o paciente pode apresentar algum comportamento involuntário que o assuste.

Até mesmo um ambiente como o hospital, desconhecido para o bicho, pode o deixar mais alerta e com receio.

Para estar apto para a cinoterapia, também precisa ter a carteira de vacinação em dia e receber o laudo do veterinário responsável, afirmando que não há riscos em relação ao seu comportamento e nem a possibilidade de transmissão de doenças.

Pacientes

Antes da cinoterapia, os pacientes devem concordar em receber a visita dos animais. É importante explicar para eles como funciona a dinâmica da terapia e quais serão as atividades.

No caso de pacientes menores de idade, os hospitais precisam de autorização dos pais ou responsáveis.

A cinoterapia não é recomendada para pacientes que tenham fobia por animais ou que apresentam imunidade baixa e outras contraindicações.

De forma involuntária ou não, os pacientes não devem maltratar o animal, pois isso pode induzi-los a uma resposta agressiva.

Também devem higienizar as mãos, antes e depois do contato com os cães. O contato com a saliva, a urina ou fezes do animal devem ser evitados, assim como o contrário, o cachorro também não deve ter contato com urina e outras secreções do paciente.

No caso de mordidas, arranhões ou qualquer alteração fora do comum no comportamento do animal, os pacientes devem comunicar a equipe responsável.

Profissionais da saúde

Existem algumas recomendações para os profissionais de saúde e para os locais que recebem a cinoterapia.

Primeiramente, as equipes que realizam a cinoterapia — normalmente projetos de organização sem fins lucrativos — precisam da autorização do corpo clínico responsável pelo local ou unidade hospitalar.

Os profissionais de saúde precisam ter conhecimento sobre contraindicações da cinoterapia e das orientações que devem ser tomadas em relação a saúde do paciente e também ao bem-estar do animal.

Sabendo disso, algumas orientações mais específicas incluem:

  • É necessário limitar o acesso dos animais em algumas áreas específicas dentro do hospital, como em ambientes de preparação de alimentos, medicação, centros de esterilização e desinfecção, lavanderias, centros cirúrgicos e salas de isolamento;
  • Certificar-se de que as visitas estão sendo feitas com a supervisão do treinador e um profissional da equipe da área da saúde;
  • Quando possível, colocar a disposição um enfermeiro para auxiliar durante a cinoterapia, pois são profissionais que ajudam na comunicação e conseguem estabelecer um relacionamento efetivo com os pacientes;
  • Deixar o paciente seguro e confiante com as visitas;
  • Orientar os pacientes em relação a higiene das mãos e evitar que tenham contato com saliva, urina ou fezes do animal.

Preparação

Antes de entrarem em contato com os pacientes, os cães passam por um processo bem rigoroso de higienização. Normalmente, acompanhados de profissionais como o terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, psicólogo e o tutor do animal.

Os cuidados que esses animais recebem incluem ida ao pet shop para tomar banho, lixar e cortas as unhas, escovação dos dentes e secagem dos pelos.

Alguns procedimentos adicionais que podem ser realizados nos hospitais incluem a limpeza (novamente) das patas e a borrifação de um produto à base de álcool 70° e clorexidina, o que proporciona uma esterilização do animal, prevenindo a presença de qualquer tipo de bactéria presente em seu pelo.

Assim, completamente limpinhos, cheirosos e bem cuidados, estão prontos para os pacientes.

Além disso, todas as pessoas que participam da terapia devem ter as mãos bem limpas, antes e após o contato com os cachorros. Ao mesmo tempo, os tutores e terapeutas precisam estar atentos para que o animal não entre em contato com secreções como fezes, vômitos, urina ou feridas dos pacientes.

Como fazer terapia com cães?

As sessões de cinoterapia podem variar de acordo com os pacientes e os animais que fazem parte do projeto. Normalmente, a terapia acontece com a presença dos cães e por isso iremos descrever o processo tendo como base esses pets.

A terapia tem duração de 1 hora, em média. Esse tempo é definido para atender também às necessidades dos cães.

Como explica a cinoterapeuta, a terapia não é muito longa porque os animais também apresentam um certo desgaste. “Eles também cansam e também se estressam. Eles gostam muito de ‘trabalhar’, mas eles têm um limite de tempo de trabalho”.

Metodologia

Existem três tipos principais de metodologias dentro da cinoterapia. Elas são divididas de acordo com o profissional que realiza as atividades. As atividades são semelhantes, mas a denominação é diferente. São elas:

Terapia Assistida por Animais (TAA)

É quando a cinoterapia é realizada por um profissional da saúde. Para ser uma terapia assistida por animais, é necessário ser dessa área e ter, pelo menos, curso básico sobre intervenções assistidas por animais.

Atividade Assistida por Animais (AAA)

Quando o profissional que realiza as atividades não tem formação dentro da área da saúde, mas possui o curso de cinoterapia, é considerado um técnico em cinoterapia.

Educação Assistida por Animais (EAA)

A educação assistida por animais se refere às atividades ministradas por profissionais da educação, como professores e pedagogos.

Atividades

As atividades podem variar de acordo com a metodologia, mas de modo geral envolvem ações semelhantes, tais como:

  • Acariciar o cachorro: atividade simples e que pode ser praticada pela maioria dos pacientes, em qualquer faixa etária, sendo calmante para eles;
  • Passeios: é uma atividade importante para estimular funções motoras do paciente, com trabalhar a marcha e motivar a reabilitação;
  • Escovar o pelo do animal: é uma atividade que proporciona maior estímulo dos membros, proporcionando o alongamento e força muscular dos braços do paciente;
  • Brincadeira com arcos e outros objetos: são exercícios que estimulam a criatividade do paciente, proporcionam bem-estar e trabalham aspectos de diferentes áreas;
  • Objetos coloridos: são utilizados para deixar a terapia mais lúdica, promovendo a percepção das cores e formas. Normalmente, são atividades realizadas com as crianças. Alguns objetos que podem ser utilizados são a própria escova para pentear o cão, bolas, arcos, a coleira etc.

No caso da Terapia Assistida, especificamente, a terapeuta Andressa Chodur cita que as atividades podem ser desde jogos e caminhadas a brincadeiras adaptadas, como o “passa petisco”, uma versão canina da brincadeira de passar o anel.

No Amigo Bicho, uma das atividades elaboradas pelo projeto é feita com um colete funcional, onde os pacientes trabalham os movimentos das mãos e dedos. Na atividade, o cão usa um colete e os pacientes interagem com os objetos de velcro que podem ser colados no colete.

No caso da Atividade Assistida por Animais (AAA), as atividades são mais livres ainda. “Nesse modelo incluem as brincadeiras, conversas, jogos para recreação e quebra de Rotina hospitalar” relata a cinoterapeuta.

Folga para os pets

Além de se preocupar com o bem-estar do paciente também é preciso prestar atenção no bem-estar dos cachorros, pois sem eles esse trabalho tão benéfico para tantas pessoas não é possível.

Assim como os pacientes, os cães da cinoterapia também precisam de cuidado e descanso. Por não serem projetos muito comuns esses projetos, os grupos que os realizam, às vezes, precisam atender um número muito grande de hospitais e asilos.

Para que os cães não fiquem cansados, o terapeuta deve realizar uma espécie de rodízio com os cães, fazendo com que os animais “trabalhem em escala”. Assim, eles conseguem descansar.

É importante que a equipe que acompanha esses animais também saibam reconhecer seus limites. Eles também não podem atuar para sempre como co-terapeutas.

Quando completam 10 anos, são “aposentados” dessa função. Isso é feito aos poucos também, pois o animal também sente falta da rotina com os pacientes e pode ficar depressivo se for retirado bruscamente uma vez só da cinoterapia.

Cinoterapia no Brasil

No Brasil, a  cinoterapia pode ser adotada por todos os hospitais. Normalmente, o serviço é realizado por uma equipe multidisciplinar. A maioria dos projetos são de Organizações Não Governamentais (ONGs), que vão até os hospitais, casas de repouso, casas de reabilitações, associações e outros locais que tenham interesse nesse tipo de terapia.

Antes dos hospitais receberem a visita desses coterapeutas, são necessários alguns procedimentos para avaliar a possibilidade deste serviço, como uma avaliação prévia de equipes de comissão de controle de infecção hospitalar.

Esses profissionais precisam verificar se os animais estão aptos, conferindo o laudo de um médico veterinário especialista nesse tipo de análise.

Onde encontrar?

Se você é um paciente em tratamento e tem vontade de participar desse tipo de terapia, converse com a equipe hospitalar para ver se já existe algum projeto assim em andamento.

Algumas associações também oferecem esse tipo de atividade para os participantes, mas na maioria dos casos, são as próprias ONGs que entram em contato com os hospitais ou profissionais da área que vão até essas organizações e buscam esse tipo de terapia complementar.

Nas redes sociais, é possível encontrar vários projetos como estes espalhados pelo Brasil.

Como funcionam os cursos?

Para quem tem vontade de trabalhar como esse tipo de terapia, existem cursos técnicos que ensinam a dinâmica da cinoterapia. Qualquer pessoa que tenha interesse pode realizá-lo.

A cinoterapeuta Andressa Chodur é responsável por ministrar esse tipo de curso. Segundo ela, os cursos ainda são poucos, sendo São Paulo o estado com maior procura e oferta desse tipo de especialização.

Além disso, dependendo da formação acadêmica, o título do curso é diferente. Profissionais da área da saúde humana que realizam o curso podem ser chamados de cinoterapeutas. No caso de pessoas que não apresentam formação na área, são considerados técnicos em cinoterapia.

No caso de médicos veterinários, também são considerados técnicos em cinoterapia, por exemplo.

O curso é rápido, normalmente, tendo duração de alguns dias. Alguns tópicos abordados pela terapeuta incluem:

  • Noções gerais sobre adestramento;
  • Conduta do tutor durante a cinoterapia;
  • Escolha dos cachorros;
  • Bem-estar dos animais;
  • Como identificar sinais de estresse nos cães;
  • Ambiente ideal para cinoterapia;
  • Demonstração prática;
  • Como agir em situações de estresse etc.

Cães de assistência

Além da cinoterapia, os cães também podem exercer a função de cão de assistência. Não são duas atividades ligadas, pois os cães da cinoterapia não são considerados cães de assistência, mas ambos proporcionam benefícios para os pacientes.

Eles são treinados para ajudar pacientes com necessidades especiais, trazendo mais autonomia ao dono, além de ser uma companhia feliz para o dia a dia.

Existem alguns tipos de cães de assistência, ou seja uma espécie de categorias de animais para cada necessidade do paciente.

São cães adestrados e extremamente dóceis e tranquilos. São treinados para estarem sempre ao lado do paciente e possuem acesso a locais públicos que outros animais não são permitidos.

Também são capazes de seguir alguns comandos específicos para ajudar o seu dono/paciente, além dos básicos como “deita”, “senta” e “fica”. Conheça alguns tipos de cães de assistência:

Cães ouvintes

Os cães ouvintes auxiliam as pessoas com deficiência auditiva. Eles são treinados para emitirem sinais que ajudem esses pacientes a perceberem alguns alertas importantes, como o barulho de uma campainha, quando alguém bate na porta, quando o telefone toca, alarmes de incêndio ou um bebê chorando.

Cães-guias

Os cães-guias são os cães de assistência mais conhecidos. Eles foram os primeiros a serem treinados no país e por isso se tornaram mais populares.

São responsáveis por auxiliar as pessoas com deficiência visual, para que evitem acidentes e possam se locomover com maior autonomia.

Por esse papel tão importante, o cão-guia é permitido em locais públicos. Para que ele consiga desempenhar essa função de grande responsabilidade, o cão passa por um rigoroso treinamento, para que possa aprender todas as regras.

Dessa forma, os animais escolhidos para ser cão-guia devem ter algumas características, tais como ser forte, dócil e saudável. As raças mais comuns de cães-guia são o golden retriever, pastor alemão e labrador.

Cães de serviço

Os cães de serviço são um tipo mais específico de cães de assistência. São preparados para atender necessidades mais particulares do paciente. Alguns exemplos são:

Cães de assistência para cadeirantes

Os cães de serviço, nesse caso, aprendem formas de auxiliar os cadeirantes a terem maior mobilidade e autonomia no dia a dia.

Algumas das técnicas ensinadas a estes cães envolvem o aprendizado de acender luzes, buscar objetos, chamar o elevador, abrir portas, abrir gavetas e armários ou até ajudar a pessoa a se despedir. Assim, contribuem para que muitas atividades se tornem mais fáceis para essas pessoas.

Cães de assistência para pessoas com diabetes

Esses cães recebem um tratamento focado na identificação através do olfato para que possam perceber quando o paciente de diabetes tipo 1 tem uma queda de glicose no sangue.

Cães de assistência para pessoas com epilepsia

A epilepsia é um transtorno neurológico comum. Os pacientes nessa condição sofrem com convulsões. O cão de assistência os ajuda pois são ensinados a identificar quando uma crise começa.

A partir disso, o cão sinaliza para os familiares ou pessoas próximas sobre o episódio. Em alguns casos de pacientes com epilepsia que adotaram o cão de assistência, percebeu-se uma redução no número de crises convulsivas.

Cães de assistência para pessoas com autismo

Os cães de assistência são verdadeiros companheiros de pessoas com autismo, principalmente no caso das crianças. Eles são treinados para ajudá-las nas atividades que apresentam dificuldade, assim como também fazem parte da família.

Eles são treinados para ajudarem os pais com as condutas de oposição e fugas da criança. Além disso, também colaboram para regular o sono, pois fazem companhia na hora de dormir.

Estão presentes também para diminuir o isolamento, desenvolver a afetividade e socialização com as outras crianças.

Cães e o hábito da leitura

Uma organização sem fins lucrativos, a Therapy Dog International, de New Jersey, promove, além da cinoterapia, eventos que buscam despertar a vontade de leitura nas crianças.

Os cachorros, normalmente inquietos, ocupam o espaço silencioso das bibliotecas. Com esse programa, as crianças entram em contato com os animais, parceiros pacientes e isentos de julgamentos da leitura ainda iniciante dos pequenos.

Dessa forma, os pequenos associam o hábito da leitura a uma atividade prazerosa, o que os estimulam a ler cada vez mais.

As sessões de leitura promovidas pela ONG são curtas, em uma área tranquila. A criança escolhe um livro que gostaria de ler e se senta ao lado do cachorro e do ajudante para começar.

Assim, além da interação com os animais e todos os benefícios que esse convívio proporciona, a criança adentra ao mundo da leitura e estimula sua imaginação e habilidades.


A cinoterapia não é um tratamento que busca curar algum paciente, mas certamente deixa a vida dos pacientes muito mais leve e feliz.

Quem já teve ou tem algum animal de estimação sabe como essas criaturinhas, com tão pouco, conseguem nos deixar melhor até nos piores dias.

Para quem está em uma situação mais vulnerável, como em um tratamento de uma doença, os dias são ainda mais pesados. A terapia assistida por animais é uma forma mais humanizada de encarar esse momento.

Você já conhecia esse tipo de projeto? Fique à vontade para nos contar nos comentários a sua opinião sobre essa prática e se você já recebeu a visita desses coterapeutas super fofos. Obrigada pela leitura!


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