Ao longo do processo de desenvolvimento de alguns medicamentos, é possível constatar que, além dos benefícios inicialmente almejados, eles também podem beneficiar e complementar tratamentos de outras condições.
Durante anos, a Fluvoxamina foi receitada como um fármaco para tratamento de pacientes diagnosticados com algumas doenças psiquiátricas. Contudo, em meio à pandemia de Covid-19, foi explorado e estudado como um medicamento promissor para evitar quadros graves da doença em determinados grupos e características.
A seguir você confere informações importantes sobre o medicamento, como para que serve, efeitos colaterais e possíveis benefícios de seu uso no tratamento da Covid-19. Confira!
Índice – Neste artigo você vai encontrar:
- O que é e para que serve o maleato de fluvoxamina?
- Como tomar?
- Efeitos colaterais do maleato de fluvoxamina
- Fluvoxamina e Covid-19: qual a relação?
O que é e para que serve o maleato de fluvoxamina?
Maleato de fluvoxamina é o princípio ativo do medicamento Revoc ou Luvox, desenvolvido pela farmacêutica belga Abbott e que também pode ser encontrado em versões genéricas.
O fármaco, que é indicado para tratamento de condições psiquiátricas como TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) e depressão, age inibindo a recaptação seletiva da serotonina nos neurônios. A serotonina é o neurotransmissor responsável pela interação entre as células nervosas e pela regulação do humor, emoções e sono, por exemplo. Quando sua função é comprometida, há maior favorecimento do desenvolvimento de diversas doenças psiquiátricas como as citadas acima.
Dessa forma, os medicamentos voltados para o tratamento de condições psiquiátricas, reestabilizam as conexões químicas neurais e, consequentemente, estabilizam o humor e amenizam ou cessam sintomas característicos do quadro depressivo, ansioso e obsessivo, como tristeza, insônia, inquietação, palpitações, entre outros. Já o fluvoxamina aumenta os níveis de serotonina, inibindo sua recaptação da fenda sináptica (espaço entre cada membrana celular).
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Como tomar?
Vale lembrar que assim como qualquer antidepressivo, o maleato de fluvoxamina só é vendido com apresentação de receita médica, que, após a compra, é retida pela farmácia. Portanto, seu uso deve ser feito com acompanhamento médico psiquiátrico regular.
É possível encontrar o Revoc nas versões de 50 mg com 8 ou 30 comprimidos e 100 mg em embalagem com 30 ou 60 comprimidos. A dosagem e frequência de uso do medicamento variam de acordo com o quadro atual do paciente e os sintomas apresentados.
Os comprimidos podem ser divididos em dois pedaços para facilitar a deglutição e devem ser ingeridos com água. Para quadros de depressão, a dose recomendada pela farmacêutica é a única (1 comprimido de 50 mg ou 1 comprimido de 100 mg ao dia) na parte da noite. Caso haja necessidade de ingerir 150 mg ou mais ao dia, o recomendado é que as doses sejam divididas ao longo do dia conforme a orientação do (a) seu (a) psiquiatra.
Já para pacientes com TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), a versão de 50 mg de 3 a 4 vezes por dia ou mais (dependendo do resultado pretendido ou do quadro atual do paciente) é a tradicionalmente receitada.
O tratamento não deve exceder 300 mg por dia em nenhum dos tratamentos mencionados acima.
Após duas semanas de uso (15 dias), é possível notar alguns progressos na estabilidade de humor e nos sintomas anteriormente apresentados. Contudo, o tratamento deve ser mantido até o (a) paciente receber alta do (a) médico (a) psiquiatra. O processo pode ser longo dependendo do diagnóstico, portanto, é preciso ser paciente e seguir à risca as orientações do (a) profissional.
Caso tenha ficado com alguma dúvida, leia a bula do medicamento e consulte seu (a) médico (a).
Efeitos colaterais e contraindicações do maleato de fluvoxamina
Todo medicamento pode desencadear efeitos colaterais, ou seja, sintomas adversos, quando consumidos. Entre os mais comuns relatados no estudo clínico e por pacientes que fazem uso do Revoc (Luvox) estão:
- Frequência não conhecida: distúrbios endócrinos (hiperprolactinemia e secreção inapropriada do hormônio antidiurético); diminuição dos níveis plasmáticos de sódio; ganho e perda de peso; pensamentos e comportamentos suicidas; distúrbios no sistema nervoso (alteração do paladar e parestesia, por exemplo); glaucoma, midríase; hemorragias; aumento das chances de fraturas; desordens de micção; distúrbios do sistema reprodutivo e mamas (anorgasmia e menorragia, por exemplo); síndrome de descontinuação do medicamento;
- Comum: anorexia; transpiração intensa; distúrbios do sistema nervoso (agitação, nervosismo, entre outros); palpitações; distúrbios gastrintestinais (dor abdominal, diarreia, boca seca, entre outros); fraqueza; indisposição;
- Incomum: distúrbios vasculares (hipotensão); distúrbios cutâneos (edema,coceira e erupção); artralgia; mialgia; ejaculação retardada;
- Rara: alteração do funcionamento do fígado; sensibilidade à luz; produção espontânea de leite; convulsões; mania.
O uso do medicamento também é contraindicado para os seguintes grupos:
- Alérgicos a qualquer componente da fórmula;
- Gestantes;
- Lactantes;
- Menores de 8 anos com diagnóstico de TOC;
- Menores de 18 anos com diagnóstico de depressão;
- Pacientes que façam uso de medicamentos como Tizanidina, inibidores da monoamino-oxidase; linezolida; remeltetona e pimozida.
Fluvoxamina e Covid-19: qual a relação?
Desde 2020, o Maleato de fluvoxamina vem sendo testado em testes in-vitro, em animais e em pacientes com o propósito de atestar sua eficácia em quadros leves de Covid-19 e em pacientes de alto risco, portadores de alguma comorbidade. O medicamento foi inserido em alguns testes ao redor do mundo porque possui conhecida efetividade sobre processos inflamatórios nas células.
O estudo que mais avançou com o medicamento foi o do grupo TOGETHER, que reúne médicos de todo o mundo e que estuda diversas drogas desde o início da pandemia de Covid-19.
Segundo o ensaio publicado pelo grupo no periódico do The Lancet, a substância Maleato de fluvoxamina é capaz de diminuir a resposta exagerada do organismo ao vírus. Os pesquisadores explicam que o medicamento não elimina o Sars-Cov-2, mas ajuda o sistema imunológico a diminuir a chamada “tempestade de citocinas”, ou seja, a reagir da melhor forma à invasão do microorganismo.
Como e onde foi realizado o estudo?
O estudo em questão, submetido recentemente pelos médicos brasileiros, foi realizado em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, e é classificado como duplo cego (nem o paciente nem os médicos responsáveis pela pesquisa sabem quem recebeu o medicamento ou placebo) e randomizado (grupos sorteados aleatoriamente).
Os voluntários da pesquisa eram pessoas com diagnóstico positivo de covid-19 que apresentavam quadros leves, não vacinadas e que possuíam alguma comorbidade, como diabetes e hipertensão. Foram 1497 participantes, sendo que 741 receberam 100 mg de Maleato de fluvoxamina e 756 receberam placebo (pílula sem qualquer efeito para o organismo).
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Resultados obtidos ao fim do ensaio
Durante e após todo o processo, os (as) voluntários (as) foram acompanhados semanalmente, a fim de registrar possíveis efeitos colaterais ou complicações pelo uso do medicamento.
Enquanto apenas 79 dos 741 voluntários que receberam o Maleato de fluvoxamina desenvolveram sintomas graves e precisaram ficar mais de 6 horas em observação, 119 voluntários dos 756 que receberam placebo tiveram algum tipo de complicação causada pela doença.
Ou seja, os profissionais responsáveis pelo ensaio afirmam que a taxa de hospitalização entre os voluntários que receberam o medicamento no estudo é menor do que a no grupo dos voluntários que receberam placebo, com diminuição de risco de internamento de 32%.
Além disso, no grupo dos pacientes que ingeriram pelo menos 80% da dosagem recomendada pelos pesquisadores, houve apenas uma morte. Já no grupo que recebeu placebo, foram contabilizados 12 óbitos ocasionados pela doença.
Visão de outros especialistas
Contudo, alguns cientistas e médicos questionam determinados pontos da pesquisa. Para alguns, o motivo da escolha do medicamento, para quais grupos deve ser administrado ou não, como ela funciona diante das novas variantes e em pessoas já vacinadas são pontos que precisam ser melhor esclarecidos. Além disso, outros chamam a atenção sobre o entendimento de como o Maleato de fluvoxamina reduz a progressão da doença e mortes.
Na visão dos pesquisadores que conduziram o ensaio, o princípio ativo se mostrou promissor nos voluntários. Contudo, é preciso dar continuidade às análises e obter respostas para algumas questões ainda não muito bem esclarecidas.
Por se tratar de um medicamento desenvolvido para tratamento de doenças psiquiátricas, não se recomenda o uso do fármaco para tratamento de pacientes que testaram ou não para Covid-19, pois seus riscos ainda não foram amplamente avaliados pelos pesquisadores.
Portanto, mesmo após a finalização das pesquisas, não é recomendado o uso do Maleato de fluvoxamina para tratamento de Covid-19, pois o estudo ainda não estará finalizado. O processo de liberação do fármaco para outras finalidades deve ser avaliado e aprovado pela farmacêutica e, em seguida, pelas agências reguladoras de cada país.
Medicamentos controlados, como é o caso do Luvox, podem provocar diversos efeitos colaterais. Além disso, a automedicação pode causar intoxicação, interação medicamentosa e desencadear uma série de complicações de saúde.
Para mais informações sobre medicamentos e suas indicações, acesse a categoria Remédios do Minuto Saudável .
Fontes consultadas:
- Fluvoxamina pode reduzir em até 32% as internações prolongadas por Covid, aponta estudo na ‘The Lancet — G1;
- Bula Revoc paciente — Abbott;
- Antidepressivos — Associação de Apoio aos doentes depressivos e bipolares;
- Effect of early treatment with fluvoxamine on risk of emergency care and hospitalisation among patients with COVID-19: the TOGETHER randomised, platform clinical trial — The Lancet;
- Um estudo preliminar sobre o uso de fluvoxamina em quadros de Covid-19 — Pebmed.