Apesar de ser uma certeza a todos os seres vivos, culturalmente, não temos o costume de falar sobre a morte. Isso faz com que, geralmente, quando alguma pessoa próxima morre, a dor seja um misto de sofrimento e desconhecimento. Por isso, cada vez mais profissionais da psicologia têm insistido na importância de inserir a temática de modo natural e abordar as fases do luto como parte do processo.

Isso não quer dizer que o sofrimento não vai ocorrer, mas significa que as pessoas vão estar mais capacitadas a compreender e lidar com as emoções ao se depararem com a perda de algo ou de alguém.

Além disso, vale ressaltar que o luto acontece sempre que há o encerramento de algum ciclo significante para a pessoa, seja a morte de alguma pessoa ou animal, uma demissão, o fim de um relacionamento amoroso, etc. Ou seja, se todos vamos passar por isso diversas vezes ao longo da vida, vale a pena entender o processo.

O que é o luto?

De maneira resumida, o luto é um conjunto de reações negativas a partir da perda de algo ou alguém. Geralmente, esse processo é descrito como uma tristeza profunda diante de uma perda significativa, mas pode se manifestar de outras formas para além da tristeza.

O luto é mais conhecido e discutido no contexto da morte, sendo frequentemente colocado como o pior tipo. Contudo, não existem diferenças teóricas entre o luto da morte e o luto da separação de um casal, por exemplo.

De acordo com o psicanalista britânico Bowlby, esse sofrimento é proporcional ao apego a um objeto perdido. Sendo assim, até mesmo perder um emprego pode desencadear um processo de luto.

Vale lembrar que esse é um processo normal pelo qual todas as pessoas passam, mas que pode tomar proporções maiores, sendo denominado “luto complicado”. Nesses casos, os sintomas depressivos são tão intensos que a pessoa pode sofrer com ideação suicida.

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Quanto tempo pode durar o luto?

Muitas pessoas acham que essa fase acaba quando não se sente mais a dor da perda, mas isso não é verdade. Ela pode ser vista como um processo de aceitação da perda e por isso tem tempo limitado, mas a dor da perda pode durar a vida inteira.

É importante ressaltar que, ainda que a pessoa apresente sintomas depressivos durante o luto, nem sempre isso indica o surgimento de uma doença mental. Mas deve-se acompanhar a evolução desses sintomas pois, embora eles não indiquem um quadro depressivo, podem acabar desencadeando um, por exemplo.

Geralmente, os sintomas depressivos do luto se resolvem sozinhos à medida que o tempo passa. Entretanto, nos casos em que a pessoa desenvolve um episódio depressivo, é necessário tratamento adequado para o transtorno.

Quais são as fases do luto?

Diversos teóricos fizeram análises do processo de luto, mas o modelo mais conhecido é o das cinco fases de Elisabeth Kübler-Ross: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação.

Essas fases não são necessariamente consecutivas, podendo ocorrer em ordens diferentes, chegando a coexistência de mais de uma fase ao mesmo tempo. A seguir, explicamos melhor cada uma delas:

1ª fase do luto: Negação

Nesse primeiro estágio, o indivíduo nega a perda. Ele acha que é algum engano, uma “pegadinha”, acredita que isso não pode estar acontecendo e que a perda não é real.

Em geral, ocorre logo após a notícia ou percepção da perda, sendo um mecanismo de defesa que serve para amenizar a dor naquele momento e preparar a pessoa para a dor emocional que ainda está por vir.

Essa fase pode durar de alguns minutos até, em casos graves, meses ou anos. Quando dura tanto tempo, pode-se pensar na possibilidade de um luto complicado, que deve ser identificado e tratado por um profissional da saúde mental.

2ª fase do luto: Raiva

Em um segundo momento, há um sentimento de grande revolta. Trata-se do estágio da raiva. Nessa fase, o indivíduo pode tornar-se agressivo e tenta culpar algo ou alguém pelo que está ocorrendo.

É frequente que a pessoa culpe médicos (as) que cuidaram do seu ente querido pela sua morte ou sinta raiva da pessoa que deu as más notícias, por exemplo.

Nessa fase, também são comuns questionamentos como “por que isso está acontecendo comigo?”. Embora não haja respostas reais para esses questionamentos, eles ajudam a pessoa a lidar com o sofrimento da perda.

3ª fase do luto: Negociação ou barganha

O terceiro estágio do luto é a barganha, no qual a pessoa tenta negociar com figuras divinas ou com outras pessoas a fim de evitar a perda, mesmo que ela já tenha ocorrido.

É nesse momento que a pessoa promete ser uma pessoa melhor, por exemplo, em troca de um milagre para reviver um ente querido. No caso de términos de relacionamentos, pode-se pensar também nas promessas de ser um melhor companheiro, tentando adiar o fim daquela relação.

4ª fase: Depressão

É neste momento que a depressão se instala, dando início ao quarto estágio do luto. A pessoa sente uma tristeza tão intensa que passa a se isolar, pensa sobre a vida, sente a dor de não ter mais aquela pessoa/objeto, chora com frequência, entre outros.

Apesar de ser uma das partes mais sérias do processo de luto, essa fase permite que a pessoa comece a elaborar seus sentimentos em relação à perda. Antes disso, até mesmo na fase da barganha, a pessoa ainda sofre com algum tipo de negação, recusando o fim.

Aqui, a pessoa entra em contato com seus verdadeiros sentimentos e começa a trilhar o caminho para a aceitação.

5ª fase do luto: Aceitação

A última fase do luto não indica o fim do sofrimento, mas sim uma melhor capacidade de elaborar e expressar essa dor. A pessoa aceita a perda como um fato consumado, não mais questionando, tentando negociar ou culpar alguém.

Em geral, quando se chega nesse estágio, considera-se que o luto está sendo superado. A verdade é que a dor da perda não vai embora por completo, mas nessa fase já é possível seguir em frente, dando um fim ao processo de luto.

Como ajudar uma pessoa em luto?

Ao ver uma pessoa que amamos sofrendo, é normal querer intervir a fim de eliminar ou, ao menos, suavizar essa dor. Aqui vão algumas dicas de como ajudar alguém que está passando pelo processo de luto:

Escute a pessoa

Quando uma pessoa está em luto, é comum que ela queira desabafar, falar sobre sua perda e sua dor, a ponto de repetir constantemente histórias relacionadas à pessoa ou ao objeto perdido.

Infelizmente, a tristeza não é bem vista na nossa sociedade e, portanto, fazemos de tudo para evitar falar sobre isso. No entanto, deixar a pessoa falar sobre seus sentimentos, por mais negativos que sejam, é a chave para a elaboração desse sofrimento.

Tentar deixar a pessoa enlutada feliz acaba atrapalhando mais do que ajudando, pois impede que ela expresse seus verdadeiros sentimentos. Por isso, escutar o que ela tem a dizer é uma das melhores maneiras de ajudar, por mais pesado ou repetitivo que seja.

Evite clichês

Todo mundo já ouviu alguma frase clichê como “você vai dar a volta por cima”, mas a realidade é que esse tipo de discurso não ajuda. Pelo contrário, ele pode até mesmo piorar a situação, invalidando os sentimentos da pessoa enlutada.

Quem está em luto frequentemente não sente que tem forças para seguir em frente, portanto, colocar o bem-estar em termos de superação futura não ajuda. A pessoa nem mesmo sente que vai conseguir chegar lá algum dia.

Dê preferência aos sentimentos reais e atuais

Ao invés de usar frases clichês sobre como a pessoa irá ficar bem no futuro, tente perguntar como ela está se sentindo no momento. Deixe-a falar sobre como foi o dia ou a semana, permita que expresse sua dor, mesmo que isso signifique a presença de lágrimas.

Se não souber o que falar, é melhor dizer “sinto muito pelo que está passando” ou “imagino como você se sente” do que dizer “vai ficar tudo bem”, pois são frases acolhedoras que validam o sofrimento da pessoa, mostrando-a que está tudo bem sentir-se assim.

Ajude na busca por auxílio profissional

Por mais que o luto não seja um transtorno mental em si, o auxílio de um profissional da saúde mental, como um psicólogo (a), pode ajudar muito na elaboração da perda.

Nem sempre os amigos e familiares estão disponíveis para conversar, ouvir e acolher os sentimentos da pessoa enlutada. Além disso, depois de um tempo, os desabafos podem acabar pesando em quem ouve.

Isso não significa que não haja empatia, mas sim de que todo mundo tem um limite de apoio emocional que pode oferecer. Quando esse limite é atingido, é importante que a pessoa tenha tempo para recuperar-se. Ou seja, amigos(as) e familiares podem não conseguir dar conta de ouvir a pessoa que está passando pelo luto por algum tempo.

Nesses casos, um (a) psicólogo (a) ou terapeuta ajuda muito, pois permite que a pessoa expresse seus sentimentos e fique à vontade para falar em um ambiente seguro e acolhedor. Dessa forma, as pessoas ao redor também podem descansar e se fortalecer emocionalmente para oferecer mais apoio em um outro momento.


O luto é um processo necessário para que as pessoas possam lidar adequadamente com seus sentimentos e emoções após uma perda significativa. Vivenciar adequadamente esse período é importante para que o bem-estar e a saúde mental sejam preservados.

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