A atelectasia é caracterizada por um colapso pulmonar com consequente perda de volume e capacidade expansiva, causado pelo esvaziamento dos alvéolos.
Frequentemente causada por obstruções nas passagens aéreas, a atelectasia é caracterizada por um pulmão murcho e pouco expansivo, com menos capacidade de armazenar ar.
Esse colapso pode se dar de maneira unipolar, ou seja, atingindo apenas um pulmão, e pode atingir tanto o pulmão inteiro quanto apenas um lobo. Mas não se preocupe, isso não quer dizer que há maus tratos aos animais: o tal do lobo é uma palavra com significado de “pedaço”, que é pronunciada como “lóbo”.
É mais comum em crianças por conta de seus pulmões pequenos que podem ser obstruídos com maior facilidade ou como uma complicação pós-operatória pelo uso da anestesia geral.
No CID-10 (Código Internacional de Doenças, décima edição), a atelectasia é encontrada pelo código J98.1.
Sabemos que o pulmão é o responsável pela nossa respiração, expandindo-se quando o enchemos de ar e contraindo-se quando o exalamos. É justamente esse movimento que permite a inspiração e a expiração, colocando para dentro o ar cheio de oxigênio e mandando embora o gás carbônico. Mas o processo não é tão simples quanto se pensa...
Pra começo de conversa, temos que deixar claro que o pulmão é um órgão par. O que isso quer dizer? Significa que, apesar de nos referirmos à ele no singular, nós temos dois pulmões: um esquerdo e um direito. E eles não são iguais.
De fato, o pulmão direito é dividido em três lobos: “pedaços” de pulmão separados por fissuras sem que sejam completamente desconectados. Já o pulmão esquerdo é menor e possui apenas dois lobos, justamente para dar o encaixe perfeito com o coração.
Esses lobos são o “revestimento” da chamada árvore brônquica, composta por brônquios principais (ligados à traquéia), secundários, bronquíolos e, por fim, os alvéolos ou sacos alveolares. É nesta última estrutura que ocorrem as trocas gasosas, responsáveis pelo abastecimento de oxigênio para o corpo inteiro.
Para que a troca gasosa possa ocorrer da maneira correta, os alvéolos devem se manter abertos. Caso contrário, a resistência dos tecidos impediria que o ar entrasse nesses saquinhos, inviabilizando essa troca. É aí que a atelectasia acontece: com o fechamento dos sacos alveolares.
Existem vários motivos para que isso aconteça. Alguns deles são os seguintes:
A tendência natural dos alvéolos — assim como de diversos órgãos — é a de se fechar, colando uma parede na outra. Para contornar a situação, o corpo produz uma substância tensoativa que mantém as paredes afastadas chamada surfactante pulmonar.
Quando há algum problema nessa substância, após a troca gasosa, os sacos alveolares se esvaziam e fecham, impedindo a entrada de ar novo. Assim, o pulmão vai colapsando e perdendo sua capacidade expansiva, visto que os alvéolos não mais se enchem de ar.
Uma obstrução (“entupimento”) das vias aéreas pode ser o motivo pelo qual os alvéolos não recebem mais ar e se fecham. Causas para obstruções são:
Uma outra maneira de impedir o ar de entrar nos alvéolos é a pressão externa sofrida pelos pulmões. Algumas condições capazes de causar tal problema são:
Alguns tipos de pneumonia são capazes de causar atelectasia temporária.
A anestesia geral, muito utilizada em procedimentos cirúrgicos, altera diversas funções que, juntas, podem causar a atelectasia. Por conta das alterações nos padrões de respiração, absorção de gases e pressão, a condição é bem comum em pacientes durante cirurgias.
De fato, cerca de 90% das pessoas que passam por cirurgias têm uma atelectasia temporária, que pode ou não voltar ao normal após o final da operação.
Vale lembrar que a atelectasia causada por anestesia geralmente dura mais tempo em cirurgias que mexem diretamente no tórax ou no abdome, mas essa duração prolongada pode ocorrer em outros tipos de cirurgias também. Isso acontece, muito provavelmente, pela dor e dificuldade em respirar profundamente após esses procedimentos.
Existem, ainda, algumas condições médicas que podem causar o colapso pulmonar. Dentre elas, muitas são de causas neurológicas, nas quais há um impossibilidade da movimentação de músculos na região, impedindo a movimentação do pulmão.
Deformidades torácicas e imobilidade também entram nessa lista.
Não existe, ainda, um consenso no que tange os tipos de colapso pulmonar. No entanto, alguns nomes frequentemente falados são:
Trata-se de um dos tipos mais comuns de atelectasia, no qual uma obstrução das vias aéreas impede a passagem do ar entre a traquéia e os alvéolos.
É também conhecida como atelectasia de reabsorção, por conta do ar que é “puxado” (absorvido) para o sangue, enquanto não há ar novo entrando nos sacos alveolares.
Esse tipo de atelectasia ocorre quando há compressão do pulmão, muitas vezes por conta de problemas na pleura, lesões no tórax e tumores, que “empurram” o pulmão e fazem com que o ar saia dos alvéolos.
Resulta de algum tipo de restrição em relação à capacidade respiratória, como dores para respirar fundo, deformidades na caixa torácica e na coluna vertebral, entre outras. Essas condições impedem a expansão do pulmão, fazendo com que ele não se encha de ar o suficiente para manter os alvéolos abertos.
A atelectasia cicatricial é o produto de uma lesão pulmonar que resulta em uma cicatriz no órgão, que impede sua expansão total.
Esse tipo de colapso é causado por problemas no surfactante pulmonar, que tem problemas em deixar os alvéolos abertos.
O pulmão direito possui 3 lobos, sendo o único que possui um “lobo médio”. Esse lobo é circundado por tecido linfático, que tende a aumentar quando há infecções, tanto virais quanto bacterianas. Quando isso acontece, esse tecido comprime o lobo médio, levando à uma atelectasia crônica total ou parcial desse lobo.
Certas condições podem aumentar as chances de desenvolver a atelectasia. São elas:
Crianças menores de 3 anos e idosos são os mais acometidos.
Não raramente, a obesidade limita a expansão da caixa torácica. Além disso, o sobrepeso pode causar pressão sobre o pulmão.
Com os organismos ainda menores que os bebês nascidos na data esperada, é fácil acontecer o acúmulo de secreções nos pulmões de bebês prematuros.
Pessoas com dificuldades para engolir têm mais chances de aspirar a comida, que vai parar nos pulmões.
Asma, DPOC, bronquiectasia e fibrose cística são apenas alguns exemplos de doenças que podem impedir a respiração correta e promover o acúmulo de secreções nas vias aéreas.
A falta de movimentação e mudanças de posição infrequentes podem acabar pressionando os pulmões.
As dores resultantes desses procedimentos podem impedir que o paciente respire fundo.
Por conta das alterações na respiração que a anestesia causa, pode haver uma atelectasia temporária, especialmente se o paciente não conseguir voltar a respirar profundamente pouco tempo depois.
Fumantes têm mais chances de sofrer de diversos problemas pulmonares.
Quando o músculo da respiração (diafragma) está enfraquecido, a respiração se torna muito mais difícil, podendo causar o esvaziamento do alvéolos e, consequentemente, a atelectasia.
Condições que podem levar à distrofia diafragmática são distrofias musculares, lesões na medula espinhal e problemas neuromusculares.
Diversas condições podem causar uma respiração ofegante e superficial, como medicamentos, limitações mecânicas, dores, entre outras. Ao levar pouco ar aos pulmões em respirações curtas, os alvéolos podem sofrer um processo de esvaziamento.
Infelizmente, pessoas que sofrem com atelectasia podem nem ter noção disso, visto que, na maioria das vezes, ela é assintomática. Vez ou outra, algumas pessoas sentem falta de ar, mas isso vai depender da severidade do caso: quanto maior a atelectasia, menos ar a pessoa consegue reter.
Quando envolve apenas um pequeno número de alvéolos, a condição pode nem ser notada, especialmente se a progressão é lenta. No entanto, quando a progressão se dá rapidamente e grande parte do pulmão é afetado, a falta de ar pode ser bem evidente.
Especialmente quando se trata de obstruções, pode haver tosse, um reflexo natural para tentar expulsar das vias aéreas aquilo que está atrapalhando o fluxo.
Por conta da falta de oxigênio na corrente sanguínea em casos mais graves, o coração pode bater mais forte para tentar bombear mais sangue e compensar o desequilíbrio, e o indivíduo pode apresentar coloração azulada (cianose), principalmente nas extremidades.
Às vezes, alguns sintomas podem se referir à condição que causou a atelectasia — como dores no peito por conta de uma lesão — ou a alguma complicação da própria condição, como dores ao respirar no caso de pneumonia adquirida pelo colapso.
Quando há suspeita de colapso pulmonar, o médico — preferencialmente um pneumologista — deverá pedir exames de imagem para verificar o estado do pulmão. Alguns exames que podem ser pedidos são:
O raio-X do tórax utiliza elementos radioativos para criar imagens de dentro do corpo. Na imagem, a parte colapsada do pulmão aparece nitidamente, enquanto o pulmão saudável não aparece — há apenas uma cavidade escura onde ele deveria estar, pois está cheio de ar.
Frequentemente, esse exame também consegue detectar possíveis objetos estranhos que podem ser a causa da atelectasia.
A TC é um exame de imagem mais preciso que a radiografia convencional, sendo capaz de detectar o volume dos pulmões. Ela também auxilia a detectar se, por acaso, a causa da atelectasia é um tumor, o que não aparece normalmente no raio-X comum.
Este teste, realizado por meio de um pequeno aparelho que é colocado em um dos dedos, é capaz de medir a saturação de oxigênio no sangue. Caso haja pouco oxigênio circulando, eis uma grande pista de que pode se tratar de um colapso pulmonar.
Por meio de um tubo fino e flexível com uma câmera na ponta, a broncoscopia mostra imagens nítidas da garganta e de parte da árvore brônquica, sendo capaz de detectar obstruções nessas áreas.
Muitas vezes, esse aparelho — denominado broncoscópio — é equipado, também, com ferramentos para realizar biópsias e remoção dessas obstruções.
Sim, a atelectasia tem cura. De fato, com o tratamento correto, a capacidade expansiva do pulmão pode ser recuperada. No entanto, dependendo da causa, algumas sequelas podem continuar presentes.
No caso de lesões pulmonares, por exemplo, cicatrizes no órgão certamente irão atrapalhar o processo e, talvez, o paciente nunca mais conseguirá respirar normalmente.
Para tratar a atelectasia, é preciso ter definido sua causa antes. Isso porque, dependendo do que levou o pulmão a colapsar, a abordagem pode ser completamente diferente.
Quando uma porção pequena do pulmão é colapsada, há uma tendência de que o problema se resolva sozinho, sem necessidade de interferências. No entanto, quando o problema é mais embaixo, algumas opções são:
A fim de melhorar a falta de ar em casos de colapsos muito grandes, o médico pode recomendar uma suplementação de oxigênio. Esse tipo de terapia pode ser feito por meio de equipamentos como aparelhos de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAPs) ou pressão positiva contínua nas vias aéreas a dois níveis (BiPAPs):
Trata-se de um equipamento de alta tecnologia que comprime o ar e, por meio de uma máscara que encobre o nariz e a boca do paciente, libera um fluxo de ar contínuo nas vias aéreas. Esse fluxo ininterrupto seria capaz de expandir os alvéolos, sem deixá-los colapsar novamente.
Funciona da mesma maneira que o CPAP, apenas com duas pressões diferentes: uma para a hora da inalação e outra, mais branda, para não atrapalhar na hora de expirar o ar.
Esses dois aparelhos devem ser utilizados e ter sua pressão regulada com o auxílio do médico, pois a má utilização dos mesmos pode ser prejudicial.
Em alguns casos, certos procedimentos cirúrgicos podem ser necessários. É o caso, por exemplo, de retirada de tumores e objetos estranhos que podem estar obstruindo as vias aéreas.
Quando há muco em excesso, pode ser feita uma aspiração dos pulmões, a fim de remover as secreções que impedem a respiração. Em muitos casos, a retirada de pequenos tumores e objetos estranhos pode ser feita por meio da broncoscopia.
Outros tratamentos podem ser aplicados dependendo da causa. Se há um tumor, tratamento oncológico pode ser necessário. Em caso de infecções, pode-se receitar antibióticos. Causas neurológicas devem ser tratadas como um todo, sendo a atelectasia apenas um dos alvos de um programa de tratamento mais complexo.
A fisioterapia pulmonar foca em diversas técnicas que podem auxiliar a restaurar a respiração profunda, especialmente em pós-operatórios, quando há maior necessidade dessa atividade.
Algumas técnicas a serem usadas são:
Quando a atelectasia é causada por acúmulo de muco nas vias aéreas, o médico pode receitar o uso de mucolíticos: medicamentos que facilitam a expectoração dessas secreções.
Alguns exemplos são:
Atenção!
NUNCA se automedique ou interrompa o uso de um medicamento sem antes consultar um médico. Somente ele poderá dizer qual medicamento, dosagem e duração do tratamento é o mais indicado para o seu caso em específico. As informações contidas neste site têm apenas a intenção de informar, não pretendendo, de forma alguma, substituir as orientações de um especialista ou servir como recomendação para qualquer tipo de tratamento. Siga sempre as instruções da bula e, se os sintomas persistirem, procure orientação médica ou farmacêutica.
Por acometer um órgão extremamente importante para a vida — o pulmão —, as complicações da atelectasia podem ser devastadoras. Algumas delas são:
Por conta do fechamento dos alvéolos, o sangue não consegue ser oxigenado novamente e, por isso, há uma baixa de oxigênio no sangue, condição conhecida como hipoxemia.
Embora não seja fatal em si, a hipoxemia restringe os níveis de oxigênio nos tecidos que, por sua vez, sofrem lesões. Um dos sinais mais claros de que falta oxigênio no sangue é a cianose, na qual a pele passa a apresentar uma coloração azulada.
Especialmente nos casos em que a atelectasia dura muito tempo, a impossibilidade de movimentação do muco aumenta as chances de infecções, em especial a pneumonia. Vale lembrar que certos tipos de pneumonia podem, também, levar a um colapso pulmonar temporário.
Quando o colapso é muito grande e envolve um lobo ou um pulmão inteiro, há grandes chances de causar uma falência respiratória, especialmente em pessoas com doenças pulmonares. Em crianças, que têm pulmões pequenos, o risco é maior ainda.
Vale lembrar que essa condição pode ser fatal e necessita tratamento urgente.
Nem sempre é possível prevenir a atelectasia, especialmente quando ela é causada por outras doenças e lesões torácicas. Já em caso de obstrução e procedimentos cirúrgicos, existem algumas dicas para evitar o problema. São elas:
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Rafaela Sarturi Sitiniki
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