“Gaso” se refere à gás e “metria” à medida. Assim, de modo objetivo, a gasometria realiza a medição de gases no sangue.
De maneira geral, o teste é indicado em casos bastante específicos, como pacientes em estado grave, na UTI ou internados com suspeita de infecções graves, como a renal. Nos casos em que tratamentos à base de oxigênio estão sendo realizados, o exame também auxilia a verificar a evolução do quadro e a eficiência terapêutica.
Por se tratar de um exame indicado majoritariamente em casos graves, sua solicitação não é frequente fora do ambiente hospitalar.
Utilizado sobretudo para avaliar as condições pulmonares, o exame permite avaliar se o oxigênio fornecido aos tecidos e a coleta do gás carbônico estão em níveis ideais. São aferidos principalmente os níveis de pH (acidez), CO2 (dióxido de carbono), saturação de O2 (oxigênio) e a normalidade na oxigenação. Os resultados indicam o correto funcionamento da ventilação e do equilíbrio ácido-base no sangue.
A gasometria arterial coleta uma amostra sanguínea da artéria, pois o sangue venoso é pobre em O2 e se torna ineficiente para realizar a dosagem. A artéria mais recorrente é a radial (no pulso), no entanto a femoral (na virilha) e a braquial (no braço) podem ser utilizadas.
O procedimento é rápido, durando menos de 1 minuto, e permite o diagnóstico e monitoração de doenças pulmonares, metabólicas e renais.
O sistema circulatório, também chamado de sistema cardiovascular, é composto pelo coração, sangue, artérias, veias e capilares.
O sangue é classificado como um tecido conjuntivo de consistência líquida. Sua composição inclui diversos grupos celulares e suas principal função é transportar nutrientes e oxigênio, que são essenciais para manter as funções do organismo.
Aproximadamente 45% do sangue é composto por glóbulos vermelhos (hemácias), glóbulos brancos (leucócitos) e plaquetas. O restante é formado pelo plasma, que é a parte líquida do tecido.
O plasma possui coloração levemente amarelada, sendo constituído na maior parte por água (90%) e o restante por sais minerais e proteínas. É nele que os glóbulos brancos e vermelhos ficam suspensos e podem ser transportados.
As plaquetas, no entanto, não são células, mas sim fragmentos celulares, chamadas também de trombócitos. Elas atuam no controle de sangramentos, pois realizam a coagulação sanguínea.
As hemácias, ou glóbulos vermelhos, são as células mais presentes no corpo humano. Os homens possuem, em média, 4,5 milhões por mm³ e as mulheres possuem, em média, 5,5 por mm³. A produção ocorre na medula óssea e, em seu interior, está presente a hemoglobina, que é a proteína capaz de transportar o oxigênio.
Os leucócitos, conhecidos como glóbulos brancos, também são produzidos na medula óssea. A principal função é a defesa do organismo, compondo o sistema imunológico.
A estrutura dos leucócitos é maior do que a das hemácias, no entanto, a quantidade no organismo é bem menor. Quando o organismo é atacado por bactérias, vírus, substâncias tóxicas ou agentes estranhos, o volume de leucócitos aumenta significativamente para proteger o organismo.
As artérias conduzem sangue oxigenado e nutrientes aos tecidos do organismo. O transporte possui alta pressão, pois é preciso que o líquido percorra todo o corpo, chegando às células.
O sistema circulatório possui artérias pulmonares (conduzem sangue aos pulmões), sistêmicas (conduzem sangue para os capilares e vasos sanguíneos), aorta (sai do ventrículo esquerdo e se ramifica nas outras artérias) e arteríolas (conduzem sangue aos capilares).
Há 3 formas que o organismo regula o hidrogênio e mantém o equilíbrio ácido-base:
O sistema tampão, que ocorre de modo natural e automático no organismo para evitar alterações bruscas do pH. A ação se dá através de liberações químicas que combinam elementos e evitam acidez ou alcalinidade (mudanças de pH sanguíneo).
A função pulmonar ocorre com a liberação de dióxido de carbono através da exalação, em que o sangue transporta o gás CO2 até os pulmões para então ser liberado.
E, por último, a função renal, em que os rins atuam como filtros do sangue e realizam a excreção dos excessos de ácidos e bases. O processo regulatório é mais lento que os demais, por isso a retomada do equilíbrio sanguíneo pelo sistema renal pode demorar dias.
O pH, ou potencial Hidrogeniônico, indica o equilíbrio ácido-base sanguíneo.
Quanto mais ácido o sangue estiver, menor será o valor do pH, indicando deficiência nos níveis de oxigênio. Quanto mais alcalino (ou básico), maior é concentração de oxigênio e, consequentemente, maior o valor do pH.
Nas medidas gerais, um pH pode variar entre 0 e 14, em que 7 é considerado como valor neutro. Abaixo disso, tem-se uma substância ácida e acima de 7 tem-se tem uma alcalina.
O pH sanguíneo deve ficar entre 7,35 e 7,45. Quando há alterações ácidas ou alcalinas, indicam-se distúrbios, patologias ou anomalias do organismo.
A alimentação, estresse emocional e reações imunológicas são alguns fatores que podem interferir nos valores.
A alcalose (pH alto) nem sempre apresenta sintomas. Geralmente as queixas são advindas da doença que está causando a alteração de pH. Mas a alteração pode ocasionar:
Os sintomas da acidose (pH baixo) são mais perceptíveis e podem provocar:
O oxigênio pode chegar às células de duas maneiras: dissolvido no plasma ou combinado à hemoglobina, através das hemácias.
A combinação ocorre de modo reversível (não permanente), formando a oxiemoglobina. Ao se combinar com a molécula de O2, o sangue passa a ser oxigenado e denominado sangue arterial.
Quando o sangue rico em oxigênio chega aos capilares sanguíneos (pequenos vasos), as moléculas de O2 (oxigênio) se desprendem da hemoglobina e se difundem para as células dos órgãos e tecidos.
O transporte de CO2 (gás carbônico) é mais complexo do que o de oxigênio. Uma parte pequena se dissolve no plasma (cerca de 8%), outra se liga à hemoglobina (cerca de 11%), enquanto o restante é transportado na forma de íons bicarbonato que se dissolvem no plasma.
O sangue venoso (rico em CO2) é encaminhado aos pulmões e, ao chegar aos órgãos, o gás carbônico é eliminado pelos alvéolos pulmonares.
Em síntese, do ventrículo esquerdo sai o sangue arterial (oxigenado) para os tecidos do corpo, distribuindo o O2 e absorvendo o CO2.
O sangue venoso (desoxigenado) chega ao átrio direito do coração através das veias cavas, sendo encaminhado do ventrículo direito para os pulmões, onde sofre o processo de oxigenação e retorna para o átrio esquerdo.
A gasometria arterial permite constatar e acompanhar as alterações metabólicas e respiratórias, avaliando com precisão as taxas de oxigênio e dióxido de carbono presentes no sangue, identificando problemas ou mau funcionamento orgânico.
Quando há sintomas como náuseas, dificuldade respiratória e confusão mental, que podem ser indicativos de concentrações inadequadas de gases no sangue, o exame pode indicar a presença de doenças pulmonares, renais, metabólicas ou, ainda, lesões que afetam o trato respiratório.
Outros casos em que o exame é requerido podem envolver:
Além do diagnóstico, a gasometria arterial é realizada para verificar a resposta e evolução do organismo ao tratamento. Por isso, em pacientes hospitalizados, o exame pode ser solicitado mais de uma vez.
O exame consiste na retirada de sangue (punção) realizada numa artéria, preferencialmente na radial.
A região de coleta precisa ter fluxo sanguíneo preservado (verificado pelo teste de Allen) e não apresentar lesões ou machucados no tecido, pois eles podem alterar os resultados devido à concentração de glóbulos brancos.
Os locais para realizar a punção são:
A seringa deve conter uma pequena quantidade de heparina (substância anticoagulante), cerca 0,1 ml, para reagir com a amostra de sangue e a coleta segue o procedimento comum, com o paciente sentado (salvo hospitalizados que necessitam permanecer deitados).
Identificando a artéria, a agulha incide na pele num ângulo de 30º (podendo variar a angulação nas punções braquial e femoral), e realiza a aspiração de aproximadamente 2,0 mL de sangue.
Após a retirada da agulha, o local de punção é pressionado para estancar o sangramento.
Bolhas de ar podem se apresentar na amostra e alterar os resultados, por isso é necessário que o enfermeiro faça a retirada delas e movimente o tubo de sangue, homogeneizando o sangue.
Em alguns casos, anestésicos são ministrados para diminuir a dor e o desconforto recorrentes nas coletas arteriais. Nessa situação, antes da punção uma anestesia livre de adrenalina é aplicada via subcutânea (uma pequena seringa deposita a substância logo abaixo da pele), diminuindo a ansiedade e hiperventilação (respiração acelerada), que podem alterar os resultados do exame.
Antes de iniciar a coleta, é preciso realizar o teste de Allen, um procedimento que assegura o devido fluxo de sangue na artéria. O processo é rápido e verifica as condições para realizar a punção.
Deve-se comprimir a passagem de sangue arterial pressionando o pulso na região ulnar e radial (região próxima ao pulso). O paciente deve abrir e fechar a mão aproximadamente 5 vezes ou mantê-la fechada com força até empalidecer a pele. Então se libera o fluxo sanguíneo e se verifica o retorno da coloração (perfusão) em poucos segundos.
Se o retorno for rápido, o teste é positivo e a artéria está apta para ser puncionada. Nos casos em que há demora no retorno sanguíneo, o teste indica fluxo colateral não preservado e a punção deve ser realizada em outra artéria.
A gasometria arterial deve ser feita quando há suspeitas de doenças metabólicas, pulmonares ou renais que alteram o equilíbrio ácido-base ou acarretam em problemas respiratórios, além de ser utilizada para acompanhar o quadro de evolução patológico.
Pacientes hospitalizados com uso de oxigenoterapia (utilização de oxigênio como tratamento) realizam o exame a fim de verificar a funcionalidade e progresso da terapia. A avaliação também é recorrida para verificar as condições pulmonares e renais em hospitalizados que vão realizar uma cirurgia, sobretudo em casos cirúrgicos cardiopulmonar ou encefálicos.
O exame pode ser solicitado também após acidentes com a presença de traumatismos craniano ou do pescoço, logo que a condição traumática pode afetar a respiração. Já em internados em estado grave, a gasometria arterial deve ser feita quando houver:
Em recém-nascidos, o exame gasométrico é realizado no cordão umbilical, podendo indicar problemas respiratórios, auxiliando na prevenção e rápida intervenção.
O exame é contraindicado em pacientes diagnosticados com doença arterial periférica grave (quando o fluxo sanguíneo é reduzido devido a bloqueios nas artérias, acarretando diminuição de O2 no sangue).
O uso de anticoagulantes, afinadores de sangue ou quando há problemas de sangramento se apresentam como fatores limitantes para a realização da gasometria.
Não são necessários muitos cuidados antes do exame. Em geral, indica-se que o paciente esteja em repouso por pelo menos 10 minutos, a fim de não haver alterações respiratórias pelo esforço físico.
Alguns centros de diagnóstico requerem jejum de 3 horas, no entanto, não é um procedimento obrigatório. Deve-se consultar e seguir as orientações fornecidas pelo laboratório.
Nos hospitalizados com uso de oxigênio, é indicado desligar o fornecimento de O2 e aguardar cerca de 30 minutos. Quando a suspensão não é possível, deve-se levar em consideração a oxigenoterapia na interpretação do resultado, pois pode haver interferência nos valores apresentados.
Após o exame, indica-se pressionr o local da coleta e evitar esforços físicos e o levantamento de peso por, pelo menos, 1 hora.
No exame, em geral, são aferidos os seguintes valores:
Os valores de referência devem seguir os adotados pelo laboratório. No entanto, geralmente se tem:
Os resultados não devem ser interpretados isoladamente, sendo importante considerar as particularidades de cada paciente. Além disso, uma alteração deve ser analisada conjuntamente com os demais valores.
As variações são classificadas de acordo com o tipo (acidose ou alcalose) e de acordo com a causa primária (metabólica ou respiratória).
Em síntese, pode-se ter:
Assim, tem-se 4 quadros possíveis: acidose respiratória e alcalose respiratória (causadas principalmente por distúrbios pulmonares ou respiratórios que interferem na liberação de dióxido de carbono), e acidose metabólica e alcalose metabólica (advindas do desequilíbrio na produção de ácidos ou bases e na função excretora dos rins).
É caracterizada por pH baixo e PaCO2 alto, resultante da dificuldade respiratória. Nesse caso, pouco oxigênio é absorvido e pouco dióxido de carbono é eliminado.
Entre os principais causadores estão a pneumonia, a doença pulmonar obstrutiva crônica e a sedação excessiva são as mais frequentes.
Níveis de pH alto e PaCO2 baixo indicam alcalose respiratória, causados pela hiperventilação. Geralmente, as alterações respiratórias desse tipo são originadas por distúrbios emocionais (ansiedade e fobia), ou dor.
Quando há diminuição do pH e do bicarbonato, tem-se a acidose metabólica, advindo principalmente de quadros de diabetes descompensada (cetoacidose diabética), insuficiência renal e choque.
Na presença de pH e bicarbonato elevados, tem-se a alcalose metabólica. O quadro pode ser causado por hipocalemia (níveis baixos de potássio no sangue), vômitos crônicos que causam a perda de ácido gástrico e ingestão excessiva de bicarbonato.
Alguns fatores podem influenciar momentaneamente os resultados e devem ser relatados para que o diagnóstico não seja equivocado:
O exame, em geral, não oferece riscos à saúde. Casos que apresentam complicações geralmente envolvem o uso de afinadores de sangue ou dificuldade de coagulação, que podem dificultar que o sangramento estanque após a punção.
Edemas no local da coleta, tonturas e desmaios podem ocorrer, mas sem complicações futuras.
O exame de gasometria arterial, em média, custa a partir de R$10,00 e pode chegar a R$60,00, dependendo do laboratório.
Como não há necessidade de equipamentos especiais, podendo ser realizado na maioria dos laboratórios, a gasometria arterial normalmente está dentro da cobertura dos planos de saúde.
Se constatadas alterações na gasometria arterial, outros exames de bacteriologia, hematologia e bioquímica podem ser solicitados para verificar as causas.
Geralmente, são solicitados exames que auxiliam a determinar as causas das alterações de pH e oxigenação. Entre os solicitados podem estar:
A coleta de sangue realizada na artéria costuma ser dolorida.
A intensidade da dor é relativa e depende da sensibilidade de cada paciente, mas em geral, os laboratórios sugerem ou possibilitam a utilização de anestésicos locais para amenizar o desconforto.
A gasometria pode ser realizada com a coleta de sangue arterial ou venoso.
A principal diferença é que o sangue arterial permite avaliar melhor a oferta e transporte de oxigênio aos tecidos, enquanto o sangue venoso dará resultados referentes apenas às funções metabólicas.
Portanto, a gasometria venosa não é eficiente quando o objetivo é a análise pulmonar.
Sim. O exame não é contraindicado para gestantes ou lactantes. A gasometria realiza uma coleta de sangue, sem alterar as funções orgânicas.
A gasometria arterial é um exame rápido e em geral bastante simples. Através de uma amostra sanguínea, coletada da artéria, é possível identificar alterações de gases e de pH sanguíneo, bem como a correlação com outras disfunções metabólicas, pulmonares ou renais.
Os resultados permitem que o médico realize um diagnóstico correto e avalie as condições clínicas dos pacientes, a evolução do quadro e a eficácia do tratamento.
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Rafaela Sarturi Sitiniki
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