Saúde

Vício em jogos eletrônicos: é um transtorno?

Por Redação Minuto SaudávelPublicado em: 14/07/2018Última atualização: 28/09/2023
Por Redação Minuto Saudável
Publicado em: 14/07/2018Última atualização: 28/09/2023
Pessoa sentada em frente a tela do computador, com a mão na cabeça.Pessoa sentada em frente a tela do computador, com a mão na cabeça.
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O vício em jogos, também conhecido como transtorno por jogos na internet, tem como característica comportamento excessivo e prolongado de jogar, o que pode desencadear sintomas cognitivos e comportamentais.

O vício é um padrão de comportamento problemático que pode afetar a qualidade de vida da pessoa. Isso ocorre porque os jogos ativam o sistema de recompensa do cérebro, fazendo com que a pessoa sinta a necessidade de continuar jogando.

A prevalência desse transtorno em adolescentes em todo o mundo é de 4,6%, com distinção entre os gêneros, sendo a maior prevalência em meninos (6,8%) e em meninas (1,3%).

Para saber mais sobre o vício em jogos eletrônicos, as causas, sintomas e como é feito o diagnóstico, continue acompanhando o artigo!

Índice — Neste artigo, você vai encontrar:

  1. Vício em jogos eletrônicos é doença?
  2. Tipos
  3. Fatores de risco
  4. Sintomas
  5. Como é feito o diagnóstico?
  6. Tem cura?
  7. Tratamento
  8. Complicações
  9. Como prevenir
  10. Como diferenciar alguém que está com vício em games de alguém que simplesmente joga bastante?
  11. Como os amigos e familiares podem ajudar alguém que está com vício em games?

Vício em jogos eletrônicos é doença?

Sim, o vício em jogos eletrônicos é considerado oficialmente um transtorno desde junho de 2018, quando foi lançado a CID-11 pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Agora, para entender um pouco melhor o porquê do vício em jogos eletrônicos ter entrado no CID e do quão importante é esse passo, conversamos com o Dr. Emerson Rodrigues Barbosa, psiquiatra e Diretor Clínico do Instituto de Psiquiatria do Paraná.

“A categorização de transtornos, doenças e suas subdivisões servem principalmente para facilitar a comunicação entre profissionais da saúde e instituições interessadas.”

Quanto ao vício em jogos eletrônicos, o médico afirma: “Ambos os comportamentos são prazerosos de alguma maneira, e isso ativa o nosso sistema de recompensas, fazendo com que o usuário busque sempre mais e mais daquele prazer, independente das consequências negativas que isso possa trazer.”

E em relação ao comportamento, Dr. Emerson é categórico: “Se o videogame pode atrapalhar sua vida, assim como o álcool ou outras drogas, por que não poderia também ser considerado um vício?”

Leia maisDependência Digital: o que é, como identificar e tratar 

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Tipos

Apesar de ser relativamente novo no meio médico, a OMS, na CID-11, dividiu o vício em jogos eletrônicos em 3 diferentes categorias relativas à “modalidade” de jogo: online, offline e não especificado. Entenda:

Vício em jogos predominantemente online

As características do vício em jogos online são quase as mesmas dos outros tipos, ou seja, apresenta:

  • Dificuldade de controlar os hábitos de jogo (frequência, intensidade, duração, início e término);
  • O jogo passa ser mais importante do que outras atividades diárias, como tomar banho, comer e se relacionar com outras pessoas;
  • Insistência e acentuação dos hábitos de jogo, apesar deles terem gerado consequências negativas para a vida do(a) paciente.

O que diferencia esse tipo dos outros é a modalidade de jogo, ou seja, neste caso, o paciente joga online. O problema particular das partidas online é que, nessas condições, não existe a possibilidade de interromper o jogo, pois ele acontece em tempo real para vários jogadores ao mesmo tempo.

Isso, muitas vezes, é usado como uma justificativa do(a) paciente jogar de maneira ininterrupta, afinal, os outros jogadores dependem dele para ganhar a partida e não existe a possibilidade de pausar o jogo.

Vale ressaltar que, como o próprio nome já diz, o vício em jogos predominantemente online não significa que o paciente jogue somente online, mas que a principal modalidade jogada pelo paciente é a de jogos online.

Vício em jogos predominantemente offline

Essa categoria é muito semelhante a de vício em jogos online, com a diferença de que as partidas são particulares, isto é, o(a) paciente joga sozinho, no próprio tempo e sem a interação de outros jogadores.

No caso dos jogos offline, não há necessariamente fixação por um jogo específico, mas pode acontecer de ter por vários. Muitas vezes, a necessidade é de chegar ao fim de todos, ganhar todos os troféus disponíveis e finalizar o jogo.

Vício em jogos não especificados

O vício em jogos não especificados diz respeito a pacientes que apresentam um tipo de vício misto. Isto é, de jogos online e offline. As principais características continuam as mesmas, ou seja:

  • Dificuldade de controlar os hábitos;
  • Prioridade crescente dada ao jogo;
  • Insistência e acentuação dos hábitos de jogo, apesar de consequências negativas.
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Fatores de risco

Existem alguns fatores de risco levantados a partir da investigação de alguns casos. Eles se dividem em fatores de risco biológicos, psicológicos, sociais e do próprio game em si. A seguir, você confere um pouco mais sobre cada um deles:

Fatores biológicos

Algumas pessoas apresentam predisposição genética neuronal que as torna mais susceptíveis a desenvolver algum tipo de vício. Nesses casos, o vício poderia acontecer tanto com jogos quanto com álcool ou outras atividades viciantes.

Em crianças e adolescentes os mecanismos neurológicos ligados ao centro de recompensa, por isso possuem um risco maior de desenvolver o vício por jogos, aumentando assim a dificuldade de controlarem a permanência no jogo.

Fatores psicológicos

Alguns fatores psicológicos podem deixar uma pessoa mais propensa a desenvolver algum transtorno relacionado aos games, como:

Fatores sociais

Diversos fatores sociais podem ter impacto e aumentar as chances do desenvolvimento dessa condição. São eles:

  • Isolamento social;
  • Falta de limites quanto ao uso dos games;
  • Bullying;
  • Pressão excessiva na escola ou trabalho.

Além disso, quando a pessoa é aceita dentro do ambiente virtual, gera um sentimento muito grande de pertencimento. Isso também pode ser um fator de risco para desenvolver o vício em jogos.

Sintomas

Alguns sintomas dessa condição são:

  • Preocupação excessiva com o jogo;
  • Quando há afastamento do ato de jogar, tem ansiedade, irritabilidade ou tristeza;
  • A necessidade de continuar jogando é crescente;
  • Há perda do interesse em desenvolver outras atividades;
  • Fracasso no controle para não jogar;
  • Enganar família, terapeuta ou amigos sobre a quantidade de tempo destinada ao jogo;
  • O jogo é usado como estratégia de evitação ou aliviar humor negativo;
  • Deixar de realizar todas as refeições para jogar;
  • Comer em frente ao computador ou televisão;
  • Começar a faltar na escola e no trabalho para jogar;
  • Deixar de tomar banho e escovar os dentes para jogar;
  • Ficar com o sono desregulado, trocar o dia pela noite ou dormir muito pouco para poder jogar mais;
  • Em casos mais graves, deixar de ir ao banheiro para jogar.
  • Alterações do sono (ou mudança completa do “fuso horário”);
Pessoa sentada em frente em frente a tela de computador jogando.
Se você se identifica ou conhece alguém com esses sintomas, procure ajuda psicológica e psiquiátrica quanto antes!
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Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico deve ser realizado por um(a) psiquiatra, que fará um levantamento do histórico de vida, familiar, saúde geral e psicológica. Além disso, o(a) profissional também fará a análise dos sintomas apresentados pelo(a) paciente.

 Também é considerada a presença dos sintomas de, pelo menos, 12 meses para que seja possível definir a gravidade e propor o tratamento mais adequado.

Tem cura?

Sim, há a possibilidade de tratar essa condição até que os comportamentos disruptivos sejam reduzidos, proporcionando assim qualidade de vida para o(a) paciente.

Tratamento

Os principais focos do tratamento para o vício em jogos são o uso de medicamentos quando necessário, principalmente quando há a presença de outro transtorno psiquiátrico, e psicoterapia.

A abordagem cognitivo-comportamental tem se mostrado eficiente nesse tratamento, pois auxilia na avaliação dos próprios hábitos e possibilita o desenvolvimento de habilidades sociais fora do ambiente virtual, como  comunicação, resolução de problemas e manejo dos sentimentos.

Complicações

Quando não há tratamento, diversas complicações podem surgir nonos âmbitos social, físico e psicológico. Sendo elas:

  • Afastamento dos amigos;
  • Piora no rendimento escolar ou no trabalho;
  • Perda do emprego;
  • Brigas com os familiares;
  • Perdas de relacionamento;
  • Preferência pela vida virtual à realidade;
  • Distúrbios do sono, como insônia;
  • Ansiedade;
  • Depressão;
  • Obesidade;
  • Sedentarismo;
  • Má alimentação e nutrição;
  • Lesões nas mãos e braços.

Como prevenir?

A prevenção ocorre pelo equilíbrio entre todas as atividades do dia e o jogo. No caso de crianças, é necessário impor limite de tempo de quanto é permitido ficar em frente as telas. Isso possibilita que outras atividades que estimulam, como leitura, brincadeiras, dança, pintura e esportes, sejam implementadas em sua rotina.

Como diferenciar alguém que está com vício em games de alguém que simplesmente joga bastante?

O principal sintoma de quem está com um problema é quando a pessoa deixa de realizar atividades básicas, como se alimentar, ir ao banheiro ou tomar banho para ficar jogando.

No momento que começa a afetar em alguma área importante da vida da pessoa, como a sua saúde física ou o seu desempenho na escola, ou no trabalho, é uma boa ideia buscar por ajuda profissional.

Como os amigos e familiares podem ajudar alguém que está com vício em games?

No caso dos pais de crianças e adolescentes, é muito importante que haja um diálogo aberto sobre os jogos com os filhos, além de atenção para perceber mudanças de atitude que perdurem por muito tempo.

Entretanto, é muito importante perceber se não há outra questão, como bullying ou isolamento social, que está afetando a rotina do filho. Muitas vezes, nesses casos, os jogos não são necessariamente o problema, mas sim uma válvula de escape.

Na maior parte dos casos, é a família que toma a iniciativa de buscar por ajuda, seja ela criança, adolescente ou adulto. Portanto, é muito importante que a família tenha diálogo e, após isso, é necessário buscar ajuda.


O vício em jogos eletrônicos é uma condição de saúde que necessita da atenção de pais e familiares, e muitas vezes demanda acompanhamento psicoterapêutico e psiquiátrico.

Para mais conteúdos sobre saúde mental, continue acompanhando o site e redes sociais do Minuto Saudável!


Imagem do profissional Thayna Rose
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Este artigo foi escrito por:

Esp. Thayna Rose

CRP: CRP/PR 08/28789Bacharel em Psicologia com especialização em Neuropsicologia.Leia mais artigos de Esp. Thayna
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