A hipertensão gestacional é um distúrbio caracterizado pela detecção de pressão alta durante a gravidez, quadro que pode ser ainda mais preocupante após a 20ª semana. Com consequências que podem ser bastante graves, a hipertensão gestacional é, hoje, uma das três principais causas de óbito em gestantes.
Assim como os demais tipos de hipertensão, a gestacional também não tem uma causa determinada, podendo ser consequência de outras doenças, hábitos alimentares, histórico genético ou até mesmo de mudanças causadas pela própria gravidez no organismo.
O acompanhamento médico periódico, como o desenvolvido no pré-natal, é fundamental e poderá determinar se a pressão da(o) paciente está excepcionalmente alterada ou se de fato se trata de um quadro de hipertensão.
Os exames preventivos são importantes para detectar qualquer tipo de alteração, mesmo que a pessoa não tenha histórico de hipertensão. Embora possa ser provocada e intensificada por certos fatores, tais como genética ou alimentação, a pressão alta pode surgir como resposta à gravidez em si, o que acontece sem causa aparente e em gestações aparentemente saudáveis.
Conforme as mais recentes Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, são arbitrários os valores do que é considerada uma pressão arterial (PA) normal. No entanto, a pessoa que apresentar pressão arterial sistólica (PAS) ≥ 140mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD) ≥ 90 mmHg, poderá ser diagnosticada como hipertensa, segundo o documento.
Na gestação, também pode ser considerada hipertensa a pessoa que apresentar pressão de 14x9 ou superior. Os valores de pressão arterial (PA), somados a outras características, poderão definir o diagnóstico de hipertensão como crônica, gestacional, pré-eclâmpsia, pré-eclâmpsia sobreposta à hipertensão crônica ou eclâmpsia.
Na 10ª revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), a Organização Mundial de Saúde (OMS) lista os seguintes códigos e seus respectivos tipos de pressão alta na gravidez:
Globalmente, estima-se que de 2% a 8% das gestações têm complicações devido à pré-eclâmpsia. Na América Latina, a condição corresponde a quase 26% dos óbitos. Além disso, segundo informações do Ministério da Saúde, de 5 a 10% de todas as gestações do Brasil são afetadas pela hipertensão gestacional.
Continue lendo o artigo para saber mais sobre essa condição, suas possíveis causas e os cuidados necessários para quem foi diagnosticada(o) com hipertensão arterial na gravidez.
Índice — Neste artigo, você irá encontrar:
Não há uma causa única e precisa para justificar a pressão alta em pessoas grávidas. Diversos fatores podem estar relacionados e é possível que a própria gestação seja a fonte do problema. Há, no entanto, alguns elementos reconhecidos como facilitadores dessa condição.
Embora seja possível que a hipertensão tenha sua raiz nas mudanças fisiológicas causadas pela gestação, é mais comum que os hábitos alimentares sejam apontados como um dos principais fatores responsáveis pelo desregulamento da pressão.
O consumo de sódio contribui para o aumento da retenção de líquidos no organismo. Consequentemente, há um aumento da atividade vascular e da pressão sanguínea. Nos corpos grávidos, a retenção de líquidos também é fomentada pelo hormônio relaxina, responsável pela dilatação dos vasos sanguíneos.
Daí a importância de uma alimentação saudável e equilibrada durante toda a gravidez. Vale lembrar, ainda, que o sódio não está presente apenas em alimentos salgados, podendo ser encontrado em alimentos doces, como refrigerantes ou bolos, e até mesmo em produtos light e diet, haja vista que os adoçantes também levam sódio em sua composição.
Outros fatores, tais como sedentarismo, idade (acima de 40 anos), uso de drogas e estresse também podem contribuir para o desenvolvimento da hipertensão durante a gravidez.
Algumas condições, prévias à gravidez ou não, também podem estar associadas à hipertensão gestacional, tais como diabetes, obesidade, hipertensão crônica, desnutrição, entre outras.
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Diante de qualquer sintoma de pressão alta durante a gravidez, um médico deverá ser consultado
Ainda segundo as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, fica definida a seguinte classificação:
A pressão arterial, assim como o momento em que a hipertensão é diagnosticada, irão determinar o grau de gravidade da condição, que pode acarretar graves riscos para a(o) gestante e/ou para o(a) bebê.
Estes são os tipos de hipertensão que podem ser identificados durante a gravidez:
Presente em 0,9% a 1,5% das pessoas grávidas, a hipertensão crônica pode ser diagnosticada antes da gestação ou durante as 20 primeiras semanas. Também recebe esse nome a hipertensão desenvolvida durante a gravidez e que não desaparece do organismo no período pós-parto.
Quando os exames de pressão acusam valores iguais ou superiores a 14x9 (PAS ≥ 140 mmHg ou PAD ≥ 90 mmHg) após 20 semanas de gestação, passa-se a considerar o quadro como hipertensão gestacional. Geralmente, o organismo volta ao normal no período pós-parto.
É considerado pré-eclâmpsia quando a PA apresenta valores iguais ou superiores a 14x9 (PAS ≥ 140 mmHg ou PAD ≥ 90 mmHg) após 20 semanas de gestação. Nesse caso, os exames costumam acusar a presença de proteínas na urina (proteinúria), além de alguns sinais de gravidade.
É preciso prestar atenção a sintomas como dor abdominal, dor de cabeça e convulsões. Os exames também poderão apontar alterações nos níveis de plaquetas (trombocitopenia), creatinina e das transaminases hepáticas.
Ocorre quando a pré-eclâmpsia acontece em um organismo com histórico de hipertensão crônica que antecede a gravidez.
A forma mais grave da hipertensão gestacional é a eclâmpsia, quadro no qual a(o) gestante apresenta convulsões tônico-clônicas, capazes de causar perda de consciência e intensas contrações musculares. Se agravada, a situação poderá levar a(o) gestante a um coma eclâmptico.
A eclâmpsia é entendida como uma complicação da gravidez causada pela pré-eclâmpsia. Os episódios de convulsão podem surgir na gravidez (após a 20ª semana), durante o parto ou nas 48 horas do período pós-parto.
Já o coma eclâmptico, que pode durar minutos ou horas, é caracterizado por uma profunda perda de consciência, sintoma que pode vir acompanhado de cianose e respiração ruidosa. Mesmo durante o coma, novas convulsões podem ocorrer.
O pré-natal, com seus exames de rotina e o acompanhamento da pressão arterial durante a gestação, é de suma importância, porque a hipertensão pode ser silenciosa até que a pré-eclâmpsia se torne grave.
Na chamada pré-eclâmpsia ligeira, os sinais de hipertensão só aparecem em exames. Nesse caso, o(a) médico(a) poderá notar uma tensão arterial diastólica entre 90 e 110mmHg, além de detectar proteinúria de até 2+.
Quando a tensão arterial diastólica atinge níveis superiores a 110mmHg, com a proteinúria atingindo a mais de 3+ ou superior, passa-se a considerar a hipertensão gestacional como um caso de pré-eclâmpsia grave.
Ainda que a condição possa permanecer silenciosa nessa fase, alguns sinais já podem ser entendidos como um alerta de eclâmpsia iminente.
Além de manter o acompanhamento pré-natal, é de suma importância que a pessoa gestante fique atenta diante dos seguintes sintomas:
A presença excessiva de proteína na urina, proteinúria, é um sintoma detectado em exames e que pode estar associado a diversas condições.
Embora isoladamente não seja considerado um sinal de alerta, a literatura médica aponta que a descobertade proteinúria no organismo altera o diagnóstico de hipertensão para pré-eclâmpsia.
O exame é realizado a partir da primeira urina da manhã e pode ser repetido a cada 24 horas para uma análise mais detalhada.
Nos casos de proteinúria transitória, os índices costumam ser inferiores a 500mg/24horas. Quando a quantidade de proteína encontrada fica na faixa de 200 a 500mg/24 horas, a proteinúria é classificada como 1+. Nos casos de hipertensão gestacional, será considerado o seguinte:
Leia também: Eclâmpsia: sintomas, tardia (puerperal) e no pós-parto
O pré-natal é muito importante e uma das principais formas de evitar as consequências graves da hipertensão na gravidez
O aumento da pressão sanguínea pode trazer consequências para o corpo todo, afetando o fluxo de sangue, oxigênio e nutrientes em órgãos como rins, fígado, cérebro, útero e placenta.
Os dados mais recentes do Ministério da Saúde sobre mortalidade na gravidez são de 2019 e apontam a hipertensão gestacional como uma das principais causas de falecimento das(os) gestantes. Ao lado deste índice, encontra-se a hemorragia pós-parto e infecção puerperal.
Enquanto casos mais leves geralmente têm as mesmas consequências da hipertensão comum, o tipo gestacional requer atenção especial devido à possibilidade de óbito causado por eclâmpsia. Nesses casos, tanto a(o) gestante quanto o(a) bebê podem sofrer consequências graves.
Como são duas vidas em risco, é necessário que a equipe médica fique atenta aos sinais vitais de ambos. Em casos extremos, decisões mais drásticas podem ser tomadas, como quando ocorre o aborto para preservar a vida da pessoa gestante.
A eclâmpsia, como vimos, é a mais grave consequência da hipertensão gestacional, mas outras complicações poderão se desenvolver a partir da hipertensão gestacional:
O pré-natal é essencial durante toda a gravidez e possibilita que os sintomas sejam detectados e tratados por um profissional especializado, sobretudo quando o(a) médico(a) julgar necessária a administração de medicamentos.
Embora a hipertensão seja uma condição complexa, o tratamento pode envolver pequenas mudanças de rotina, sobretudo dos hábitos alimentares.
No entanto, a literatura médica diverge um pouco nesse ponto: embora o sódio seja comumente associado ao aumento da pressão, alguns estudos indicam que não há evidências de que a restrição de sal possa auxiliar no tratamento da hipertensão gestacional.
Além de uma dieta adequada, também é indicado repouso e períodos de descanso. Em casos mais graves, poderá ser feito o uso de algum tratamento medicamentoso, mas este será definido conforme a situação da(o) paciente e sob intensa supervisão médica.
Em qualquer gestação, o pré-natal é indispensável para o acompanhamento, detecção e tratamento de quaisquer problemas que a(o) gestante possa ter ou desenvolver.
O acompanhamento da pressão é realizado regularmente pelo médico, que deverá solicitar também os exames para detecção de proteinúria. A investigação de sinais de hipertensão é um dos cuidados mais básicos e, ao mesmo tempo, mais importantes do período pré-natal.
Em pessoas que apresentam quadro de hipertensão anterior à gravidez, poderão ser solicitados exames como a ecocardiografia (ou ecocardiograma), que visa avaliar a saúde do coração, analisando a sua capacidade de funcionamento e fluxo sanguíneo.
Assim como em qualquer outra gestação, é recomendado reduzir o consumo de cafeína, além de evitar o uso de álcool e outras drogas, incluindo o tabaco.
Silenciosa, complexa e potencialmente fatal, a hipertensão gestacional precisa ser levada a sério, com investigação dos sinais de alerta durante toda a gestação.
O pré-natal é indispensável para a detecção precoce da doença e, diante de qualquer sintoma, um profissional deverá ser consultado imediatamente, sobretudo se a gestação já tiver passado da sua 20ª semana.
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Rafaela Sarturi Sitiniki
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