A narcolepsia é uma condição neurológica não transmissível, caracterizada por distúrbios do sono, tal como sonolência excessiva durante o dia, episódios temporários de fraqueza muscular, paralisia do sono e alucinações. Os sintomas aparecem entre a infância e a adolescência, ocorrem igualmente entre homens e mulheres e afetam, em torno, de uma a cada 2000 pessoas.
A doença é conhecida há muito tempo, mas somente com um estudo aprofundado da fisiologia do sono, realizado na década de 1960, foi possível relacionar seus sintomas com as alterações nas fases do sono e caracterizá-la como uma patologia ligada ao REM Rapid Eye Movement ou Movimento Rápido dos Olhos, última fase do ciclo do sono, quando ocorre a maior parte dos sonhos.
Pessoas com narcolepsia tendem a ter dificuldade em se manterem acordadas por longos períodos de tempo, mesmo após uma boa noite de sono, o que pode atrapalhar a concentração e realização de tarefas diárias comuns. Ataques de sono podem acontecer, inclusive, enquanto está dirigindo um automóvel ou cozinhando, o que coloca em risco a vida do paciente e daqueles que estão a sua volta.
Pesquisas indicam que os baixos níveis do neurotransmissor hipocretina e também de fatores genéticos estão diretamente ligados às causas da doença. Tratamentos e medicamentos podem ajudar os narcolépticos a retomarem uma vida normal de afazeres, porém não há cura relatada.
Combinação de sonolência excessiva com cataplexia, ataque repentino de fraqueza muscular desencadeados por fortes emoções como raiva, alegria, risos e surpresa.
Tipo mais raro de narcolepsia, com episódios de sonolência excessiva contínua, mas sem relatos de cataplexia.
No processo natural do sono, uma pessoa adormece e passa por quatro etapas até atingir o REM Rapid Eye Movement ou Movimento Rápido dos Olhos. Nesta última fase, a respiração torna-se rápida e irregular, os músculos imóveis, a pressão arterial aumenta e ocorre a maior parte dos sonhos.
O REM começa cerca de 70 a 90 minutos após adormecer e garante somente 20% do sono. Por isso, passar por todo o ciclo antes de atingi-lo é de extrema importância para garantir o equilíbrio físico e mental pessoal. Entretanto, um narcoléptico pula todas as quatro etapas iniciais e atinge o REM com maior facilidade, seja de dia ou de noite, de modo que não completa o ciclo essencial do sono.
A causa ainda é desconhecida, mas pesquisas sugerem que está envolvida com fatores genéticos, além de ser gerada pelo déficit do neurotransmissor denominado hipocretina, localizado no hipotálamo. Esse neurotransmissor é o responsável por regular a excitação, vigília e o apetite.
No cérebro humano, poucas células produzem a hipocretina, de forma que, se danificadas ou destruídas, seja por lesões, toxinas ou reações autoimune, podem causar baixos níveis desse neurotransmissor. Isso gera, consequentemente, a sonolência excessiva.
Outros fatores que podem desencadear a falta de hipocretina são:
Os sintomas geralmente começam na infância ou adolescência, a partir dos 7 até os 25 anos, e afetam igualmente homens e mulheres. Somente em casos raros a narcolepsia pode aparecer em idade mais jovem ou em adultos mais velhos.
Como há indícios da doença ser causada por alguma predisposição genética, caso algum familiar tenha histórico de narcolepsia, o indivíduo tem maiores chances de também possuir a doença.
Na narcolepsia não há o limite comum entre estar acordado e adormecido, de forma que certas características do sono ocorrem enquanto está desperto. São elas:
Este é o único sintoma específico da narcolepsia e que não ocorrerá em nenhuma outra doença. Caracterizado por episódios de perda do tônus muscular, ou seja, ataques de fraqueza muscular desencadeados por uma reação emocional forte, como medo, raiva, estresse, excitação, humor, e, mais frequente, o riso.
A perda de tônus muscular durante um episódio de cataplexia se assemelha à interrupção muscular natural que acontece durante o sono REM, entretanto, ocorre enquanto está acordado e a pessoa tem plena consciência do ocorrido. Os ataques duram de alguns segundos até 10 minutos e podem levar a fala arrastada, dobramento de joelhos ou, em casos mais graves, paralisia completa, causando a queda da pessoa ao chão.
Desejo incontrolável de dormir durante dia, mesmo que tenha ou não dormido o considerado suficiente para uma noite. Este é o sintoma mais comum e aparente, que pode ser acompanhado por exaustão, sonolência, lapsos de memória, dificuldade de concentração e humor deprimido.
Ataques de sono podem acontecer ao longo do dia, durar entre alguns minutos a meia hora, e revigorar o indivíduo após ceder a estes pequenos cochilos até a fadiga retornar, em torno de uma a duas horas. Durante esses ataques, os narcolépticos estão propensos a comportamentos automáticos, caso estejam realizando alguma tarefa no momento, tal como continuar escrevendo, dirigindo ou cortando, sem nenhuma interrupção aparente. O desempenho costuma ser prejudicado e raramente os pacientes irão lembrar de suas ações.
São alucinações de conteúdo principalmente visual, como visão de vultos, animais, objetos, pessoas, etc., mas que podem envolver qualquer um dos outros sentidos. Normalmente, essas experiências costumam ser vívidas, assustadoras e podem, ou não, estarem associadas à paralisia do sono.
Incapacidade de se mover ou falar enquanto está adormecendo ou acordando. São episódios breves, duram cerca de segundos até 10 minutos com média de 2 minutos -, terminam de modo espontâneo e a pessoa tem consciência do ocorrido. O indivíduo irá recuperar totalmente a capacidade de se mover e falar após o término do episódio.
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A maioria dos narcolépticos apresentam dificuldades em ter uma noite inteira de sono, por enfrentarem diversas interrupções ao longo das horas em que dormem. Essas interrupções podem ser devidas a sonhos vívidos, falar enquanto dorme, insônia e movimento periódico das pernas.
A narcolepsia pode ser diagnosticada a partir de neurologistas, médicos do sono, psiquiatras, psicólogos, geneticistas e infectologistas. A sonolência é o principal sintoma de diversos distúrbios comportamentais e do sono, e somente a cataplexia é específico da narcolepsia, por isso o diagnóstico deve ser realizado por um médico especializado para evitar enganos.
O reconhecimento da doença será feito com base no estudo do histórico do sono do paciente e a partir da realização dos seguintes exames:
Durante o exame, o paciente irá dormir em laboratório ligado em máquinas que registram vários de seus parâmetros fisiológicos e sua atividade cerebral durante o sono noturno. Como pessoas com narcolepsia adormecem muito mais rápido do que as pessoas sem essa condição, o teste pode ajudar a revelar se o sono REM ocorre de maneira anormal e eliminar sintomas que se assemelham a outras doenças.
O TLMS busca avaliar a ocorrência do sono REM e a sonolência em períodos diurnos, monitorando os breves períodos de sono e despertar do paciente. O exame é realizado em laboratório e após ter o registro da polissonografia.
O exame analisa a atividade elétrica cerebral espontânea, captada através da utilização de eletrodos colocados sobre o couro cabeludo.
O exame analisa a atividade elétrica cardíaca.
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O exame é realizado para identificar o gene da narcolepsia.
Como um novo teste de diagnóstico, é feito a análise e doseamento de hipocretina-1 no líquido cefalorraquidiano. A falta de hipocretina no líquido cefalorraquidiano pode ser um marcador para a narcolepsia, permitindo o tratamento precoce de algumas complicações da doença.
Não há cura e prevenção para esse distúrbio, mas medicamentos e mudança de comportamentos e hábitos pode ajudar a controlar os sintomas.
Os medicamentos indicados para o tratamento de cataplexia e sonolência excessiva são diferentes, mas costumam ajudar a melhorar ambos os sintomas. São divididos em duas classes terapêuticas: estimulantes, que agem sobre a sonolência diurna, e os antidepressivos, que agem sobre a cataplexia. Uma das soluções encontradas é a combinação de doses menores das duas classes.
Os medicamentos mais indicados para narcolepsia são:
Utilizados para reduzir a sonolência excessiva diurna.
Utilizados para reduzir os episódios de cataplexia, paralisia do sono e alucinações, os antidepressivos são divididos em duas classes:
Sedativo forte, utilizado em casos graves de cataplexia. O oxibato de sódio deve ser tomado durante a noite, pois induz o sono e reduz os sintomas da sonolência diurna.
Os medicamentos podem incluir efeitos colaterais, por isso nunca se automedique.
Atenção!
NUNCA se automedique ou interrompa o uso de um medicamento sem antes consultar um médico. Somente ele poderá dizer qual medicamento, dosagem e duração do tratamento é o mais indicado para o seu caso em específico. As informações contidas nesse site têm apenas a intenção de informar, não pretendendo, de forma alguma, substituir as orientações de um especialista ou servir como recomendação para qualquer tipo de tratamento. Siga sempre as instruções da bula e, se os sintomas persistirem, procure orientação médica ou farmacêutica.
Ao possuir o diagnóstico da doença, mudanças de hábitos devem acompanhar os medicamentos prescritos por seu médico.
Orientações individuais serão estabelecidas de acordo com a necessidade de cada paciente, mas é provável que também seja indicado a elaboração de rotinas de cochilos programados. O paciente costuma acordar mais disposto após se deitar por poucos minutos ao longo do dia.
As seguintes medidas, se adotadas, podem ajudar a aliviar a sonolência durante o dia:
O apoio de amigos e familiares é essencial para ocorrer a melhora do paciente no decorrer do tratamento. Assim, tanto os portadores quanto as pessoas em seu convívio devem estar cientes que:
Em casos de narcolepsia, na maioria das vezes, não é cogitado a busca de ajuda profissional. Entretanto, apesar de não afetar diretamente a inteligência, a doença terá impacto negativo na capacidade de concentração, memória e atenção se não for diagnosticada e tratada. A integridade física também corre riscos, pelo fato do paciente estar propício a sofrer acidentes e lesões, caso ocorra ataques de sono em horários inapropriados, como no meio da realização de alguma atividade.
Adicionam-se aos sintomas da narcolepsia alguns efeitos colaterais que os pacientes podem apresentar após fazer o uso da medicação, como hipotensão ortostática, boca seca e disfunção erétil.
Diagnósticos precipitados confundem a sonolência com uma situação normal e, em diversos casos, os narcolépticos tendem a ser tachados de preguiçosos, levando à complicações socioprofissionais sem o conhecimento de sua condição ser motivada por uma doença. Nesses casos, os indivíduos podem apresentar:
Outras possíveis complicações:
Como não existem formas conhecidas de prevenir a narcolepsia, o paciente deve seguir corretamente com o tratamento para aliviar os sintomas e evitar que a doença se agrave.
A narcolepsia é uma doença que pode acarretar diversas dificuldades caso não venha a ser tratada. Evite diagnósticos e julgamentos precipitados, compartilhe este artigo para alertar outras pessoas quanto a seus sintomas.
Referências
Rafaela Sarturi Sitiniki
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