Saúde
Reposição hormonal oral aumenta risco de tromboembolismo
Publicado em: 16/01/2019Última atualização: 02/07/2019
Publicado em: 16/01/2019Última atualização: 02/07/2019
Repor os hormônios após a menopausa pode aliviar sintomas que são bastante incômodos para algumas mulheres. Mas determinados medicamentos da chamada Terapia de Reposição Hormonal (TRH) podem elevar os riscos de coágulos sanguíneos. É o que sugere um
estudo publicado na revista médica TheBMJ, de 2019.A pesquisa, intitulada "Uso de terapia de reposição hormonal e risco de tromboembolismo venoso: estudo de caso-controle", traz importantes e relevantes considerações sobre os riscos e efeitos do tratamento.O tromboembolismo venoso (TV) ocorre quando coágulos se formam nas veias — trombose venosa profunda — e há obstrução das artérias do pulmão devido aos coágulos — embolia pulmonar.Considerando os resultados gerais, a pesquisa apontou que mulheres que fazem TRH podem ter até o dobro de chance de sofrer com TV, quando comparadas a quem não faz a terapia, com o uso de alguns medicamentos.Mas fica o alerta:
não são todos os medicamentos que apresentam essas taxas e é preciso atenção à compreensão do estudo, pois os resultados são menos alarmantes do que podem parecer.Isso porque os pesquisadores usaram uma metodologia de estudo de caso-controle, que é muito eficaz para fazer relações ou associações, mas não eficiente para determinar causas.É mais ou menos como dizer que há uma boa probabilidade de alguns medicamentos de TRH elevarem os riscos de coágulos, mas há vários outros fatores que também podem ter culpa nisso. Não há como saber precisamente.
Como foi feito o estudo?
Os pesquisadores da Universidade de Nottingham utilizaram registros de dois bancos de dados do Reino Unido, o QResearch e o Datalink de Pesquisa Clínica, e identificaram 80.396 mulheres entre 40 e 79 anos que sofreram com tromboembolismo entre 1998 e 2017.Para fazer a comparação casos-controle — ou seja, mulheres e sem TV —, foram selecionadas 391.494 mulheres com idade e condições de saúde semelhantes, mas que não sofreram com o tromboembolismo.A vantagem desse método é que muitas hipóteses podem ser levantadas observando quais pontos eram comuns nas mulheres que tiveram a doença e as que não tiveram.Foram levantados dados pertinentes, como os hábitos de vida, peso, índice de gordura, consumo de álcool, hábito de fumar, uso de medicamentos e outros riscos para o tromboembolismo.Todos esses fatores foram considerados para calcular as chances das pacientes terem sofrido o coágulo se usassem outros medicamentos de TRH ou se não usassem.É preciso saber que há diferentes meios de reposição hormonal — gel, adesivo, comprimido — e cada um ainda tem diversos medicamentos possíveis. Por isso, o estudo é relevante para indicar que não são todas as reposições hormonais que elevam os riscos.A pesquisa apontou que mulheres que faziam reposição hormonal com qualquer tipo de comprimido oral apresentaram aumento de 58% no risco de desenvolver coágulos.Mas há pequenas diferenças entre cada pílula.As que usam
estrogênio equino conjugado combinado com acetato de medroxiprogesterona tiveram os riscos duplicados. As que utilizam estrogênio
estradiol combinado com didrogesterona apresentaram os menores riscos relacionados à pílula oral.A pesquisa ainda indica que as dosagens estão relacionadas às chances de tromboembolismo, sendo que quanto maior a quantidade de estradiol, mais ocorrências de coágulos.Ou seja, entre as participantes com tromboembolismo, 1 a cada 567 tomavam estrogênio equino e medroxiprogesterona, sendo que para as demais pílulas, a cada 1.076 pacientes com tromboembolismo, 1 tomava alguma outra pílula de TRH.
Leia mais: Remédios para menopausa e riscos da reposição hormonalDevo abandonar a terapia?
Os resultados e levantamentos do estudo apontam que entre as que não fazem a terapia hormonal, o tromboembolismo acomete cerca de 16 a cada 10.000 mulheres anualmente. Entre aquelas que tomam pílulas para TRH, a incidência é de 9 casos a mais.Apesar de parecer uma diferença considerável, os pesquisadores apontam que, em números gerais, esse aumento é pequeno e os riscos não indicam a necessidade de abandonar o tratamento, desde que ele tenha sido recomendado e avaliado por um profissional.É aquela boa recomendação: toda terapia medicamentosa precisa ser feita com profissionais capacitados para indicar a melhor opção para cada paciente.Mas ainda há um outro aspecto relevante que dá um alívio às mulheres mais preocupadas: a TRH feita com gel ou adesivos não está associada ao risco mais elevado de coágulos.Apesar do método ser pouco usado — cerca de 85% das participantes recorrem às pílulas —, os resultados podem incentivar a escolha, desde que orientada pelo profissional de saúde.É importante que haja mais espaço para as opções intradérmicas, sobretudo em mulheres que já apresentem outros fatores de risco para desenvolver coágulos — como tabagismo, sedentarismo, obesidade ou histórico familiar.No entanto, o estudo não deve ser um motivo de preocupação, segundo os pesquisadores. Quando necessária e bem indicada, a TRH traz benefícios à saúde e ao bem-estar.Os diferentes tipos de TRH
A reposição hormonal deve ser avaliada pelo médico de acordo com o quadro clínico da paciente. Há mulheres que passam tranquilamente pela menopausa e outras que sofrem com as mudanças no organismo, por isso, cada caso precisa ser individualizado.Existem diversas opções para quem deseja aliviar sintomas, desde as mais naturais — como chás e fitoterápicos — até a terapia de reposição hormonal.
Leia mais: Remédios naturais para amenizar os sintomas da menopausaOs riscos e benefícios ainda são bastante debatidos, mas para aquelas que tratam a falta de hormônios — seja pela menopausa ou pela retirada do útero, por exemplo —, há outro aspecto importante: qual medicamento escolher e quais os riscos associados.Em geral, há algumas substâncias mais comuns, como o estrógeno, progesterona, testosterona, estradiol e tibolona também são usadas na TRH, que podem ser usados isolada ou conjuntamente com outras substâncias, como a medroxiprogesterona.Mas independente da escolha da substância, a terapia pode ser feita com comprimidos, creme, gel, adesivo ou implantes, por exemplo.Os comprimidos são geralmente os mais utilizados pelas mulheres, mas a escolha também depende do conforto e comodidade, além — claro — de considerar os riscos e benefícios de cada uma.
As pesquisas e estudos estão constantemente indicando novas opções para a saúde. Pacientes e profissionais são beneficiados com os resultados, que ajudam a medir os impactos de tratamentos e medicamentos disponíveis.Por isso, o ideal é sempre conversar com o médico, esclarecer dúvidas e, junto dele, escolher a opção terapêutica que melhor se adequa a cada caso.
Fonte: BMJ