De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a resistência antibiótica é um dos principais problemas globais de saúde, não apenas humana, mas também animal e ambiental.
Segundo o Relatório Global de Resistência Antimicrobiana e Sistema de Vigilância de Uso Antimicrobiano da OMS publicado no final de 2022, mesmo as infecções bacterianas mais comuns estão se tornando cada vez mais resistentes aos tratamentos.
Isso é capaz de gerar sérios problemas para a saúde pública, enfraquecer a medicina e, consequentemente, colocar vidas em risco.
A incidência de resistência antibiótica é maior em países de baixa e média renda. Sua baixa capacidade laboratorial, que aumentaria a realização de testes, dificulta a análise e o estudo desse problema, e o desenvolvimento de estratégias para reduzir sua incidência.
Neste artigo, você irá compreender um pouco mais sobre a resistência antibiótica, porque ela acontece e quais são seus riscos.
Índice
Bactérias são organismos microscópicos apresentados de várias formas, que estão presentes nos mais diversos ambientes. Algumas delas podem habitar naturalmente no corpo humano, como no trato digestivo, nas vias respiratórias e até mesmo sobre a pele, contribuindo para suas funções, sem provocar nenhum dano.
Mas elas também podem ser as causadoras de infecções e diversas doenças. Mesmo as que estão presentes no corpo podem se multiplicar e causar alguma patologia.
Diante de uma infecção, para combater as bactérias e sua multiplicação, são utilizados antibióticos. Essa classe de medicamentos surgiu há quase 100 anos, com a descoberta da penicilina, revolucionando a medicina e possibilitando o tratamento de infecções que antes podiam levar as vítimas a óbito.
Porém, o uso dos antibióticos também promoveu um desenvolvimento das bactérias, uma vez que a tendência natural de um organismo é modificar sua estrutura para poder sobreviver.
As bactérias possuem vários meios de se defender. Um deles é por meio de biofilmes, onde vivem agrupadas nessa estrutura que as protege. O antibiótico precisa adentrar essa estrutura para alcançar todas elas e eliminá-las.
As que estão mais “escondidas” no interior desse biofilme conseguem se proteger da ação do medicamento, já que recebem uma porção pequena dele.
Algumas também podem desenvolver uma cápsula protetora e uma membrana externa, que as protegem contra antibióticos ou mesmo contra a ação do sistema imunológico.
A resistência antibiótica diz respeito à capacidade das bactérias de sobreviverem à atuação de antibióticos, que, em tese, deveriam eliminá-las. Elas se tornam mais fortes e resistentes por sofrerem mutações, muitas vezes impulsionadas pelos próprios medicamentos.
As consequências da resistência antibiótica são inúmeras, já que ela pode prejudicar e até inviabilizar os tratamentos de doenças infecciosas, aumentando custos de saúde e exigindo novas pesquisas científicas para que novas terapias possam ser desenvolvidas. Por tudo isso, este é considerado um problema de saúde pública.
Geralmente, essa resistência é causada pelos próprios antibióticos, pois seu uso pode acarretar na mutação bacteriana.
Quando as bactérias entram em contato com esse tipo de medicamento, elas podem ser eliminadas ou ter sua multiplicação interrompida. Porém, pode também acontecer que esses organismos se modifiquem geneticamente e se multipliquem.
Mutações são normais para qualquer ser vivo, pois possibilitam a sobrevivência e a diversidade das espécies. Com as bactérias, essas mutações podem acontecer de forma muito rápida, já que as multiplicações também são rápidas.
Há algumas reações possíveis que tornam uma bactéria resistente a um antibiótico. Uma delas é por meio de enzimas que reconhecem os princípios ativos e os desativam. Outra forma é um mecanismo que ejeta o antibiótico para fora da bactéria antes que ele tenha efeito contra ela.
As paredes do microrganismo também podem se desenvolver mediante o contato com o medicamento, fortificando sua defesa natural e impedindo que o antibiótico acesse seu interior.
No caso de antibióticos que atuam interferindo no processo energético da bactéria, ele pode perder seu poder de ação por conta da mudança que a própria bactéria faz, alterando a forma que processa sua energia.
Todas essas medidas de resistência adotadas pelas bactérias são desencadeadas pelo próprio medicamento. Isso pode acontecer, por exemplo, quando a dosagem não é suficiente ou a fórmula do antibiótico não é adequada para aquele tipo de bactéria.
À medida que as bactérias vão se modificando geneticamente, vão surgindo as chamadas cepas, que são variações de um organismo, que vão se multiplicando e substituindo aquelas que não resistiram a ação medicamentosa e a do sistema imunológico.
Também pode haver trocas genéticas entre as bactérias, quando uma que já sofreu modificações passa essas “informações” para as que não sofreram, a fim de que todas consigam resistir ao medicamento.
Por isso, ao longo das últimas décadas, quanto mais antibióticos foram sendo desenvolvidos, mais as bactérias foram se modificando. Um ciclo se iniciou, pois as novas cepas tornam o medicamento anterior ineficiente, sendo necessário desenvolver uma nova versão, o que estimula uma próxima mutação bacteriana.
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Visto que os antibióticos são a principal causa da resistência das bactérias, é válido destacar o quanto é importante que seu uso seja feito com responsabilidade.
Quando mal administrados, eles podem não apenas causar efeitos colaterais a curto prazo, mas também estimularem a resistência bacteriana no organismo.
A dosagem correta, por exemplo, é fundamental que todo o grupo de bactérias que esteja causando uma infecção seja alcançado e eliminado. Se apenas algumas foram extinguidas, sobrarão as mais fortes ou as que conseguiram desenvolver alguma resistência. O tempo de tratamento também pode influenciar nisso, assim como o tipo de antibiótico usado.
O principal risco das mutações bacterianas que as tornam resistentes aos medicamentos é a inviabilização dos tratamentos já conhecidos. Médicos e pesquisadores precisam correr contra o tempo e desenvolver novos antibióticos que sejam capazes de atacar as novas cepas.
Enquanto isso não acontece, infecções e doenças podem surgir ou se agravar, e sem um medicamento adequado, elas podem ser perigosas para a população. Nesse contexto, podem surgir as chamadas superbactérias, presentes, por exemplo, em casos de infecções hospitalares.
Elas também podem criar variações de alguma doença. É o caso da supergonorreia, uma espécie de evolução da gonorreia, causada por superbactérias, que são resistentes aos antibióticos geralmente utilizados nesses casos.
Assim, novas pesquisas e investimentos são necessários para buscar um controle da patologia. Esse processo não é simples, e o relatório da OMS sobre a resistência antimicrobiana divulgado em 2022 aponta para as dificuldades na coleta e análise desses dados.
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A principal forma de evitar que ocorra a resistência antibiótica é por meio da administração correta dos medicamentos. Algumas formas são:
A resistência antibiótica é um problema muito sério que pode ter consequências graves. Ainda que seja uma questão a nível global, é importante que cada um faça sua parte, especialmente no que diz respeito ao uso dos medicamentos.
Sempre que houver dúvidas, converse com seu(a) médico(a) ou um(a) farmacêutico(a) de confiança.
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Rafaela Sarturi Sitiniki
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