A doença arterial periférica (DAP) é caracterizada pela isquemia, ou seja, diminuição ou obstrução dos vasos sanguíneos dos membros superiores e inferiores, podendo haver (ou não) presença de condições como aterosclerose e trombose.
A DAP pode variar em gravidade, apresentando diferentes sintomas, e seu tratamento geralmente envolve modificação dos fatores de risco, hábitos saudáveis e medicamentos para alívio dos sintomas.
As estimativas apontam que pelo menos 200 milhões de pessoas tenham DAP no mundo, números que tiveram um aumento de 25% desde o ano 2000. Atualmente, a DAP já é a terceira maior causa de óbito cardiovascular, ficando atrás da doença arterial coronariana (DAC) e do acidente vascular cerebral (AVC).
Com esses números, a doença passou a ser reconhecida como um problema de saúde global e que requer tratamento médico imediato e agressivo, com o intuito evitar complicações como declínio funcional dos membros ou, em casos mais extremos, amputação.
Continue lendo o artigo para saber mais sobre essa doença, seus sintomas, tratamentos e possíveis complicações.
Índice — Neste artigo, você irá encontrar:
Embora existam outras causas, a doença arterial periférica é geralmente provocada pela aterosclerose, que gera a obstrução das artérias e causa as principais apresentações clínicas da DAP: a claudicação intermitente e a isquemia crítica do membro, sintomas que explicamos melhor abaixo.
Essa condição, no entanto, é uma consequência do acúmulo de placas de gordura, colesterol e outras substâncias nas paredes das artérias. Com o tempo, esses locais podem desenvolver focos de inflamação que levam ao estreitamento progressivo dos vasos sanguíneos, piorando o quadro.
Predisposições genéticas também são facilitadores da aterosclerose e demais condições que causam DAP, mas outros fatores, tais como tabagismo, pressão alta (hipertensão arterial), colesterol elevado, diabetes, obesidade e estilo de vida sedentário, podem contribuir para o surgimento do problema.
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De modo geral, a doença tem maior incidência em pessoas acima de 55 anos e do sexo masculino, mas existem diversos fatores de risco para o surgimento de problemas como a aterosclerose e, consequentemente, para o desenvolvimento da doença arterial periférica.
A hipertensão arterial, que naturalmente sobrecarrega as paredes das artérias, é apontada como o principal fator de risco para a mortalidade envolvendo as complicações da DAP. A chamada “pressão alta” surge como uma das principais preocupações, uma vez que aproximadamente 50% dos pacientes com DAP são também hipertensos.
Os fatores de risco incluem ainda:
Estresse, altos níveis de homocisteína e baixos níveis de “colesterol bom” (lipoproteína de alta densidade, HDL) estão associados a diversos problemas cardiovasculares e podem ser considerados fatores de risco, embora as pesquisas ainda estejam esclarecendo as possíveis relações entre essas condições e a DAP.
É importante destacar que muitos desses problemas só são fatores de risco quando somados, pois geralmente são incapazes de criar um quadro de DAP sozinhos. Conforme essas possíveis causas se acumulam, aumenta a probabilidade de desenvolver os problemas cardiovasculares.
Alguns sintomas de doença arterial periférica podem indicar outros problemas cardiovasculares, como doença arterial coronariana (DAC), mas servem também como um alerta importante para procurar a ajuda de um(a) cardiologista.
No entanto, ainda que alguns sintomas sejam sinais clássicos, é importante apontar que cerca de 20% dos indivíduos com DAP são assintomáticos, o que dificulta o diagnóstico. Além disso, os sintomas podem variar de pessoa para pessoa, sendo necessário um(a) profissional de saúde qualificado para promover um diagnóstico preciso e prescrever as orientações mais adequadas.
Os principais sintomas de DAP são:
Embora seja um dos principais sintomas de DAP, a claudicação intermitente é observada em apenas 10% dos pacientes. Descrita como um tipo de dor incômoda e de forte intensidade, esse sintoma é semelhante à sensação de cãibra ou de queimação.
Os pacientes também podem relatar intenso desconforto ou uma sensação de peso nas pernas, que ocorre durante as movimentações, tais como caminhadas, e que melhora com o repouso.
A sensação é um dos principais sintomas de DAP e pode ocorrer em diversas partes dos membros periféricos inferiores, incluindo pés, panturrilhas, coxas, quadris, região glútea (bumbum) ou até mesmo membros superiores, como os braços.
Este é um sintoma que demanda tratamento imediato, principalmente por ser um fator associado à redução da capacidade funcional dos pacientes. A longo prazo, a claudicação intermitente pode causar redução da qualidade de vida, além de promover eventos cardiovasculares como infarto do miocárdio e AVC.
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A isquemia é uma condição que surge quando há redução ou interrupção do fluxo sanguíneo, problema que conduz à falta de oxigênio e de nutrientes nos tecidos e órgãos.
Quando mais grave, quadros como a isquemia aguda indicam a interrupção súbita do fluxo sanguíneo, geralmente devido a uma embolia ou trombose, embora outros fatores ou doenças possam estar envolvidos.
Se não for descoberta precocemente e tratada, a isquemia pode levar à lesão dos vasos e morte celular do tecido ao redor. Em quadros mais graves de DAP, podem surgir úlceras caracterizadas pela presença de necrose (gangrena seca), geralmente bastante dolorosas.
Em alguns casos, é possível que pacientes com DAP grave desenvolvam dor em repouso, contrariando um pouco o sintoma de claudicação intermitente, que melhora durante o descanso.
Essa dor é geralmente pior no sentido distal, o que significa que a sensação é mais intensa nas extremidades dos membros afetados. Além disso, os pacientes relatam um agravamento do sintoma no membro quando levantado, aliviando quando o membro é colocado abaixo do nível do coração.
Em casos de isquemia grave e persistente, os pacientes podem desenvolver dor ao longo da distribuição de um nervo sensorial periférico, sintoma que costuma ser descrito como uma sensação de formigamento, dormência ou queimação ao longo de toda a ramificação nervosa dos membros.
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A isquemia, quando somada ao sedentarismo, pode causar atrofia dos membros, uma vez que a falta de atividades físicas leva à perda de massa muscular, dificultando a reabilitação dos(as) pacientes após a reconstrução arterial.
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A impotência sexual pode ser um sintoma comum em pacientes com lesões oclusivas aorto-ilíacas, quadro caracterizado pela obstrução ou estreitamento significativo das artérias responsáveis por oxigenar os membros inferiores e a pelve.
A manifestação desse sintoma em conjunto com a claudicação intermitente dos membros inferiores e a ausência de pulsos femorais é interpretado como um indício da síndrome de Leriche.
A dificuldade de circulação que conduz à insuficiência arterial pode causar a sensação de que os pés frios, que pode vir acompanhado de queimação ou dor moderada nos pés e dedos. O sintoma é comum em pacientes diabéticos, que também podem relatar sinais de neuropatia periférica.
A anamnese, diálogo desenvolvido pelo(a) médico(a) durante a consulta, e um exame físico cuidadoso fazem parte da primeira fase de investigação dos sintomas.
No exame físico, é possível determinar, mesmo que aproximadamente, a localização do problema. É provável que o(a) cardiologista compare sensações e sintomas dos membros, avaliando se algum deles apresenta sintomas clássicos e que indiquem um possível quadro de DAP ou outra doença cardiovascular.
Durante a inspeção visual dos membros, o(a) profissional de saúde irá procurar por sinais que indiquem alterações na cor ou nas condições da pele (seca ou descamativa), buscando por sintomas de gangrena, ulceração, edema ou atrofia.
Ainda no exame clínico, poderá ser realizada a palpação e a aferição dos pulsos nas extremidades. Isso significa que serão avaliados os pulsos sanguíneos em diversas partes do corpo, pois a ausência ou diminuição dos valores em alguma região pode indicar a presença de obstruções arteriais.
Para realizar um diagnóstico mais profundo e preciso, serão solicitados exames complementares, como o índice tornozelo-braquial (ITB), uma medida não invasiva que compara as pressões arteriais do tornozelo e do braço. Esse tipo de rastreamento é indicado principalmente para pacientes acima de 50 anos com histórico de diabetes e/ou tabagismo.
A análise da saúde da pressão nas artérias braquiais e distais também pode ser realizada por meio de uma ultrassonografia duplex. O exame combina as informações do ultrassom convencional, com imagens em tempo real dos tecidos e órgãos internos, e a tecnologia Doppler, que fornece informações sobre o fluxo sanguíneo.
Dependendo dos sintomas, do local e do(a) profissional em questão, poderão ser solicitados outros exames como:
Em casos de tratamento cirúrgico, podem ser solicitados exames mais específicos, como a angiotomografia computadorizada (ATC) e a angioressonância magnética (ARM), que permitem um melhor detalhamento anatômico.
Os exames também podem ser úteis para encontrar outras comorbidades, como doenças renais e respiratórias, ou outros problemas cardiovasculares que podem afetar o tratamento da DAP.
De modo geral, não se fala em cura da doença arterial periférica. O tratamento, portanto, tem o intuito de reduzir ou controlar os sintomas que afetam o bem-estar dos pacientes, além de diminuir os riscos cardiovasculares, incluindo também o tratamento antiaterosclerose.
Para haver um tratamento completo e eficiente da DAP, é preciso aplicar uma estratégia multifatorial, ou seja, um tratamento que não vise apenas a solução da condição, mas também o controle dos sintomas, dos fatores de risco e a terapia para evitar complicações.
Para isso, é preciso realizar também o controle ou modificação dos fatores de risco, com alterações no estilo de vida que ajudem a reduzir a progressão da doença arterial periférica. Nesse sentido, o tratamento pode incluir recomendações como:
Essa parte do tratamento depende muito do engajamento do(a) paciente, que precisa mudar diversos hábitos e, se possível, procurar acompanhamento profissional para garantir os efeitos de atividades físicas e mudanças nutricionais, por exemplo. Paralelo a isso, o(a) cardiologista poderá recomendar outros tipos de tratamento:
A terapia antiplaquetária é realizada com medicamentos como clopidogrel ou ácido acetilsalicílico (aspirina), que têm eficiência comprovada na redução do risco de eventos isquêmicos em pacientes com DAP. Além disso, anti-hipertensivos e estatinas também costumam fazer parte do tratamento medicamentoso padrão.
Para controle da claudicação intermitente e da dor (ou desconforto) ao caminhar, utiliza-se pentoxifilina ou cilostazol, que atuam na melhorara do fluxo sanguíneo. Quando eficazes, esses fármacos também ajudam a ampliar o tempo ou a distância de caminhada dos pacientes.
A prática de exercícios físicos supervisionados também é bastante recomendada para alívio desses sintomas, trazendo considerável melhora na qualidade de vida dos pacientes.
Em quadros mais graves e complexos, podem ser necessários procedimentos um pouco mais invasivos ou até mesmo cirurgias.
A angioplastia transluminal percutânea (ATP), por exemplo, costuma ser aplicada quando a saúde dos membros está comprometida. O método consiste na utilização de um pequeno balão inflável (ou outro recurso mecânico) para dilatar as artérias e melhorar o fluxo sanguíneo local.
Já os processos cirúrgicos mais complexos são usados quando há necessidade de realizar uma resseção das placas de ateroma (remoção das placas de gordura) ou derivações arteriais (o chamado “bypass”, que cria um desvio em torno de uma artéria para restabelecer o fluxo sanguíneo adequado).
Por fim, recomenda-se que todos os pacientes com DAP mantenham a vacinação contra Influenza em dia, uma vez que o vírus da gripe pode causar complicações da DAP ou mesmo dar início a uma doença cardiovascular subjacente.
Atenção! Embora sejam conhecidos como “vasodilatadores”, medicamentos como os anti-histamínicos, indicados em casos de alergia, não mostraram eficácia no tratamento da claudicação ou da DAP. Não pratique automedicação e, caso se identifique com os sintomas apresentados neste texto, procure a opinião de um(a) cardiologista.
A doença arterial periférica é um problema cardiovascular com diversas causas e que indica obstrução total ou parcial dos vasos sanguíneos. O problema tem tratamento e requer mudanças de hábito por parte do paciente.
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Rafaela Sarturi Sitiniki
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