Para além de todas as discussões, uma coisa é verdade: nós, enquanto humanidade, estamos consumindo mais do que o planeta é capaz de produzir.
A cada ano, o chamado “Dia de Sobrecarga da Terra” (dia em que a humanidade consumiu todos os recursos naturais disponíveis) acontece mais cedo.
Em 2018, essa data foi o dia 1º de agosto e, se a humanidade não começar a fazer algo para reduzir o consumo excessivo, ao que tudo indica, em 2019, a data será já no mês julho.
Foi buscando um jeito de resolver essa e outras situações, como a fome e as mudanças climáticas, que um grupo de 37 pesquisadores desenvolveu um plano como uma “Dieta da saúde planetária”.
A dieta é resultado de um projeto de 3 anos que envolveu cientistas de 16 países e de diferentes campos de atuação, como saúde, agricultura, ciência política e sustentabilidade e foi publicada na revista The Lancet.
Os cientistas estabeleceram uma dieta ideal para uma pessoa saudável, com 2.500 calorias por dia, considerando a distribuição de comida existente entre os 7,7 bilhões de seres humanos na Terra.
O que exatamente é a Dieta da Saúde Planetária?
A Dieta da Saúde Planetária tem como objetivo permitir que a população cresça de maneira saudável, tanto para os seus indivíduos, suprindo as necessidades nutricionais de cada um, quanto para o planeta, garantindo que os recursos naturais sejam utilizados de maneira responsável e sustentável.
Outra ideia por trás da Dieta Planetária é diminuir a incidência de doenças crônicas, como a doença arterial coronária, AVC e diabetes.
Dessa forma, a dieta aponta para uma ingestão diária ideal de grãos integrais, vegetais ricos em amido, frutas, laticínios, proteínas, gorduras e açúcares, representando uma ingestão diária total de 2500 quilocalorias.
Na dieta planetária, as pessoas devem comer:
- 14g (30kcal por dia) de carne vermelha (incluindo carne de porco);
- 31g (120kcal por dia) de açúcar;
- 50g (39kcal por dia) de vegetais amiláceos (milho, batata, mandioca, ervilha, fava, etc);
- 51,8g (450kcal por dia) de gorduras (óleo de soja, manteiga, margarina etc);
- 195g (696kcal por dia) de aves, ovos, comida marinha e proteína vegetal;
- 200g (126kcal por dia) de frutas;
- 232g (811kcal por dia) de grãos integrais;
- 250g (153kcal por dia) de laticínios;
- 300g (78kcal por dia) de vegetais.
Os criadores da dieta reconhecem que adotá-la seria um grande desafio, especialmente porque a mudança deve ser drástica e a nível global.
Para isso, o consumo de alimentos como carne vermelha e açúcar precisa diminuir em pelo menos 50%, enquanto o consumo de nozes, frutas, vegetais e legumes precisaria mais do que dobrar.
Além disso, os pesquisadores consideram a ingestão de aproximadamente 2.5000 calorias por dia uma média saudável e sustentável.
Existe ainda o desafio das diferenças regionais. Por exemplo, países na América do Norte consomem quase 6 vezes mais carne vermelha do que o recomendado, enquanto países no sul da Ásia comem 1.5 vezes mais vegetais amiláceos.
Argumentos a favor da dieta da saúde planetária
Os argumentos a favor da adoção da dieta da saúde planetária se cercam nos benefícios para saúde e meio ambiente dessas mudanças.
Segundo os criadores, é preciso rever a maneira como nos relacionamos com a comida, pois até o ano de 2050, a população da terra vai passar os 10 bilhões de pessoas, que será insustentável se continuarmos a consumir alimentos da maneira que fazemos hoje.
Se a dieta fosse adotada hoje globalmente, 10.9 a 11.6 milhões de mortes prematuras poderiam ser evitadas todo ano, por conta da diminuição da ingestão de sódio e do aumento da ingestão de grãos integrais, nozes, vegetais e frutas.
Outro argumento a favor é a preservação do planeta Terra e o combate às mudanças climáticas, mais conhecidas pelo seu nome antigo “aquecimento global”.
O acordo de Paris, feito em 2015, busca limitar o aquecimento global a 2ºC. Para atingir esse objetivo, é necessário parar de usar combustíveis fósseis, como a gasolina e o carvão.
Entretanto, somente isso não vai ser o suficiente, pois grande parte das emissões de carbono e outros gases responsáveis pelo efeito estufa são provenientes do gado.
A pecuária, além de ter responsabilidade no desmatamento, utiliza-se de grande parte da soja produzida para alimentação das cabeças de gado.
Segundo a WWF (World Wide Fund for Nature), cerca de 79% da soja do mundo é utilizada para fazer ração animal, enquanto só 18% vai para a produção de óleo de soja.
Por isso, a medida que a demanda por carne aumenta, a demanda de soja também aumenta.
Tudo isso tem efeitos diretos sobre o meio ambiente e sobre as pessoas.
No Brasil, o desmatamento do Cerrado e da Floresta Amazônica tem efeitos diretos sobre o volume de água dos rios e aquíferos subterrâneos, bem como sobre a quantidade de chuva nos estados do Sul e Sudeste.
Caso o desmatamento continue a aumentar, é possível que, no futuro, as regiões Sul e Sudeste do Brasil entrem em processo de desertificação, o que pode gerar fluxos migratórios e desastres naturais de proporções nunca antes vistas.
Argumentos contrários à Dieta da Saúde Planetária
O principal argumento contrário à Dieta da Saúde Planetária diz respeito à ingestão de carne e à saúde individual.
As evidências de que o consumo de carne vermelha estão diretamente ligadas a doenças que causam morte prematura, como doença arterial coronária, não são tão fortes, pois é difícil separar o efeito independente que a carne tem sobre a saúde de um indivíduo.
As pessoas que comem carne vermelha também possuem diversos outros hábitos e escolhas alimentares que influenciam simultaneamente em sua saúde, o que torna os fatores um tanto quanto confusos.
Ainda assim, há uma área em que a ciência é mais clara: a ligação entre carnes processadas e os riscos para saúde.
Carnes processadas, como bacon, salsicha e mortadela, estão associadas a um maior risco de doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e câncer no intestino.
Mesmo assim, a Dieta da Saúde Planetária ainda é muito controversa, pois ela não necessariamente é ideal para todas as pessoas do mundo.
Por exemplo, ela sugere uma ingestão diária de leite e derivados, sendo que existem pessoas que precisam viver com dietas restritivas de laticínios, bem como pessoas alérgicas à lactose.
Com isso, a sugestão feita pelos cientistas conseguiu desagradar tanto pessoas que não comem nada de origem animal (veganos) quanto àquelas que fazem dietas focadas na ingestão de proteína animal.
Apesar de controversa, a Dieta da Saúde Planetária coloca em pauta questões importantes para o futuro da humanidade, como as mudanças climáticas e a influência das nossas escolhas alimentares no desmatamento e emissão de gases do efeito estufa.
Você é contra ou a favor de uma dieta para saúde planetária? Conte pra gente nos comentários!
Fonte: The Lancet