Popularmente chamada de barriga d’água, a ascite é o acúmulo de fluidos dentro da cavidade abdominal (barriga). Trata-se de um sinal que aponta para a possibilidade de doenças hepáticas, renais, cardíacas e até mesmo tumores.
Dependendo da quantidade de líquido, o indivíduo apresenta distensão abdominal, ou seja, sua barriga “cresce”, semelhante à maneira que a barriga de uma grávida aumenta de tamanho durante a gestação. O que há dentro da cavidade abdominal, no entanto, é um líquido que pode ter diversas origens: plasma sanguíneo, linfa, bile, suco pancreático e urina são apenas alguns exemplos do que pode ser encontrado na ascite.
A quantidade normal de líquidos dentro da cavidade abdominal, denominada peritônio, é nula. Ou seja, normalmente, não há nenhum líquido ali. Se, por conta de alguma doença, há extravasamento de líquidos para essa parte do corpo, o volume pode chegar até 25 litros!
É mais comum em pessoas com problemas no fígado, especialmente por conta de doenças como a cirrose, mas também pode acontecer como consequência de doenças em outros órgãos.
Nossos corpos são muito bem feitos. Tão bem feitos que existem diversos dutos e canais para a passagem de líquidos, a fim de evitar que eles simplesmente se acumulem em lugares indevidos. Então, se formos pensar que todos os vasos no nosso corpo se mantém fechadinhos e que o peritônio é pobre em fluidos, como é que algum líquido vai parar lá?
Pois bem, esse líquido encontrado na ascite vem justamente dos vasos sanguíneos que, por algum motivo, não conseguem manter o sangue ali dentro, levando a um vazamento para a cavidade abdominal. Isso pode acontecer por conta de:
Vale lembrar, no entanto, que mulheres em período menstrual podem sofrer com um leve acúmulo de líquidos no peritônio sem que haja qualquer doença causando isso. Em geral, a quantidade de líquido nesses casos fica entre 10 e 20 mL — o bastante para que seja percebido um pequeno inchaço, mas não o suficiente para indicar qualquer problema.
O aumento da pressão sanguínea nas veias que passam pelo peritônio, principalmente aquelas conhecidas como “sistema porta hepático”, gera uma dilatação desses vasos sanguíneos que, por sua vez, leva a um extravasamento de um líquido filtrado (soro).
Quando há um aumento de pressão nos vasos sanguíneos, o organismo libera substâncias que tentam manter essa pressão normal, ou seja, substâncias vasodilatadoras.
Se a hipertensão é no sistema porta hepático — o que é comum em doenças do fígado —, os vasodilatadores são liberados em grande quantidade, gerando uma dilatação geral de todos os vasos do organismo.
Desse modo, há uma queda na pressão sanguínea e os rins interpretam isso como uma falta de líquidos nos vasos. Por isso, ele começa a reter os líquidos e sais, que por sua vez extravasam pelas paredes dos vasos e se acumulam na cavidade abdominal.
Apesar de não parecer, nossos vasos sanguíneos são cheios de poros minúsculos pelos quais o sangue pode passar tranquilamente. Num geral, isso não acontece porque, na corrente sanguínea, há proteínas que “bloqueiam” esses poros, impedindo a saída do sangue. Uma dessas proteínas é a albumina.
Quando há perda dessas proteínas, os espaços dos poros ficam vazios, e o soro sanguíneo passa a sair dos vasos da mesma maneira que a água vaza em uma mangueira cheia de furinhos.
A ascite pode ser classificada de acordo com a sua gravidade, que geralmente se dá por conta do volume de fluidos na cavidade abdominal. Entenda:
Alguns dos motivos que levam ao extravasamento de líquido para o peritônio são:
No abdômen, existe uma veia que vai até o fígado chamada de Veia Portal. É uma veia de calibre grosso e que tende a ter uma pressão baixa normalmente. Quando, por algum motivo, há uma hipertensão nesse vaso sanguíneo, podem haver extravasamentos.
As causas para hipertensão portal são, geralmente, doenças hepáticas como a cirrose.
A presença de cicatrizes no fígado altera sua função, trazendo consequências para o fluxo sanguíneo. Há aumento da pressão hidrostática e níveis de água e sal, além da perda de proteínas. Assim, a cirrose é capaz de levar a quadros de ascite com volumes maiores que 10 litros!
Lembrando que a cirrose pode ser resultado tanto de hepatite viral quanto do abuso de bebidas alcoólicas. Além disso, a doença é responsável por cerca de 85% dos casos de ascite.
Na síndrome nefrótica, as unidades de filtração do sangue estão danificadas, deixando proteínas importantes para o os vasos sanguíneos passarem para a urina. Essa condição é facilmente detectável por meio da observação da urina, que se apresenta demasiadamente espumosa nesses casos.
A insuficiência cardíaca é uma condição na qual o coração não consegue bombear sangue o bastante para que o fluxo se estabeleça normalmente, o que pode levar a acúmulos de sangue nos vasos sanguíneos. Assim, há um aumento da pressão hidrostática nos vasos, que acaba extravasando líquidos.
Por conta das alterações hepáticas e digestivas que a pancreatite causa, os vasos sanguíneos do peritônio podem sofrer sobrecargas.
A esquistossomose é uma doença parasitária causada pelo Schistosoma mansoni. Enquanto a ascite é chamada de barriga d’água, a esquistossomose também é conhecida por esse nome, devido à distensão abdominal que a mesma causa.
Isso acontece porque o parasita costuma se alojar nas veias mesentéricas, justamente um dos maiores conjuntos de veias do peritônio. Esse alojamento causa uma obstrução que, consequentemente, termina em extravasamento.
A ascite também pode ser uma complicação de diversos tipos de câncer, especialmente quando as células crescem em direção ao peritônio. É mais frequente em casos de câncer de mama, cólon, ovário, pâncreas e colo do útero.
A ascite é classificada de acordo com a composição do líquido encontrado na cavidade peritoneal:
Na ascite transudativa, o líquido contém poucas proteínas, baixo DHL, pH elevado, glicose normal e menos de 1 leucócito por mil milímetros cúbicos. Isso significa que esse tipo de ascite é mais frequente em casos de cirrose e doenças hepáticas.
No exsudato, a quantidade de proteínas é elevada, com pH baixo, DHL alto, baixo nível de glicose e há a presença de mais leucócitos, indicando que a ascite foi causada por uma inflamação ao neoplasia.
Outras maneiras de classificar a ascite são:
Trata-se do acúmulo de linfa no abdômen, geralmente por uma obstrução das vias linfáticas.
É a ascite resultante de uma inflamação crônica no pâncreas.
Caracteriza-se pela presença de líquidos no abdômen do feto ou recém-nascido. Pode ser sinal de uma condição caracterizada pelo inchaço fetal dentro do útero denominada hidropsia fetal.
Por ser um sinal clínico de outras doenças, a ascite em si é uma espécie de sintoma. Ela é facilmente vista quando o indivíduo há um acúmulo muito grande ou o indivíduo é muito magro.
No entanto, quando o volume do líquido é muito pequeno ou a condição se dá em pessoas obesas nas quais a mudança é pouco perceptível, existem alguns sintomas que denunciam sua presença:
Quando a distensão abdominal é muito grande, o umbigo pode ficar “achatado” ou até mesmo “para fora”.
Além disso, dependendo da causa, a ascite costuma vir acompanhada de diversos sintomas hepáticos, como icterícia (cor amarelada), aumento do volume do fígado, circulação colateral na barriga, entre outros.
Assim como em humanos, a ascite em animais de estimação é resultado de falta de proteínas na corrente sanguínea, problemas no fígado, mal funcionamento cardíaco e, muitas vezes, pela presença de vermes e parasitas. Também pode ser o resultado de infecções, hemorragias internas e ruptura das vias urinárias.
Em geral, os donos só percebem a ascite nos animaizinhos quando a barriga já está bem grande. No hospital veterinário, o médico faz um exame clínico e uma ultrassonografia para verificar a presença de líquidos no abdômen. Caso haja confirmação, pode ser feita a retirada de uma amostra do líquido para descobrir e tratar a causa.
Para evitar a ascite em seu animalzinho, siga as dicas:
Na suspeita de ascite, o médico deverá realizar um exame físico para se certificar que se trata de uma acúmulo de líquido na cavidade abdominal. Isso pode ser feito por meio de palpação, ou seja, aplicar pancadas leves na barriga para verificar se há o som da propagação de ondas no abdome. Às vezes, quando o acúmulo é de menos de 1 litro, esse exame pode não apresentar qualquer alteração.
Outro exame que pode auxiliar na identificação de líquidos dentro da cavidade é o ultrassom, que utiliza ondas sonoras para criar imagens de dentro do corpo. Caso haja líquido, as imagens terão alterações características.
A fim de verificar possíveis causas do problema, o médico poderá pedir um hemograma completo, dosagem de eletrólitos — para verificar a quantidade de sais na corrente sanguínea —, enzimas hepáticas e provas de coagulação.
Esse método, além de servir como exame, também ajuda no tratamento do problema. Isso porque ele consiste na retirada do líquido ascítico para análise do seu conteúdo. Dependendo do que é encontrado (proteínas, células de defesa do organismo etc.), pode-se chegar mais perto de descobrir a causa da ascite.
Em geral, esse líquido deve ser amarelado transparente, parecido com a urina. No entanto, quando há alguma infecção, ele pode se apresentar turvo ou purulento. Em caso de câncer, pode haver sangue nesse líquido.
Por ser um sinal, não existem realmente uma cura para a ascite. Ela pode se resolver com a cura da doença subjacente, mas ela também pode voltar no caso de doenças crônicas ou que não respondem adequadamente ao tratamento.
Resumindo: a ascite, em si, tem cura, mas tende a voltar quando sua causa não é tratada.
O tratamento da ascite, em si, é feito por meio da paracentese, um procedimento de drenagem no qual uma punção no abdome é ligada, por meio de um catéter, à uma bolsa coletora.
Esse procedimento é simples e praticamente indolor, pois é feito com anestesia local.
No entanto, apenas retirar o líquido da cavidade abdominal não é o bastante para acabar com o problema visto que, caso a doença subjacente não seja tratada, é só uma questão de tempo para que a cavidade seja novamente preenchida com fluidos.
Deste modo, o tratamento pode variar muito dependendo da causa, mas a utilização de diuréticos é bastante recomendada enquanto busca-se a resolução do problema. A restrição do sal na alimentação também é benéfica, pois evita a elevação da quantidade de sal na circulação sanguínea.
Quando se trata de uma cirrose avançada, é provável que paracenteses sejam necessárias de tempos em tempos, pois não é mais possível corrigir o problema que causa a ascite. Nos casos de infecção, o paciente irá receber, no hospital, antibióticos para combater o microrganismo encontrado.
Os medicamentos recomendados para ascite são aqueles capazes de fazer uma espécie de drenagem dos líquidos em excesso do organismo, conhecidos como diuréticos. Alguns exemplos são:
Atenção!
NUNCA se automedique ou interrompa o uso de um medicamento sem antes consultar um médico. Somente ele poderá dizer qual medicamento, dosagem e duração do tratamento é o mais indicado para o seu caso em específico. As informações contidas neste site têm apenas a intenção de informar, não pretendendo, de forma alguma, substituir as orientações de um especialista ou servir como recomendação para qualquer tipo de tratamento. Siga sempre as instruções da bula e, se os sintomas persistirem, procure orientação médica ou farmacêutica.
Na natureza, existem algumas ervas e hortaliças com efeito diurético, ou seja, que ajudam a eliminar líquidos e impedem a retenção. Pessoas que sofrem com edemas e até mesmo com ascite podem se beneficiar de chás e outras receitas com essas plantas.
Vale lembrar que esses métodos podem ter vários efeitos colaterais e que não devem ser usados sem antes conversar com o seu médico, principalmente pelo risco de interações medicamentosas.
Além disso, uma concepção errada muito comum em relação aos chás diuréticos é que eles ajudam a emagrecer. De fato, com a eliminação de água do organismo, perde-se um pouco do peso e da “barriguinha inchada”.
No entanto, a maior parte destes chás não faz qualquer efeito nas gorduras, o verdadeiro vilão na hora de emagrecer. Alguns possuem substâncias que aceleram o metabolismo, favorecendo a queima de calorias e gastando a gordura acumulada, mas o emagrecimento só vem de fato quando o indivíduo empenha-se fazendo exercícios e se alimenta adequadamente.
Alguns chás e sucos com efeito diurético são:
A cavalinha é rica em potássio, flavonóides e silício. Essas substâncias estimulam a produção de colágeno, proteína responsável pela firmeza e elasticidade da pele. Assim sendo, além do efeito diurético, a cavalinha é indicada também no tratamento anticelulite.
Além do efeito diurético, o chá de hibisco também é rico em antioxidantes e substâncias que auxiliam na queima de gorduras.
A salsinha, um tempero muito popular e facilmente encontrado, possui um potente efeito diurético, além de ser rica em nutrientes como vitamina C, ferro e potássio.
Esses dois chás são ricos em substâncias que auxiliam no emagrecimento, além de uma grande quantidade de cafeína, substância com efeito diurético.
Por ser rico em potássio, o dente-de-leão é uma das plantas mais frequentemente utilizadas no tratamento de doenças renais e urinárias. Isso porque ela não diminui a concentração de potássio na corrente sanguínea, o que seria prejudicial para o corpo.
A cebola é uma hortaliça muito comum na culinária, visto que possui um sabor marcante muito usado como tempero na comida.
O que pouca gente sabe é que ela também tem poder diurético, em especial quando preparada na forma de suco, que aumenta a ingestão de água pelo organismo e favorece a micção.
Por conta da possibilidade de piora da ascite em razão do excesso de sal na corrente sanguínea, a dieta para o acúmulo de líquidos na barriga é baseada na restrição do sal. No entanto, para isso, não basta apenas parar de temperar os alimentos com sal. Existem diversas comidas que são fontes de sódio que o paciente deve evitar consumir.
Veja a tabela:
Tipos de alimentos | O que não comer: | Prefira: |
Carnes | Hambúrguer, quibe, nuggets, almôndegas, chouriço, carne seca (charque), carnes de feijoada, extratos e caldo de carne. | Patinho, coxão duro, coxão mole, alcatra, lagarto, músculo, maminha, lombo sem gordura. |
Aves | Patês de aves, extratos e caldo de galinha. | Frango, peru, chester (sem pele). |
Frutos do mar | Sardinha, atum,aliche, anchova, camarão seco, peixe defumado, bacalhau salgado. | Pescada, merluza, badejo, sardinha etc., sem pele e frescos. |
Leites e derivados | Leite e iogurte integral, leite em pó, queijos amarelos, queijos cremosos, margarina ou manteiga com sal. | Leite e iogurte desnatados, ricota sem sal, margarina sem sal. |
Fritos e embutidos | Salame, linguiça, salsicha, mortadela, presunto gordo, apresuntado. | Nada. |
Temperos | Temperos prontos, amaciantes para carne, glutamato monossódico (aji-no-moto), mostarda, catchup, molho de soja (shoyu), molho inglês, missô (sopa de soja), maionese, molhos para salada, sal marinho, sal light, sal grosso. | Alho, alho poró, cebola, cheiro verde, raiz forte, kummel, manjericão, louro, sálvia, orégano, gergelim, estragão, manjerona, endro, alfavaca, tomilho, páprica, hortelã, colorau, erva-doce, alecrim, noz-moscada, coentro, açafrão, gengibre, azeite de oliva, semente de mostarda seca. |
Bebidas | Refrigerantes normais, diet e light, bebidas energéticas e esportivas, sucos artificiais, bebidas alcoólicas, suco de tomate. | Água, suco de frutas naturais, chás. |
Conservados | Picles, azeitona, chucrute, aspargos, palmito, ervilha, milho verde, alcaparra, seleta de legumes, extrato de molho de tomate. | Picles sem sal, conservas caseiras sem sal. |
Diversos | Sopas desidratadas ou enlatadas, salgadinhos, aperitivos tipo amendoim, castanha de caju, batata frita etc., salgados de lanchonete, bolacha água e sal, biscoito de polvilho salgado, pão de queijo, massas com recheio, pizza, adoçantes a base de sódio, pipoca com sal. | Frutas, verduras, legumes, pipoca sem sal, massas tipo espaguete. |
Cuidado com os medicamentos também, que podem ser fontes ocultas de sódio. Um exemplo é a dipirona sódica, medicamento analgésico frequentemente usado em resfriados.
Quando não tratada, a ascite pode trazer algumas complicações graves. São elas:
Fluidos acumulados são sempre um bom lugar para a proliferação de bactérias. Quando as bactérias presentes no intestino — benéficas para ele, mas ruins para o resto do corpo — encontram o caminho até a cavidade peritoneal, dá margem para peritonite bacteriana espontânea, ou seja, infecção do peritônio por bactérias já presentes no corpo.
Caso isso não seja resolvido brevemente, essas bactérias podem entrar em contato com a corrente sanguínea e serem levadas para o corpo inteiro, dando origem à sepse: uma infecção generalizada altamente fatal.
Doenças no fígado frequentemente alteram a função do órgão, que deveria eliminar os produtos tóxicos da alimentação. Quando ele falha nisso, essas toxinas passam a circular pela corrente sanguínea e atingem o sistema nervoso central, podendo levar à confusão mental e coma.
A ascite, em si, não é capaz de matar, pois é apenas um acúmulo anormal de líquidos na região abdominal. No entanto, as doenças que causam esse sinal podem facilmente levar à morte. Além disso, caso não haja o tratamento de complicações como infecções, a possibilidade de morte aumenta.
Não existe uma maneira exata de se prevenir a ascite, apenas as doenças que a desencadeiam. Algumas dicas para isso são:
Embora tenha uma aparência preocupante, pouca gente entende o que é a ascite e seus desdobramentos. Por isso, compartilhe este texto para que mais pessoas tenham acesso à essa informação!
Rafaela Sarturi Sitiniki
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